8 de março de 2022 – Desde 2018, a Escola Politécnica da USP tem realizado atividades no dia 8 de março, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. Neste ano, a diretoria da Poli e organizações de estudantes e engenheiras formadas optaram por concentrar os seus esforços em receber as calouras, que ingressam na Escola em março de 2022, em um contexto de retomada das atividades presenciais da Universidade.

Além de um evento online de recepção, a equipe coordenou uma reportagem especial, voltada principalmente a inspirar e apresentar diferentes perspectivas para as meninas e mulheres interessadas em seguir as carreiras de STEM, sigla para sigla em inglês para “Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática”. Conheça abaixo trajetória de alunas e profissionais formadas na Poli, e suas visões sobre a engenharia e suas carreiras. 

Engenheiras Politécnicas

Adriana Kazan

Adriana Kazan

Curso: Engenharia Civil

Ano de formação: 2003

Área de atuação: Logística

Escolhi estudar engenharia para aprender a resolver problemas complexos, mas ganhei muito mais que isso. A engenharia ampliou meus horizontes e me ensinou que não existe problema sem solução. Fico super realizada quando meus colegas dizem me enxergar como aquela que resolve qualquer coisa, ou quando pedem pra eu participar de uma conversa pra trazer uma visão diferente pra discussão. As engenheiras trazem capricho, sensibilidade e atenção a detalhes para a profissão, sem deixar a desejar na capacidade técnica. Os desafios que as mulheres precisam enfrentar para seguir em frente nesta profissão servem para torná-las ainda mais competentes, seguras e livres!

Marcelle Herescu

Marcelle Herescu

Curso: Engenharia de Materiais

Ano de formação: 2017

Área de atuação: Engenharia de Software

A engenharia te permite criar, melhorar e imaginar. Ser mulher engenheira é ainda mudar paradigmas, superar desafios, questionar o status quo e quebrar barreiras. É correr atrás do que se deseja e moldar seu futuro. É mostrar o resultado positivo que a diversidade traz. Fui a primeira mulher em quase 60 anos de fábrica de uma multinacional metalúrgica a ser líder de produção e isso fez outras mulheres verem que é possível, ela também pode chegar lá. Inspirar mais mulheres a seguirem a carreira dos seus sonhos é muito gratificante.

Marly Monteiro de Carvalho

Curso: Engenharia de Produção Mecânica

Ano de formação: 1987

Área de atuação: Professora Titular do Departamento de Engenharia de Produção (PRO) da Poli-USP.

O desequilíbrio de gênero afeta as mulheres engenheiras no Brasil. O fato é que a diversidade de identidade e expressão de gênero, de raça e socioeconômica ainda é uma meta a ser atingida nas engenharias. Mas começamos a mudar essa realidade!

Afinal, o que sempre me motivou na engenharia é a capacidade de transformar conhecimento em soluções que contribuam para o desenvolvimento humano. Engenharia é conhecimento convertido em ação e solução de problemas.

As questões cruciais de engenharia devem ser analisadas por diferentes prismas, trazendo a complexidade das diferenças para os times de projeto. Assim, o olhar da mulher é fundamental para compor o mosaico de soluções de engenharia.

No nosso grupo de pesquisa em Inovação e Sustentabilidade, que está entre os de maior impacto, valorizamos a contribuição da mulher e a diversidade. Como fazer inovação de modelos de negócio sem ter esse olhar? Não projetamos para grupos e sim para a sociedade. Assim as soluções de sustentabilidade e economia circular devem olhar para a questão das mulheres, da base da pirâmide e da desigualdade, visando uma sociedade mais inclusiva. Como fazer isso sem engenheiras? Nossa lente é fundamental nos projetos de engenharia.

Leticia Rubinstein Cavalcanti

Leticia Rubinstein Cavalcanti

Curso: Engenharia Mecânica

Ano de formação: 2018

Área de atuação: Consultoria estratégica/M&A

A Engenharia, em especial a forma como a POLI forma seus engenheiros e engenheiras, me ensinou acima de tudo três lições que, eu acredito, serem a base para o início de qualquer carreira: (1) Conseguir quebrar grandes desafios em problemas menores e mais tangíveis de serem solucionados, até que juntos somem a solução final; (2) Ser sempre pró-ativa em buscar soluções, no trabalho e na vida pessoal, e não apenas uma, mas alternativas para que seja possível escolher a solução ótima e (3) Entender a importância de trabalhar em equipe, principalmente com áreas diversas, e com pessoas com backgrounds diversos, que agregam muito ao conhecimento da Engenharia.

