POLI 130 ANOS

Tradição e modernidade

Especial 130 anos

Entenda como uma reivindicação do Grêmio Politécnico mobilizou universitários de todo Brasil em 1950

“O Grêmio Politécnico é pioneiro em organização política de estudantes no Brasil”, conta Arthur Whyte Ferreira, estudante de história da USP que atua no Arquivo Histórico da Poli. Criada em 1º de setembro de 1903, após 10 anos da fundação da Escola Politécnica da USP, a entidade de representação estudantil completa 120 anos em 2023. Entre diversas realizações, um episódio ao longo de sua atuação se destacou: O Grêmio Politécnico foi responsável pela mobilização de estudantes por todo País no ano de 1954. 

 

“Estão em greve os estudantes de engenharia, desde o dia primeiro último, num outro capítulo da crise que foi provocada pelo choque entre a direção da Escola e o Grêmio representativo dos alunos”, escreveu o Jornal Diário da Noite, em setembro de 1954. “Os universitários da Escola Politécnica querem que o Conselho Técnico Administrativo volte atrás e reconheça novamente o diretório do Grêmio’’, continua a matéria. Tais registros fazem referência ao acontecimento que fez com que o Grêmio perdesse sua formalidade perante a Instituição em razão de divergências. Luiz Antônio Melo, diretor acadêmico do Grêmio, entende que observar o papel histórico que a entidade desempenhou ao longo de vários anos é, para todos nós, combustível para seguirmos lutando em busca de uma Poli mais inclusiva, mais acolhedora e que consiga cumprir com êxito o seu papel institucional.

Conforme processo registrado no Arquivo Histórico da Poli, nos anos 1950, um dos catedráticos da Poli teve  um desentendimento com um professor de menor nível hierárquico, que ocupava a cadeira de Topografia. Por ter autonomia de decisão sem necessidade de aprovação da  diretoria, o catedrático escolheu demitir o colega de trabalho. Até 1968, o cargo de professor catedrático era o mais alto na carreira docente, o que mudou após a reforma universitária, durante a ditadura militar. “Quando as universidades foram criadas, na Idade Média, o professor detentor do conhecimento sentava-se numa cadeira de espaldar alto, em um plano elevado. Foi graças a essa cadeira – cathedra, em latim – que surgiu a figura do ‘catedrático’, o patamar mais alto da carreira docente universitária”, explica Marcello Rollemberg, Diretor de Redação do Jornal da USP, na Revista Espaço Aberto. 

Após a demissão, o catedrático indicou seu filho para ocupar o lugar do professor demitido. O acontecimento gerou uma crise entre os alunos, que discordaram da atitude tomada. Os estudantes alegaram fraude no concurso aberto pela Reitoria e exercício de nepotismo. A diretoria da Poli posicionou-se em favor do catedrático e, no dia 25 de maio de 1954, a gestão do Grêmio da época deixou de ser reconhecida formalmente. “A direção da Escola simplesmente ignora a existência da diretoria do Centro Acadêmico”, escreveu o Diário da Noite na ocasião. Antes disso, as relações entre o Grêmio e a diretoria da Escola já estavam estremecidas por uma série de campanhas em defesa dos interesses dos alunos. 

 

 

 A decisão desencadeou uma greve na Escola, os alunos chumbaram as portas e impediram que as pessoas entrassem nos prédios. O levante não ficou restrito apenas à Escola Politécnica. “Já hipotecaram solidariedade aos estudantes politécnicos seus colegas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e os presidentes dos Grêmios da Universidade Mackenzie e das Faculdades de Arquitetura e de Odontologia”, registrou o Jornal O Estado de São Paulo.

“Não são só os 20 centavos” 

 

 “Na reunião do Conselho de Presidentes da União Estadual de Estudantes, a realizar-se hoje, às 21 horas, no Mackenzie, os universitários da Escola Politécnica solicitarão a greve de solidariedade de todos os estudantes paulistas, se o conselho universitário não decidir, na próxima sessão, o caso do Grêmio Politécnico”. Aos poucos, as universidades paulistas e outras do Brasil aderiram ao movimento. “A greve tomou uma proporção gigantesca, cada instituto tinha sua própria demanda e foi um gatilho para uma paralisação estudantil em nível maior”, explica Victor Vinicius Ferreira, estudante de história da USP que atua no Arquivo Histórico da Poli.

 

Por fim, a União Nacional dos Estudantes (UNE) decretou uma greve de advertência de cinco dias, tornando então a greve nacional. Com a proporção tomada e a imprensa cobrindo os acontecimentos, criou-se uma pressão e o Grêmio Politécnico voltou a ser reconhecido. 

Após a demissão, o catedrático indicou seu filho para ocupar o lugar do professor demitido. O acontecimento gerou uma crise entre os alunos, que discordaram da atitude tomada. Os estudantes alegaram fraude no concurso aberto pela Reitoria e exercício de nepotismo. A diretoria da Poli posicionou-se em favor do catedrático e, no dia 25 de maio de 1954, a gestão do Grêmio da época deixou de ser reconhecida formalmente. “A direção da Escola simplesmente ignora a existência da diretoria do Centro Acadêmico”, escreveu o Diário da Noite na ocasião. Antes disso, as relações entre o Grêmio e a diretoria da Escola já estavam estremecidas por uma série de campanhas em defesa dos interesses dos alunos. 

 

 

Atuação do Grêmio Politécnico

 

 

Carolina Mendes Espósito, que preside o Grêmio, conta que ao longo dos 120 anos de história, a entidade lutou contra a ditadura militar, participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932, contribuiu na fundação de outras entidades acadêmicas e na fundação da própria USP, além dos frequentes projetos e eventos de cunho social, acadêmico, cultural e profissional. “É com esses firmes alicerces que o Grêmio Politécnico continua no cumprimento de sua missão, olhando para o retrovisor orgulhosamente, mas sem deixar de pensar em construir um amanhã cada vez melhor”, complementa o diretor acadêmico do Grêmio.

 

Hoje, o Grêmio administra 3 empresas. O Poliglota Idiomas oferece cursos de alemão, espanhol, francês, italiano, inglês e português, tanto para alunos da USP, quanto para a comunidade externa. O Triedro, além de espaço de convivência dos alunos, é a lanchonete localizada no prédio do Biênio. Por último, a Copiadora Politécnica, que oferece preços mais acessíveis aos alunos para impressão e cópia de materiais para a graduação. 

 

Os fundos dos empreendimentos geridos são convertidos em bolsas de auxílio e contribuem para a permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade econômica. Promoção de eventos acadêmicos e a atuação conjunta à Comissão de Saúde Mental da Poli também são financiadas pelos rendimentos.  Além disso, o grupo de representação dos estudantes também dirige um cursinho pré-vestibular popular que oferece capacitação aos alunos de baixa renda, para que assim tenham mais oportunidades de ingresso nas universidades públicas. 

 

Agora com mais de um centenário de existência, os membros da entidade parecem comprometidos a seguir com a contribuição histórica junto a Comunidade Politécnica. “É extremamente animador imaginar tudo o que está por vir e contribuir para a criação das iniciativas, dos projetos e dos eventos que estão sendo construídos para os próximos 10, 50 e 120 anos da entidade!”, finaliza a presidente Carolina Mendes. 

Escola Politécnica
Universidade de São Paulo

Expediente

Reitor: Carlos Gilberto Carlotti Junior
Vice-reitor: Maria Arminda do Nascimento Arruda
Escola Politécnica da USP
Diretor: Reinaldo Giudici
Vice-diretor: Sílvio Ikuyo Nabeta

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