A engenheira atuou grande parte da sua carreira com robótica e visão computacional, e hoje estuda técnicas para que as máquinas aprendam por reforço. Para os alunos, ela explica que esta área abre grandes possibilidades profissionalmente.
Anna Helena Reali Costa nasceu em Marília, São Paulo, mas morou em muitas cidades do interior do Estado. Sua família se mudava devido à profissão do pai, que era juiz de direito, e todos os cinco filhos o acompanhavam nessas mudanças.
Segunda filha, ela não quis seguir os passos da irmã na área do Direito, e escolheu a engenharia. Anna desde muito nova é apaixonada pelos números. “Na verdade eu sempre gostei de matemática, talvez devido ao incentivo do meu pai”, enfatiza ela.
A menina que gostava de números hoje é uma das maiores especialistas brasileiras na área de Aprendizagem por Reforço em Robôs. Ela relembra que sempre se destacou nos estudos, tanto em português como em matemática. Sua motivação pelos estudos era tão grande que, mesmo sendo a única garota da turma durante o ensino médio, Anna concluiu seu curso técnico em eletrônica, na ETEC Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo. Anna conta que ser a única mulher entre os 41 alunos, a fez se acostumar a conviver em um ambiente masculino “Eu praticamente só tinha amigos homens, já na adolescência sentia falta de ter amigas mulheres”.
Aos 17 anos, ela decidiu seguir área de engenharia elétrica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Curiosamente, foi neste período que ela começou a ter algumas amigas no curso, apesar de serem poucas, e que não sentiu nenhum preconceito ao longo da graduação por ser mulher em um curso de engenharia.
Não demorou muito para Anna lidar com a desigualdade de gênero. Após formada, ela entrou no mercado de trabalho e foi neste momento que começou a sentir o preconceito de gênero: “eu gostava muito de automação, então procurei emprego na área, porém os entrevistados falavam claramente, de forma preconceituosa, que eu não poderia trabalhar com isso por ser mulher”.
Ainda conta um caso em especial sobre esse momento, em que chegou a ouvir “você ainda é jovem, vai casar ter filho. Vai atrapalhar e não vai ter um rendimento tão bom. Então apesar das suas notas e conhecimento, esse emprego não é para você”.
Este relato, recorrente na vida de muitas mulheres, a fez atuar em outras áreas. “Acabei indo para área de automação bancária, que remunerava muito bem as mulheres na época”. Porém não ficou muito tempo nessa profissão. Junto com a sua família, decidiu ingressar na carreira acadêmica, e a instituição escolhida foi a Universidade de Karlsruhe, na Alemanha. Lá ela se interessou pela área de pesquisa em Visão Computacional. O sucesso acadêmico, fruto de muito suor, não parou por aí. Ao retornar ao Brasil, ela começou o seu doutorado na Poli, ainda na área de Visão Computacional.
Seguidamente, ela também fez um doutorado sanduíche na mesma universidade alemã, porém em outro instituto, focando no processamento de imagem. Mas a paixão pelos robôs a fez começar a pensar em uma maneira de dar vida a eles de forma autônoma. “Me interesso em colocar autonomia nos robôs, mesclando mais para inteligência artificial. Senti a necessidade de colocar aprendizagem e autonomia nos robôs, e até hoje trabalho com o aprendizado por reforço nos robôs”.
O interesse da docente é tanto que em 1996, ela trouxe o primeiro campeonato de futebol de robôs para Escola Politécnica, com ajuda de professores e alunos da época. Os três robôs do campeonato eram chamados carinhosamente de Robonaldo, C3-Pelé e R2D2-Dunga. Dois anos depois, em 1998, paralelamente Copa a do Mundo de futebol, em Paris, acontecia a Copa de Futebol de Robôs. Imaginem quem estava lá? Isso mesmo, a Anna, que ganhou o título de vice-campeã da Copa de robótica. “Eu fiquei mais feliz por ter ganhado a posição de vice- campeã da Copa dos Robôs do que o vice do jogo de futebol tradicional” brinca ela.
Anna Reali alcançou o topo da carreira docente na Poli, tornando-se professora titular em 2011, na Escola Politécnica. Uma mulher na robótica e na engenharia, espaços majoritariamente masculinos, ela é uma inspiração para mulheres que desejam seguir carreiras na área conhecida como STEM, um termo em inglês para agrupar as disciplinas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Acerca disso, ela enfatiza: “eu falo que quando as meninas chegam no ensino médio tem pouco incentivo para elas se desenvolverem na parte da matemática. É necessário um incentivo a longo prazo para que as mulheres sejam o que elas quiserem”.
Texto: Beatriz Carneiro (estagiária de jornalismo)
Revisão: Amanda Rabelo e Rosana Simone (Jornalista e Analista de Comunicação)