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Anna Reali

Curso: Engenharia Elétrica

Ano de formação: 1983

Área de atuação: Professora titular do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Poli-USP

No constante apoio e incentivo de meu pai e na admiração que nutro por meus tios engenheiros, achei natural optar por um curso de Engenharia Elétrica no final dos anos 70. Havia feito um curso técnico em Eletrônica no ensino médio e, apesar de ser a única menina em uma classe de 40 alunos, nunca me senti como não-pertencente àquele ambiente. Ao me formar, busquei o mercado de trabalho e foi aí a primeira rejeição, quando um recrutador me excluiu por afirmar que uma mulher jovem teria dificuldades em liderança e que meus futuros filhos atrapalhariam a carreira. Não desanimei, apesar de indignada e sentindo-me desafiada. Busquei um novo mercado que estava em explosão no início dos anos 80: a automação bancária. A automação me introduziu a Inteligência Artificial e a certeza de que era essa a minha paixão. Assim, parti em meados dos anos 80 para estudos no exterior. Abracei a docência e a pesquisa na USP, no Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais, após meu doutoramento. Sou professora titular, fui coordenadora de Programa de Pós-Graduação e Chefe do meu Departamento. Gosto muito do meu trabalho e, com meu percurso, espero incentivar as jovens alunas e engenheiras para terem prazer e sucesso em suas carreiras.

Verena Fernandes

Verena Fernandes

Curso: Engenharia Civil

Ano de formação: 2019

Área de atuação: setor público, na Inglaterra, em projetos e planejamento de vias, pavimentos e drenagem urbana

Ser engenheira é um grande orgulho e uma conquista para mim, me sinto uma profissional reconhecida e me sinto grata por ter escolhido esta carreira, por me identificar com as ambições de construir Infraestrutura sustentável e de menor impacto no futuro. 

Acredito que meu maior feito foi ter conseguido fazer a movimentação profissional de emigrar para a Inglaterra após me formar. Eu tive uma oportunidade de ingressar no setor público no Reino Unido, numa equipe de engenharia dentro do Wokingham Borough Council, que é uma autoridade de administração local. No meu trabalho, eu executo tarefas diversas, desde o design e cálculo de pavimentos, especificações para manutenção de vias, cálculo e especificação para drenagem urbana, modelagem computacional de vias e drenagem, promoção de licitações de obras públicas, coordenação de empreiteiras e consultores especialistas, entre outras.

Para mim, a engenharia é uma profissão extremamente versátil e estimulante. Isso é o que mais gosto da profissão: o fato de me sentir muito adaptável.

Gabriela Menin

Gabriela Menin

Curso: Engenharia Civil

Ano de formação: 2019

Área de atuação: Startup setor imobiliário

Estudar na Poli me abriu um mundo de possibilidades no mercado de trabalho. Comecei estagiando em uma construtora tradicional, migrei para uma empresa gigante de consultoria e me encontrei no mundo das startups.

Minha maior contribuição até o momento foi ter ouvido da minha equipe que sou inspiração enquanto liderança feminina, é muito bom poder contar com o respeito que a Poli traz na nossa formação para conquistar nosso espaço tão merecido na liderança de grandes empresas.

O que eu mais gosto hoje na minha profissão é a autonomia de tomada de decisão que faz diferença no produto final que a gente entrega. Fico feliz em ter essa confiança no meu trabalho mesmo com pouco tempo de formada.

Escolhi ser engenheira pela afinidade com as ciências exatas e o amor por construir coisas do zero. Acertei em cheio! A Poli foi uma experiência incrível que guardo com todo carinho do mundo. Fui totalmente transformada enquanto pessoa, cidadã e é claro, profissional.

Júlia Guimarães Sanches

Júlia Guimarães Sanches

Curso: Engenharia de Minas

Ano de formação: 2020

Área de atuação: pesquisadora, mestranda em dedicação exclusiva no Laboratório de Tratamento de Minérios e Resíduos Industriais 

(LTM) no Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo (PMI) da Poli-USP.

