Politécnico coordena projeto de refinaria de matérias primas estratégicas reconhecido pela União Europeia
No início do mês de junho, a União Europeia selecionou projetos de diversos países como destaques no acesso estratégico de matérias-primas críticas, essenciais à economia. Uma das iniciativas escolhidas foi a refinaria de níquel e cobalto de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. O engenheiro politécnico, Carlos Braga, e sua equipe, foram os responsáveis pela candidatura e desenvolvimento do projeto, que contou ainda com o apoio do Ministério de Minas e Energia (MME).
O projeto reconhecido pela UE se caracteriza na reativação de uma refinaria que estava desativada desde 2016. “A antiga refinaria operou por 35 anos sob ações da Votorantim. Ela recebia um concentrado de níquel que vinha de uma mina de Goiás. Essa mina exauriu e as operações foram abandonadas. A nossa ideia é investir em reformas para que ela volte e possa produzir níquel e cobalto metálico”, contextualizou o engenheiro.
A importância por trás da produção desses dois materiais está ligada à transição energética. O níquel e o cobalto são algumas das matérias-primas necessárias para a fabricação de baterias elétricas de veículos, painéis solares, turbinas eólicas, entre outros componentes usados em meios de geração de energia sustentável.
O diferencial que o projeto da refinaria de São Miguel Paulista possui em relação a outros fornecedores destes materiais ao redor do globo é a obediência a certos critérios estabelecidos pela UE. Essas são as práticas ESG (abreviação de “Ambiental”, “Social” e “Governança” no inglês). “O objetivo é estabelecer uma cadeia produtiva que respeite normas governamentais, regras de sustentabilidade e garantam que não haverá nenhum abuso contra aqueles que participam do projeto”, comentou Carlos.
Ao seu ver, o reconhecimento da iniciativa não é importante apenas pela questão da busca pela sustentabilidade. Mas também, serve para estabelecer o Brasil no mapa de fornecimento de materiais estratégicos e estreitar laços econômicos com nações parceiras.
Paixão por minérios e trajetória profissional
Egresso do curso de Engenharia de Minas e também executivo da área de minérios, Carlos é um exemplo de como os ensinamentos que são aprendidos dentro da Escola Politécnica (Poli) da USP podem alavancar os alunos a grandes patamares profissionais. Além de fomentar ações que possam ser benéficas para toda a sociedade.
Desde cedo, Carlos sempre esteve envolto no ambiente da mineração. Filho de um engenheiro de minas politécnico, disse que “praticamente nasceu” dentro de uma operação de mineração de seu pai. Sua relação profissional com a área se iniciou quando tinha 14 anos, época em que começou a trabalhar para uma pequena empresa de Luiz Alberto Filho, que foi uma autoridade global em mineralogia e era colega da família.“Ele também era engenheiro de minas pela Poli e tinha como hobby uma coleção de minerais. Foi a partir daí que eu comecei a me apaixonar por esse mundo”, explicou Carlos.
Por conta dessa paixão e experiências prévias com o universo dos minerais, estava decidido em seguir o mesmo rumo acadêmico de seu pai ao ingressar na turma de 1988 do curso de Engenharia de Minas da Poli. Em uma época que não era comum esta área ser procurada como primeira opção por futuros engenheiros.
Depois de graduado, trabalhou com a produção de materiais como fertilizantes e cimento e realizou um MBA na Cornell University, nos Estados Unidos. Com a especialização, ele buscou transicionar sua carreira à área de negócios dentro da mineração, além de gerenciar operações. Caminho que segue até os dias de hoje.
Carlos evidência que líderes de grandes empresas e projetos necessitam balancear aspectos profissionais e pessoais para obter sucesso e complementa que esse equilíbrio é possível de se adquirir no ambiente de estudo politécnico. “Você ter uma formação técnica sólida é importante, e sem dúvidas a Poli é um dos melhores lugares para aprender. Mas também é preciso que ocorra um desenvolvimento emocional e social. E essa faculdade oferece oportunidades para que isso seja trabalhado”, explicou o executivo.
Com passagens em empresas como Votorantim Metais, Meridian Mining, Morro Verde Fertilizante, etc, Carlos é, atualmente, Presidente e Gerente Geral da Jervois Brasil. A companhia, controlada por um fundo estadunidense, é especializada no fornecimento de níquel e cobalto por um processo sustentável.