Poli Fórum: Transição energética é discussão que deve ter repercussões globais, embora soluções devam considerar a realidade de cada região
Tradicionalidade dos combustíveis fósseis e eficiência energética das fontes sustentáveis são principais desafios para avanços nos debates sobre a mudança das matrizes energéticas no Brasil e no mundo

Na última segunda-feira, 9 de dezembro, a Escola Politécnica (Poli) da USP foi palco de mais um “Poli Fórum” para discutir o papel da engenharia na transição energética brasileira e mundial. Com mediação do professor Gustavo Assi, os convidados professor Toru Sato – da Universidade de Tokyo – e o professor Silvio de Oliveira Júnior – da Poli – debateram sobre Decarbonization strategies for offshore processes and operations, em português: Estratégias de descarbonização para processos e operações offshore.
A necessidade de mudar as matrizes energéticas mundiais é uma discussão que avança com significativa velocidade frente à compreensão dos impactos das fontes geradoras de energia atuais, como o petróleo. O professor Gustavo Assi afirma que não somente a conscientização sobre os efeitos da produção energética têm aumentado, mas a demanda por energia também devido ao crescimento populacional e ao avanço das tecnologias.
O pontapé inicial do encontro partiu sobre as projeções que os professores Toru Sato e Silvio de Oliveira têm quanto ao futuro das offshores no cenário econômico mundial. Para o docente estrangeiro, a questão depende dos rumos a serem tomados pela economia estadunidense que, pela influente posição que possui no cenário internacional, determinaria os próximos passos a serem seguidos pelos demais países. Para o engenheiro brasileiro, a transição das offshores seguirá em um ritmo devagar frente às pesquisas que visam repensar os custos e a tradicionalidade por trás das matrizes no Brasil.

As possibilidades para a transição variam conforme o país e as suas condições sociais, políticas, econômicas e, sobretudo, tecnológicas. As mudanças na matriz energética japonesa, por exemplo, não serão – e nem seria possível que sejam – idênticas às medidas que o Brasil deverá tomar. Hoje, o país asiático é fortemente dependente da energia nuclear – apesar dos acidentes ocorridos no passado –, enquanto a energia gerada em território nacional é fundamentada na energia hidráulica.
Silvio, docente em máquinas e sistemas térmicos na Poli, destaca que antes que quaisquer medidas de transição sejam efetivadas, é preciso aumentar a eficiência dos projetos em curso. Para que o processo de transição seja eficaz, o professor afirma ser primordial que diferentes tecnologias sejam combinadas entre si, de modo a “encorpar” e tornar mais eficiente a transição.
O futuro da indústria offshore
A longo prazo, novos processos de geração de energia têm ganhado força no cenário mundial. O professor Silvio defende a exploração das águas oceânicas como nova tecnologia para o futuro energético, sobretudo quanto aos projetos de desenvolvimento dos chamados Ocean Thermal Energy Conversion (OTEC), geradores de energia limpa a partir dos oceanos. No Japão, o professor Sato acrescenta que o grande destaque para investimentos tem sido a energia de fusão, e que o futuro da tecnologia está nas baterias e suas reservas energéticas.

O papel da Engenharia para a transição energética pode ser mensurado em cinco passos, definidos pelos professores:
- Eficiência;
- Poucas mudanças;
- Mais energia limpa, sustentável e renovável;
- Novos processos;
- Novos modelos de negócio.
Gustavo Assi, Toru Sato e Silvio de Oliveira Júnior após rico e denso debate reiteram que a transição energética é uma discussão que deve ser mundial, e que não existem soluções universais. A maneira como o Brasil lidará com as reformas na matriz energética precisam ser diferentes das maneiras como o Japão – e demais países – lidará com a questão. “Não há uma solução global”, declara Sato.
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