Eu estudei em escola pública a vida toda e fui medalhista em olimpíada de matemática por alguns anos seguidos quando estava no ensino fundamental e médio. Por anos, portanto, as mulheres que me inspiraram foram as grandes cientistas como a Marie Curie, mas também tive mulheres professoras em minha vida que me inspiraram e me incentivaram como a minha mãe (professora de História em escola estadual) e a Andreia, uma mulher preta inteligentíssima que me deu aula de matemática no ensino médio e me incentivou muuito na carreira de exatas. Quando eu já estava na graduação, as mulheres que me inspiraram imensamente foram as professoras aqui do departamento de engenharia de minas, que são mulheres fortíssimas e que batalharam bastante para hoje serem reconhecidas na mineração. Além delas, ter uma diretorA na Poli por alguns anos da minha graduação, ajudou para que eu nunca desistisse do meu sonho de ser uma engenheira de sucesso.

Como eu citei anteriormente, eu fazia muitas olimpíadas de matemática, então eu sempre gostei muito de exatas. Por alguns anos eu dizia que gostaria de fazer matemática. Mas, durante o ensino médio, eu fiz curso técnico em mecatrônica e me apaixonei por exatas aplicadas, a ideia de inventar, inovar, construir e projetar coisas me encantou e foi quando decidi fazer engenharia. Minha primeira opção de curso era engenharia mecânica, mas quando eu entrei na Poli e conheci a engenharia de minas, eu me apaixonei completamente pela área. Estagiei em uma consultoria de mineração, sempre na área da engenharia, e me encantei ainda mais por resolver problemas e ter uma visão criativa dos assuntos. Quando eu estava prestes a colar grau, meu orientador me chamou para ser pesquisadora com ele aqui no laboratório e eu troquei o escritório pelo laboratório com muita alegria. Desde sempre eu quis ser cientista, independente da área escolhida, queria muito fazer mestrado e doutorado. Hoje sou muito realizada em dizer que sou engenheira E cientista pela Escola Politécnica da USP. A luta pela valorização da ciência é diária, claro, mas seguir trabalhando, estudando e evoluindo a minha área faz com que tudo seja recompensado. Seguir a  minha pesquisa, aprender, inventar, inovar e engenhar me fazem uma profissional com sede de evoluir e me tornar cada dia uma engenheira melhor, colaborando com o futuro tecnológico do meu país. É satisfatório cada etapa concluída da pesquisa científica na engenharia porque você cria conhecimentos que serão utilizados na indústria, mesmo que indiretamente, e que podem ajudar o mundo de forma sustentável, como a engenharia deve ser.

Quando eu entrei na Poli, em 2014, as lutas por pertencimento ainda eram tímidas e os homens brancos ainda dominavam todos os espaços da Poli. Depois de alguns anos de luta, hoje eu tenho orgulho de ver os centros acadêmicos sendo liderados por mulheres, com participação das mulheres pretas, e de entender que todas as batalhas que traçamos até aqui não foram em vão, já que hoje (apesar da luta continuar diariamente) as meninas têm mais voz e poderem nos ver como exemplos para elas. Outra face importante do pertencimento é poder repassar todo o conhecimento e determinação que aprendi aqui na Poli. Sou professora em um cursinho popular e me alegra muito ver as meninas acreditando mais no potencial delas quando olham pra mim, mulher engenheira. 

Apesar de muitas pessoas terem me desincentivado durante minha trajetória por eu ser mulher, por eu ser preta e por eu ser de escola pública, foram meu amor pela engenharia e também pela mineração que me deram forças para que eu chegasse aqui. E ainda temos muito mais lutas pela frente, para que possamos deixar um espaço para as futuras engenheiras atuar, assim como meus exemplos deixaram para mim.

Alunas Politécnicas

Laura Amorim

Laura Amorim

Curso: Engenharia Naval

Ano: 3°

Profissional que me inspira: Sônia Guimarães

Cidade: São Paulo – SP

 

As ciências exatas sempre me chamaram muita atenção, mas, quando criança, eu nem imaginava que um dia eu iria cursar engenharia, até que no ensino médio fiz um curso técnico de mecânica e assim descobri que queria continuar nessa área. Foi nesse contexto que eu encontrei a Engenharia Naval, que me chamou atenção por ser um curso que proporciona a integração de diversas áreas visando a elaboração e solução de sistemas complexos. Minha maior motivação para seguir carreira na Naval é a variedade de opções de atuação, que não se limita a construção naval, e inclui, por exemplo, o gerenciamento de transportes e projetos de sistemas oceânicos.

