Escola Politécnica

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A Escola Politécnica lançou a semente para criar uma cultura de filantropia educacional no Brasil. Está em funcionamento um fundo endowment com o objetivo de captar doações para a Escola. A estratégia, já adotada por universidades como Harvard e Oxford, visa garantir a excelência do ensino e da pesquisa no longo prazo.

A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) acaba de criar um endowment para diminuir a dependência de uma fonte única de recursos. Este fundo patrimonial, baseado em doações de pessoas físicas e jurídicas, visa gerar recursos perenes para a Escola, de forma que se possa fazer retiradas regulares e previsíveis para investir em projetos de ensino e pesquisa. 

O endowment da Poli tem uma estrutura similar aos de outras universidades estrangeiras, a exemplo de Harvard, cujo fundo gera cerca de US$ 1,4 bilhão por ano em recursos extras para o funcionamento da universidade. Lá, as doações são angariadas entre alunos, ex-alunos, pais, docentes e empresários. O dinheiro arrecadado é gerido por administradores que o aplicam no mercado financeiro, em renda fixa e variável. O sistema conta ainda com auditores externos para garantir a transparência. Na Poli, a gestão dos gastos ficará a cargo da Diretoria da Escola e do Grêmio Politécnico que, em comum acordo, definirão quais projetos serão beneficiados com o dinheiro. 

“Trata-se do primeiro fundo endowment de uma escola pública brasileira, que está sendo construído de forma cuidadosa para que os pilares da Universidade e da Escola continuem a ser protegidos e prestigiados”, afirma o diretor da Poli, prof. José Roberto Cardoso. Ele lembra que, mesmo em uma época de bom desempenho do ICMS, a USP destina algo em torno de 80% de seu orçamento para a folha de pagamentos. “A regra geral é que sobra muito pouco para o investimento em infraestrutura, renovação de equipamentos, aquisição de tecnologia, acervos bibliográficos, e para o apoio financeiro a projetos dos próprios alunos e professores.”

Essa limitação financeira, avalia Cardoso, se reflete no posicionamento da instituição no ranking das melhores universidades em nível mundial. “Para se ter uma ideia, em 2010, o orçamento por aluno em Harvard foi de R$ 294 mil; enquanto na USP esse valor correspondeu a R$ 50 mil, incluindo os recursos oriundos das agências de fomento.” 

 Cultura de retribuição – No Brasil, um dos desafios para a implantação deste tipo de fundo é a conscientização da importância da filantropia. Em universidades estrangeiras é comum o aluno retribuir por aquilo o que conquistou na sua carreira profissional graças à qualidade do ensino da instituição. É um compromisso moral que faz com que as doações sejam regulares, como é o caso de Harvard, onde cerca de 35-40% do seu orçamento vem do endowment. Ou de Yale, que recentemente captou US$ 3,5 bilhões com uma campanha para construir o futuro da universidade. 

Na Poli, esta cultura começou a ser construída no começo deste ano, na época da matrícula dos calouros. Segundo Felipe Sotto-Maior, um dos diretores da Endowments do Brasil – empresa responsável pela implantação do fundo da Escola –, pais e alunos aderiram a planos de doações mensais, com a opção de diferentes valores. “Também estamos realizando diversas reuniões com docentes e empresários para sensibilizá-los”, afirma.    

Um dos obstáculos para a disseminação do endowment no Brasil é a falta de uma legislação específica que facilite sua criação, a exemplo da Lei de Modernização da Economia, da França, aprovada em 2008. Essa lei possibilitou que cerca de 230 endowments fossem criados naquele país apenas no primeiro ano de vigência da lei, concedendo incentivos fiscais para os endowments e para seus doadores. Um dos beneficiados foi o museu do Louvre que em 2009 criou um endowment com os objetivos de construir um centro de conservação de obras de arte, ampliar suas galerias abertas ao público e renovar suas coleções. 

“Por desconhecimento de suas vantagens, aqui no Brasil o endowment engatinha, mas já há iniciativas semelhantes em entidades do terceiro setor”, conta Sotto-Maior. “Algumas fundações buscam manter uma reserva técnica investida para garantir o prosseguimento de suas atividades, independentemente de suas mantenedoras, mas poucas aplicam efetivamente os conhecimentos disponíveis sobre o funcionamento dos endowments.”

“As instituições brasileiras, notadamente as fundações, estão constatando que a fragilidade causada pela dependência constante de novas doações ou de uma única fonte financeira põe em risco sua própria existência”, afirma Sotto-Maior. Lá fora, essa constatação fez dos fundos patrimoniais quase uma regra. Levantamento feito em 2010 pela NACUBO, Associação Nacional de Diretores de Instituições de Ensino Superior Norte-Americanas e pelo Commonfund, consultoria de investimento especializada em instituições sociais e de ensino, mostra que de um grupo de 850 instituições de ensino superior dos Estados Unidos que possuíam endowments, 60 tinham um fundo com patrimônio superior a US$ 1 bilhão. 

Na Poli, a meta de mobilização para o primeiro ano de funcionamento do endowment é alcançar um patrimônio de R$ 25 milhões, e promover uma retirada anual de cerca de R$ 1,5 milhão. E isso é só o começo. “Estamos decididos a buscar continuamente recursos extras para garantir a excelência no ensino e na pesquisa”, afirma Cardoso. “Iremos abrir caminho para que outras instituições façam o mesmo”, finaliza.

Mais informações: www.eepolitecnica.org.br