FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Uma travessia de oportunidades:
ex-aluno da Poli-USP conta como oportunidade de intercâmbio transformou sua carreira

Impressionante, diferencial e importante, são palavras utilizadas por Thiago Macieira para descrever a oportunidade do Duplo Diploma para alunos da Poli, que completou 20 anos oferecendo este  programa. “Se tiver a oportunidade, se for chamado e for interessante, faça. Porque é algo que mudou minha vida, abriu meus horizontes, abriu mais oportunidades de carreira que eu não tinha pensado – e fez minha vida”.

A coleção de emoções que o engenheiro Thiago Macieira tem em sua memória gira em torno das vezes em que atravessou o oceano Atlântico com rumo à Cidade das Luzes. A mais memorável das idas teve início no inverno de 2001, coincidentemente, na mesma data em que se inaugurava, na prática, o  programa de Duplo Diploma, firmado pela Poli com instituições do exterior. Integrante da primeira turma a se intercambiar seguindo esse formato, foi pela École Centrale de Lille, universidade de engenharia no norte da França, que Thiago recebeu a segunda titulação em Engenharia.  

O engenheiro conta que, a princípio, não chegou a pensar muito no assunto de internacionalizar-se, mesmo já conhecendo o formato de Graduação Sanduíche, curso universitário em que o aluno tem a possibilidade de passar um tempo estudando em uma instituição de ensino estrangeira durante o seu curso de graduação e ao retornar, pode transformar a experiência em créditos. Mas os atrativos da aprovação em bloco de disciplinas e o segundo diploma, específicos do programa de Duplo Diploma, bem como as entrevistas e a maior interação com o Comissão de Relações Internacionais (CRInt) da Poli foram se tornando fatores para que sua visão sobre o programa se alterasse. À época, a seleção concentrava apenas quatro escolas estrangeiras a que seriam destinados, e após conhecer os demais colegas que haviam sido aprovados, Thiago percebeu o quão elevados tinham sido os critérios de eleição dos estudantes, e a importância de estar ali. 

Foram dois anos fora, fazendo o equivalente ao terceiro e quarto ano de Engenharia na Poli, o que corresponderia a um ano quando retornasse. Ele conta que o sistema de aprendizado é um tanto diferente do brasileiro, a começar pelos professores, que são mais distantes, inclusive no sentido literal. Sentados em cerca de 200 alunos, o formato da sala  era em auditório de estilo grego. “O professor, lá a frente, falava por uma hora, uma hora e meia. A aprendizagem francesa é na base do ‘tudo deve ser anotado’, então não existia muito espaço para perguntas e interrupções durante a aula. E se você não entendesse algo – chegando em casa ou no dormitório, o melhor era sentar, abrir o livros e de um jeito ou de outro, aprender”. O costume na Poli, Thiago comenta, era outro: aulas com 50 pessoas, pouquíssimas realizadas em auditórios e o que criava maior proximidade com os docentes, que ressaltavam que perguntas poderiam e deveriam ser feitas, sempre seguidas por novas explicações. 

Entre as variações culturais, fuso horário diferente e clima distinto, o engenheiro pontua que a língua foi um fator determinante em sua vida nos primeiros meses fora. Tendo iniciado o estudo de francês seis meses antes de viajar e de maneira intensiva, aulas em outro idioma faziam parte de um exercício mentalmente exaustivo, à princípio. “Somente de estar longe da família e dos amigos já foi o suficiente para causar uma sensação de esgotamento, e isso somou-se ao fato de ter de me comunicar integralmente em outra língua e estudar em um modo de aprendizado bem diferente. E outro detalhe é o clima: chegamos em julho – auge do verão europeu, em que só escurece às dez da noite, e as aulas se iniciaram em setembro, quando começa a esfriar e ficar escuro”. O reforço mental e a calorosidade que o ajudaram bastante foi a visita que os pais lhe fizeram, em outubro do mesmo ano.

Retorno ao Brasil

O regresso à terra mãe fez com que Thiago voltasse um ano atrás da sua turma original, caindo na turma seguinte. Integrado de surpresa, acumulou mais amizades e hoje se orgulha ao dizer que pôde ir em duas formaturas: a da turma original e a da com os quais se formou. 

 Baile de Gala da Formatura da École Centrale de Lille, em 2002 [Imagem: acervo pessoal] 

Parte da formação pessoal veio por meio do conhecimento de outra língua, contato com outras origens e pela interação com diversas culturas. “Não era o único estrangeiro do duplo diploma: havia chineses, russos, espanhóis e alemães. E nós nos juntávamos promovendo uma interculturalidade que me fez, de fato, conhecer realmente os outros e abrir a mente”. Devidamente formado como engenheiro de telecomunicações, decidiu retornar à Europa, dessa vez com destino à Noruega, país mais ao norte e consequentemente , mais frio. Thiago conta que não pôde evitar outro choque cultural, mas a diferença era a abertura e a liberdade que ele dava para que isso acontecesse sem estranhamento.