Caroline Balluf

Caroline Balluf

Curso: Engenharia Ambiental

Ano: 6º

Profissional que te inspira: Juliana Azevedo, ex-aluna politécnica e CEO da P&G no Brasil, porque ela construiu sua carreira de estagiária a CEO na mesma empresa – algo que é muito raro de acontecer atualmente

Cidade: São Paulo – SP

Eu decidi que queria cursar engenharia ambiental quando eu tinha só 14 anos, quando eu ainda era super nova. A escolha veio do fato de eu acreditar desde sempre que o desenvolvimento sustentável é essencial para que exista planeta Terra para as gerações seguintes à minha – e como a engenharia é instrumento de transformação, não tive dúvidas de que esse era o caminho que eu queria seguir para atingir esse objetivo. Acabei indo para um caminho um pouco diferente da área ambiental e hoje atuo na área de dados, mas o que continua me inspirando na engenharia é o exercício diário da capacidade de resolução de problemas que tanto aprendemos ao longo do curso e que é essencial para trazer inovação para os mais diversos setores.

Luciana Monsynhatti Lima

Curso: Engenharia de Produção 

Ano: 4º

Profissional que te inspira: Nathália Rodrigues (Nath finanças) 

Cidade: São Paulo – SP

Quando somos crianças e perguntam o que vamos ser quando crescermos, minha resposta era “importante”, e isso cresceu comigo. Fazer engenharia é receber o conhecimento para que eu, dentro de diversas possibilidades, consiga deixar minha marca para um mundo melhor. 

Escolhi engenharia porque com ela posso empreender e atuar nos ramos que o mercado ainda não está dando a devida atenção, posso alcançar empresas grandes e trazer para elas visões e conceitos que aprendi e vivi, entre outras possibilidades incríveis.

Fazer a diferença e ser de fato importante na realidade em que eu estiver inserida é o que mais me motiva a me formar uma engenheira, atuar com isso e deixar minha marca no mundo.

Mariluce Pereira De jesus

Mariluce Pereira De jesus

Curso: Engenharia Elétrica

Ano: 3º

Profissional que te inspira: Marian Croak

Cidade: Virgem da Lapa – MG

O que me levou a estudar engenharia é o contato direto que como engenheira posso ter com a tecnologia e a inovação. Das habilidades de uma engenheira as que mais gosto de desenvolver são liderança, comunicação, lógica e criatividade. Já sobre minha maior motivação para trabalhar na área, além de ser apaixonada pelo que faço, vem do fato de que historicamente as mulheres da minha família trabalham em serviços domésticos e eu ironicamente não quis seguir este dilema. Quero ser um ponto de luz para as mulheres das próximas gerações: uma engenheira de referência.

Beatriz Bicudo

Beatriz Bicudo

Curso: Engenharia Elétrica com ênfase em Energia e Automação Elétricas

Ano: 4º

Profissional que te inspira: Profª. Liedi Bernucci, Edith Clarke e Marie Curie

Cidade: São Paulo – SP

Ao longo de toda a minha vida, tive muito interesse pela Matemática e naturalmente, com o passar dos estudos, o contato com a Física e a Química também me encantou. Vejo a Engenharia como uma forma completa e inteligente de resolução de problemas a partir da união principalmente dessas três grandes áreas, mas sem deixarmos de lado a Ética e a responsabilidade social de nosso trabalho. O que também acho muito bonito na prática da Engenharia é como ela aparece naturalmente nas mais diversas áreas, como foi o caso do enfrentamento da pandemia da Covid-19 com projetos como o Inspire, que salvou inúmeras vidas.

E com relação ao futuro tenho esperança sobre a prática da profissão no sentido que cada vez mais as e os profissionais possam entender que a nossa responsabilidade é imensa ao solucionarmos questões reais e cotidianas que aparentemente nos são apresentadas como técnicas. Devemos pensar sempre no impacto do nosso trabalho e em como colaborarmos para um todo melhor.

Deise Carbonaro

Curso: Engenharia Química

Ano: 3º

Profissional que te inspira: Enedina Alves Marques

Cidade: São Paulo – SP

Minhas principais motivações para estudar engenharia, foi por sempre gostar das disciplinas de exatas, no sentido de nelas existir apenas uma resposta correta, o que difere bastante de humanas. Além disso, a engenharia é muito ampla, e é notável que quem segue em cursos do ramo trabalha em diversas áreas do mercado de trabalho.

 

A meu ver, a parte mais interessante em atuar como engenheira, é a possibilidade de impacto social que ela permite realizar, além de que, com a diversificação do perfil de quem faz engenharia, a área tende a ter novas perspectivas sobre problemas da sociedade que até então eram pensados por um único perfil, o que tende a agregar para soluções com mais impacto social.

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