
[Foto: Revista Dois Pontos / Flickr / CC]
Data: 06/08/2025
Docente da Poli entrevistado: Fernando José Gomes Landgraf é professor titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli-USP. Desde 2010, investiga também a história da metalurgia no Brasil, com ênfase na análise microestrutural arqueológica e na arqueometalurgia.
Resumo:
Cerca de 45% das reservas mundiais de terras raras estão localizadas na China e 25% se encontram no Brasil, sendo essas reservas fontes estratégicas para a produção de “superímãs”, presente em motores de carros elétricos e também em equipamentos militares. Frente às ações tarifárias dos EUA, o governo chinês ameaçou suspender a venda do produto para o País, caso as taxas impostas não fossem revistas.
O professor Fernando José Gomes Landgraf, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica (Poli) da USP, explica o impacto para o Brasil.
“Os ímãs de terras raras foram inventados nos Estados Unidos e Japão há 40 anos, e os Estados Unidos dominavam essa cadeia produtiva, da mineração, concentração e separação, para fazer o superímã. A China, a partir de 1990, escolheu dominar a cadeia produtiva e praticar preços que inviabilizaram a participação de outros países nesse mercado”, explica o professor. Hoje, cerca de 60% da exploração de terras raras são feitas na China, além de 90% do refino desses minérios.
O professor fez seu doutorado sobre ímãs de terras raras em 1992, mas alega que, pela falta de sequência de investimentos brasileiros no assunto, trocou de ramo nas suas pesquisas.
Todavia, completa que, nos últimos 15 anos, houve retomadas no tratar do assunto: “Em 2010 a coisa mudou, teve uma escaramuça entre China e Japão e os preços deram um pico, um monte de gente espalhou pelo mundo a preocupação com as terras raras e nós voltamos ao assunto. O governo brasileiro e o governo paulista apoiaram várias iniciativas. A Fapesp apoiou um projeto do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em 2014, a Embrapii também apoiou, depois o CNPQ apoiou. Nós conseguimos criar uma comunidade no Brasil, através de um INCT Terras Raras, que foi super importante. A gente conseguiu entender melhor a cadeia produtiva, avançar nas diferentes etapas”.
Landgraf ressalta a importância das negociações e o comércio desses minerais como uma oportunidade para o País. “Até onde a gente vai nas terras raras? É uma nova experiência desse tipo que a gente vai entrar. Nós temos que ver bem onde é que a gente quer se colocar nesse mercado e aproveitar as oportunidades que existem. Nós vamos vender, acredito eu, por um preço melhor para os Estados Unidos do que para a China. É uma opinião, porque vai depender de muitas evoluções e, na verdade, a China pagou um preço muito bom pelo minério que foi exportado lá de Goiás. Nós temos que ver como é que isso evolui e temos que manter a negociação. Faz parte da vida a gente saber para quem a gente vende nosso trabalho, e de que maneira um outro país poderia participar do desenvolvimento tecnológico dessa nossa riqueza também”.
O professor também destaca a necessidade de investimentos que viabilizem a exploração, e que mesmo que tenhamos passado por momentos dramáticos relacionados à mineração no passado recente, temos que saber lidar com ela.