FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Pesquisa que relaciona impactos da mineração na biodiversidade da Amazônia recebe reconhecimento da Capes

Tese de doutorado de Juliana Siqueira-Gay foi defendida em 2021, na Escola Politécnica da da USP

No último dia 11 de agosto foi divulgado o resultado da 17ª edição do Prêmio CAPES de Tese, iniciativa que reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil em 2021 promovida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Entre as teses realizadas nos Programas de Pós-graduação da Escola Politécnica (Poli) da USP que receberam Menções Honrosas está o trabalho desenvolvido pela pesquisadora Juliana Siqueira-Gay “Do uso intensivo às paisagens fragmentadas: perspectivas sobre impactos cumulativos da mineração nas florestas na Amazônia brasileira”, orientada pelo professor Luis Enrique Sánchez, professor titular do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli, e pela pesquisadora da Universidade de Queensland Laura J. Sonter. 

“Ter esse reconhecimento em nível nacional de meu trabalho é muito gratificante. Essa menção honrosa representa um grande avanço nas discussões sobre avaliações ambientais de projetos ambientais, especialmente considerando as evidências sobre impactos sociais e ambientais de propostas de políticas públicas que a tese discute”, declarou a pesquisadora.

O doutorado foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral. A lista de ganhadores e menções honrosas podem ser encontradas na página da Capes.

Esta pesquisa recebeu o apoio da Fapesp (Processo 2018/12475) e bolsa de estudos financiada pela Capes. Juliana ainda foi bolsista Capes Print que financiou sua estadia na Universidade de Queensland, Austrália, durante o doutorado. 

A tese de doutorado, em linhas gerais, conclui o estudo sobre as ações do desmatamento causado pela mineração nas florestas. Em um primeiro estrato de seu doutorado, Juliana estudou de que forma a mineração industrial causa perda de floresta, os modos pelos quais a devastação pode ocorrer, podendo ser considerados como perdas de ordem direta e/ou indireta. Além disso, a tese trouxe a comparação dos impactos da mineração industrial e ilegal nas florestas, revelando que desmatamento como resultado da mineração ilegal, mostra-se mais relevante que o crescimento do desmatamento dentro das áreas de mineração industrial. Leia aqui uma matéria sobre o trabalho.

Um dos pontos levantados por sua pesquisa, no contexto da discussão do desmatamento da Amazônia, foi o papel das estradas no desmatamento associadas a projetos mineração em florestas remotas e protegidas. “Há vários artigos publicados que falam da importância do desmatamento associado às estradas na Amazônia. Pensamos que ninguém havia estudado isso no contexto dos projetos de mineração, considerando que, no contexto do licenciamento ambiental, normalmente faz-se a avaliação projeto a projeto, individualmente, e não são considerados todos os desenvolvimentos regionais que inclui as estradas e todas outras atividades que elas trazem”. A pesquisa tratou de discutir os impactos cumulativos, causados pelas minas, pelas estradas e todo o conjunto que se acumula durante os anos. “Para implantação de projetos, a mineração abre áreas e suas infraestruturas de apoio intensificam esse desmatamento, tornando a perda de floresta cumulativa no tempo e no espaço”, detalha Juliana. 

“Ao investigar descobrimos que há outras perdas associadas à perda da floresta em si. Trouxemos para a discussão a fragmentação e a perda de biodiversidade, a perda de serviços ecossistêmicos decorrentes da perda de floresta. Quando há o desmatamento, há perda de todos os benefícios que essa floresta traz para a regulação do clima, produção de alimentos e matérias primas. Essa discussão faz sentido especialmente considerando a importância da floresta Amazônica para o Brasil e o mundo”.

Hoje Juliana atua como Gerente de projetos no Instituto Escolhas, acesse o seu site.

Vídeo: Desmatamento que aconteceria na região da Renca, estudada na tese de doutorado, após 30 anos de desenvolvimento de mineração na região no caso de todas as áreas protegidas serem abertas para expansão de projetos

Para mais detalhes sobre o estudo, ver Siqueira-Gay, J. et al. Strategic
planning to mitigate mining impacts on protected areas in the Brazilian
Amazon. Nature Sustainability (2022). https://doi.org/10.1038/s41893-022-00921-9 no link.

Da iniciação científica ao doutorado – Juliana começou sua trajetória acadêmica durante sua graduação em Engenharia Ambiental na Escola Politécnica da USP. Ela realizou uma pesquisa de iniciação científica na área de avaliação de impacto ambiental, quando conheceu o professor Luis Enrique Sánchez, que viria a ser o orientador do seu doutorado, anos depois. Nessa época, Juliana estudou avaliação ambiental estratégica e reconhece “já gostava bastante de pesquisa, tinha vontade de saber mais, me desafiar e investigar”. Ainda na graduação, Juliana fez trabalho de formatura com a professora Amarilis Gallardo, na área de planejamento ambiental. “Ter o apoio constante de professores que acreditavam no meu potencial foi fundamental para me estimular a sempre seguir em frente.” Posteriormente, ela ingressou no mestrado, momento em que aprendeu muitas técnicas de geoprocessamento, sob orientação da professora Mariana Giannotti. “Comecei a estudar sensoriamento remoto e geoprocessamento e aprendi várias técnicas de análise espacial para analisar dados urbanos de São Paulo”. A pesquisadora emendou o doutorado, e ao escrever seu projeto, a ideia era discutir os cenários de expansão da mineração na Amazônia, em 2017. “Foi quando houve a suspensão do Decreto da Renca, e isso pareceu interessante pois há outros casos no mundo de abertura de áreas de reservas minerais e áreas protegidas para mineração”. 

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