FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Doutor politécnico desenvolve iniciativa inovadora à indústria petrolífera

Premiado por seu projeto, o trabalho do engenheiro também pode ser benéfico à área acadêmica

[Imagem: Reprodução/Amanda Rabelo/Comunicação Poli-USP]

A baixa disponibilidade de rochas petrolíferas para serem analisadas em ambiente laboratorial é um entrave para o desenvolvimento de pesquisas na área de Óleo e Gás (O&G). Esse fato decorre da dificuldade de extração de amostras, geralmente localizadas em ambientes inóspitos, o que torna este processo algo arriscado e custoso. Há também questões práticas e de ordem burocrática, já que os materiais de reservatórios de hidrocarbonetos costumam pertencer à União e tem seu uso restrito às Indústrias.

Com essa problemática em mente e incomodado pela ausência de publicações científicas sobre o assunto, o Doutor em Engenharia Mineral pela Escola Politécnica (Poli) da USP, Jhonatan Jair Arismendi Florez, tomou iniciativa para criar uma inovação capaz de suprir as necessidades acadêmicas para avançar o conhecimento na área. Sua ideia consistia na construção de plugues sintéticos – rochas artificiais com propriedades semelhantes àquelas encontradas nos reservatórios petrolíferos. O que permitiria que simulações de condições de reservatório fossem realizadas em ambientes laboratoriais. 

Formado em Engenharia de Petróleo pela Universidade Industrial de Santander, na Colômbia, Jhonatan desenvolveu seu trabalho ao longo de sua Pós-Graduação no Brasil. Com a conclusão sintetizada em sua tese de doutorado “Construção de plugues sintéticos para aplicação na indústria de petróleo”, que foi uma das menções honrosas na 14ª edição do Prêmio Tese Destaque USP, pela categoria “Inovação”.

[Imagem: Reprodução/Luana Mendes/Comunicação Poli-USP]

A materialização da novidade

Seus esforços com o projeto se iniciaram durante seu mestrado em Engenharia de Petróleo pela Poli. Jhonatan estudou processos para formar as amostras sintéticas a partir de rochas desintegradas compactadas. O resultado de seu esforço foi positivo: provou que era possível a construção dos plugues. No entanto, algumas das propriedades físico químicas obtidas não condizem com as encontradas em reservatórios carbonáticos naturais. O que explicitou a necessidade de mais estudos para aprimorar este projeto.    

O pesquisador prosseguiu com a sua ideia em seu doutorado e, em diversas pesquisas autorais, analisou fatores necessários para concretizá-la. Jhonatan estudou técnicas de fabricação, materiais para servir como base e suas propriedades, analisando os mínimos detalhes, a fim de garantir que seus plugues pudessem emular o comportamento de uma rocha natural da forma mais fiel possível.

Com a teoria devidamente estudada, esforços foram empreendidos para a construção dos plugues. O então doutorando utilizou misturas minerais compostas por dolomita, calcita e quartzo, materiais cimentantes, todos com propriedades físico químicas controladas, além de princípios de solubilização, precipitação e compactação de materiais para constituir a rocha sintética.

Ao final de todo esse processo, foi possível observar a tão esperada formação de um plugue sintético que imita precisamente uma amostra natural de rochas de reservatório carbonático. Com o sucesso, o trabalho de Jhonatan tem o potencial de beneficiar pesquisas acadêmicas na área da Geologia e Engenharia de Petróleo, além de suas respectivas indústrias.

[Imagem: Reprodução/Flickr: Comunicação Poli-USP]

Apoio e parcerias desde o mestrado

Durante toda sua trajetória no Brasil, Jhonatan destaca o quão importante foi o apoio de seus orientadores, Jean Vicente Ferrari e Carina Ulsen, que estiveram ao seu lado desde o início de seu mestrado e foram essenciais para permitir que o engenheiro estudasse fora de sua terra natal. “Todo o acompanhamento que eles me deram, não só na parte profissional, mas também na pessoal, foi o que permitiu que pudéssemos desenvolver algo assim”, explica.

A colaboração dos professores iniciou-se nos esforços empregados para que Jhonatan conseguisse sair de seu país de origem e ingressasse na primeira leva de alunos da área de concentração de engenharia de petróleo do programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral da Poli (PPGEMP). “Foi uma luta para conseguirmos as bolsas de apoio aos alunos, mas conseguimos o aval da alta direção e tudo deu certo no fim”, lembra Carina.

[Imagem: Reprodução/Matheus Ribeiro/Comunicação Poli-USP]

O coordenador do PPGEMP, o professor Maurício Bergerman, comentou sobre o significado do progresso de Jhonatan ao programa: “A premiação nos fortalece ao mostrar a qualidade dos trabalhos produzidos e a importância da integração entre pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, levando ao desenvolvimento de um produto inovador e com grande potencial de aplicação na indústria do petróleo”.

O agora Doutor fez uso, sobretudo, das estruturas do Integrated Technology for Rock and Fluid Analysis (InTRA-USP) e do Laboratório de Caracterização Tecnológica (LCT) da USP, laboratórios, coordenados por seus orientadores, nos quais Jhonatan faz parte, para desenvolver seu trabalho. Além de contar com o apoio de parcerias com outras instituições, seja de universidades como a PUC-RJ, a UFRN e a Universidade de Stuttgart, ou de empresas já inseridas no mercado petrolífero, no caso, a Petrobras. 

Sua pesquisa se desenvolveu ao ponto de, não apenas, concretizar sua ideia inicial – o que rendeu até a fundação de uma startup dedicada aos plugues –, mas também se tornar um material de apoio a outras pesquisas acadêmicas. Jhonatan cita o caso de outro doutorado, que está sendo desenvolvido por uma aluna do mesmo programa de pós-graduação, que busca reaproveitar resíduos materiais próprios da perfuração de poços petrolíferos para construir plugues sintéticos.

“Esse é o nosso grão de areia para contribuir e melhorar a indústria”
Jhonatan Arismendi
Engenheiro Doutor

Os docentes comentam que, apesar de suas participações em questões técnicas e de manuseamento dos materiais, parte significativa do entusiasmo que impulsionou o trabalho partiu do Jhonatan. Algo que, na visão dos orientadores, foi o diferencial para seu reconhecimento na premiação.

“De nada adianta contar com uma estrutura de ponta, se não tiver uma ambição forte. Assim como o Jhonatan demonstrou desde o inicio do trabalho”
Carina Ulsen
docente do Departamento de Minas e Petróleo da Poli