Especialista da Poli-USP consegue gerar e armazenar energia elétrica a partir de lixo eletrônico

Jimmy Cury de Lacerda conseguiu reaproveitar, com baixo custo, materiais eletrônicos descartados

 

Por Tainah Ramos

 

Escuro, banho gelado, alimentos perdendo a validade. Como imaginar a vida moderna sem eletricidade? Uma missão quase impossível para a maioria de nós, mas a realidade é que, segundo o relatório mais recente do Banco Mundial, cerca de 840 milhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica.

 

Além da questão da distribuição mundial de energia, uma outra preocupação que surge é como gerar essa energia de modo “limpo” e inovador. Por isso, o engenheiro eletricista Jimmy Cury de Lacerda, motivado por esses dados, elaborou um projeto que busca reutilizar baterias, motores elétricos e células fotovoltaicas de objetos descartados para fornecer alguma comodidade para essas famílias. “Tendo em vista o alto número de pessoas sem acesso à eletricidade, eu tive a ideiade utilizar baterias do lixo para tentar gerar e armazenar energia elétrica necessária para um sistema de iluminação residencial autônomo, com quatro lâmpadas LED de 5 watts. Quando o celular trinca a tela, ou já não carrega tão bem, temos a tendência de jogá-lo fora, mas, na verdade, essa bateria do aparelho pode ser reutilizada. Os motores elétricos podem ser retirados de ferramentas, brinquedos e impressoras também descartadas. Já as células fotovoltaicas podem ser obtidas a partir de painéis fotovoltaicos de refugos industriais”, relata Jimmy.

O engenheiro conta que foi necessário fazer dois tipos de protótipos: um para realizar a triagem desse material e outro para de fato colocá-lo em funcionamento. “Primeiro eu montei um protótipo para fazer a triagem das baterias, motores elétricos e células fotovoltaicas para saber quais podem ser utilizados. Posteriormente, fiz um controlador de cargas híbrido que usa tanto energia solar quanto energia eólica para gerir os 20W necessários para iluminação LED. Todo material que seria de alto custo foi reaproveitado do lixo.”

 

O protótipo final manteve as quatro lâmpadas LED de 5W com autonomia de seis horas. Os valores de referência foram calculados para esse fim, mas poderia ser utilizado para potências maiores, o que torna o projeto completamente escalonável. “Pensei em alguém que não tem nada de energia em casa, então quatro lâmpadas de LED de 5W já melhorariam muito a qualidade de vida dessas pessoas.”

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Como cidadão e engenheiro, ele ficou satisfeito, pois os dois protótipos funcionam e tiveram um resultado positivo. Confirmou-se a ideia de que há um grande potencial energético desperdiçado, já que não se encontra lugares em que há triagem desse tipo de material. Ainda, seu projeto resolve, ao mesmo tempo, uma segunda questão. “Você atrasa a ida desse montante de bateria e motores elétricos para o lixo, dando uma utilidade social para eles”, dessa forma, a utilização do lixo eletrônico consegue melhorar a vida das pessoas. “Cheguei à conclusão também de que dá para fazer uma infinidade de outros produtos com a mesma solução, inclusive para fins comerciais, não necessariamente um sistema de iluminação residencial, mas tudo que utilize pequenas potências.”


O trabalho realizado por Jimmy se insere na conclusão do curso de especialização em “Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética”, do Programa de Educação Continuada, e foi coordenado pelo professor José Roberto Simões, do Departamento de Engenharia Mecânica.

Serviço – Programa de Educação Continuada (PECE) da Poli, projeto de extensão criado em 1973, tem como objetivo a união e difusão de conhecimento entre a Poli e o setor produtivo, buscando a formação acadêmica de diversos setores da sociedade civil. Mais de 30 mil profissionais já foram qualificados nesse período pelos cursos de extensão do PECE. Outras informações no site.

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