Os 16 anos que se passaram desde a formação, tendo mudado de carreira duas vezes e tendo esquecido muitas das fórmulas matemáticas que aprendeu, Thiago não esquece da Aula Magna que teve no primeiro dia na Poli, em fevereiro de 1999. O professor disse ao lotado auditório da Reitoria da USP que os engenheiros resolviam problemas e que, embora fossem esquecer muitas fórmulas ao longo dos anos, os engenheiros não se esqueceriam como aprender, chegar aos dados, tomar decisões e resolver problemas, no final do dia. “O fato de ter mudado de carreira duas vezes e de ter feito dois diplomas de engenharia é o resultado de conseguir aprender constantemente. Mudar de empresa, mudar de emprego, mudar de país e se adaptar – tudo isso é resultado do Duplo Diploma”.

Thiago junto a amigos do Duplo Diploma na École Centrale de Lille, França [Imagem: acervo pessoal]

A experiência do Duplo Diploma agregou em muito na sua vida acadêmica, profissional e pessoal. O francês consta até hoje no currículo, e os dois diplomas também, mas o engenheiro diz que o principal foi ter adquirido uma visão mais aberta do mundo. Terminado o curso na Poli, sentiu que poderia trabalhar onde quisesse no mundo e a primeira opção foi voltar à Europa. “Essa possibilidade de ter me formado na Europa antes, e de ter um conhecimento do exterior, abriu os horizontes para me incluir e não me sentir desconectado daquela realidade, como se estivesse em outro mundo”.

Parte da formação pessoal veio por meio do conhecimento de outra língua, contato com outras origens e pela interação com diversas culturas. “Não era o único estrangeiro do duplo diploma: havia chineses, russos, espanhóis e alemães. E nós nos juntávamos promovendo uma interculturalidade que me fez, de fato, conhecer realmente os outros e abrir a mente”. Devidamente formado como engenheiro de telecomunicações, decidiu retornar à Europa, dessa vez com destino à Noruega, país mais ao norte e consequentemente , mais frio. Thiago conta que não pôde evitar outro choque cultural, mas a diferença era a abertura e a liberdade que ele dava para que isso acontecesse sem estranhamento.

Os 16 anos que se passaram desde a formação, tendo mudado de carreira duas vezes e tendo esquecido muitas das fórmulas matemáticas que aprendeu, Thiago não esquece da Aula Magna que teve no primeiro dia na Poli, em fevereiro de 1999. O professor disse ao lotado auditório da Reitoria da USP que os engenheiros resolviam problemas e que, embora fossem esquecer muitas fórmulas ao longo dos anos, os engenheiros não se esqueceriam como aprender, chegar aos dados, tomar decisões e resolver problemas, no final do dia. “O fato de ter mudado de carreira duas vezes e de ter feito dois diplomas de engenharia é o resultado de conseguir aprender constantemente. Mudar de empresa, mudar de emprego, mudar de país e se adaptar – tudo isso é resultado do Duplo Diploma”.

Thiago Macieira em viagem às vinícolas da região de Champagne, nordeste da França [Imagens: acervo pessoal]

We will always have Paris - Sempre teremos Paris

Atualmente, Thiago mora em Portland, no estado do Oregon, nos Estados Unidos. Trabalha com softwares na Intel, no time de data-center, e vem ao Brasil pelo menos uma vez ao ano, passar o natal com a família. O contato com colegas é, por vezes, mais tímido e firmado apenas por meio de redes sociais, como a amiga chinesa com quem fez duplo-diploma, e que hoje mora em Nova Iorque, que lhe costuma dizer “Somos centraliens (da École Centrale) no mundo inteiro”. Ainda assim, acompanha as atualizações dos amigos franceses, que se mudam de país, por conta da maior mobilidade dentro da Europa. “Eu vejo que muito do pessoal do duplo diploma está fora dos países de origem e não necessariamente nos países-hóspedes. Eu não estou na França, morei desde o duplo diploma e um ano a mais na época do MBA, depois morei na Noruega, e atualmente moro nos EUA”.

E assim como uma vez centralien, sempre centralien – uma vez politécnico, sempre politécnico. A turma de Telecomunicações da qual o engenheiro fez parte é amiga até hoje, tem grupo no WhatsApp, constantes atualizações e assim como Thiago, muitos acabaram se encontrando no mercado profissional de software.

Tendo voltado à França várias vezes, a começar pelo programa de MBA também cedido pela Poli em parceria com a Fundação Renault, a ressalva de Thiago é não ter colocado os pés em terras francesas desde que se mudou para os EUA. Enquanto não retorna, se contenta em torcer para a França tanto na Copa do Mundo (desde que não seja enfrentando o Brasil) ou no Eurovision*, além de ser a referência para amigos que se aventuram em viagens à Paris. “Se um amigo me diz ‘estou indo para Paris’, eu dou o mapa da cidade, indico o caminho, que inclusive é exatamente o caminho que fiz na chegada em Paris naquele sábado, 30 de junho de 2001. Saindo do hotel, passe por Notre Dame, ande pelo Palácio, suba a Place de La Concorde, à Champs Elysées, chegando no Arco do Triunfo e se deparando com a vista para a Torre Eiffel”, diz enquanto gesticula o formato de um mapa imaginário e um itinerário há muito tempo decorado – na memória e em cada caminho que a vida traçou a partir dali.

* Eurovision Song Contest: competição internacional de canções organizada anualmente pela European Broadcasting Union (EBU), com a participação de músicos representantes de países europeus e mesmo de fora da Europa, como é o caso da Austrália.

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