FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Prof. Dr. Francisco Romeu Landi – 1990-1994

FranciscoRomeuLandiExercício: 1990 a 1994

Do enlace matrimonial entre Luzia Romeu Landi e Lourenço Landi, nascia no dia 22 de março de 1933, na capital paulista, Francisco Romeu Landi. Ao optar pela carreira de engenheiro veio a corroborar a já tradicional linhagem familiar na medida em que, para a admiração do seu avô, os quatro irmãos também dedicaram-se à engenharia.

Sua trajetória estudantil foi trilhada somente em escolas públicas. Estudou no Ginásio do Estado Presidente Roosevelt ao lado dos também futuros docentes da Universidade, Max Eisemcraft, da área de eletricidade e Airton Badeluci, do Instituto de Matemática.

Com firmeza no propósito de tornar-se engenheiro, sua única dúvida recaía sob qual seria a sua especialidade. No entanto, juntamente com os colegas de curso, em meio ao boom da indústria automobilística, no ano de 1952, direcionou a carreira para mecânico-eletricista.

No período de graduação teve aulas teóricas ainda no Solar dos Três Rios, no centro de São Paulo, e as práticas laboratoriais no antigo prédio do Laboratório de Máquinas Hidráulicas, onde nos dias de hoje, localiza-se o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Diversos professores assinalaram presença em suas lembranças. Luis Cintra do Prado; o mestre Abrão de Moraes e seu assistente Klaus Rainer, o qual era de “fácil acesso, mas muito rígido, era um estilo prussiano de rigidez (…)”; Eurico Cerruti, que lecionava Cálculo Numérico e além de “comunicativo, entusiasmado e afável, simplificava a matéria para que os alunos pudessem entender.”; o professor Telêmaco Ipólito de Macedo van Langendonck, caracterizado pelas desordenadas, mas eficazes exposições no quadro negro; Mário Lopes Leão, “precursor dos processos de planejamento no setor energético” durante o governo estadual de Lucas Nogueira Garcez; Rubens Guedes Jordão, docente “tranqüilo e afável”, que ministrava aulas aos futuros mecânico-eletricistas ; e, finalmente, o professor Luis de Queiroz Orsini, empenhado na mudança curricular e no desenvolvimento da eletricidade.

Já fazendo parte, propriamente, do corpo docente da Escola, em conjunto com o mestre Maury de Freitas Julião e, depois, com Arnaldo Augusto Nora Antunes, foi o responsável pela cadeira relativa à Física, lecionando no então edifício do Biênio, o qual, por sua vez, sofreu reformulações entre os anos de 1965 e 1968. Por outro lado, em 1966, com a criação do Departamento de Engenharia de Construção Civil (uma ramificação da Engenharia Civil), passou a dar aulas de Sistemas Prediais, matéria essa que versava, dentre outros assuntos, sobre instalações hidráulicas, elétricas e de incêndio.

Para além das atividades de docência, trabalhou em uma empresa automobilística denominada DKW-VEMAG e participou do grupo executivo Géa coordenado pelo economista Antonio Delfim Neto e instituído no governo Juscelino Kubitschek de Oliveira. Da mesma forma, dedicou esforços ao ramo de condutores elétricos, tanto que formulou a sua tese de doutorado em Química, acerca de “um plástico que tivesse capacidade e que pudesse resistir à incidência de luz solar”. As teses de livre-docência e titulatura, por seu turno, foram defendidas no campo da Engenharia Civil, com assuntos “sempre ligados àqueles aspectos de Física das Construções e da Termodinâmica”, o que, aliás constitui sua especialidade.

O seu caminho profissional foi também marcado por cargos administrativos. Dirigiu o Fundusp por ocasião do investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em instituições de ensino superior, como a Universidade de São Paulo que, em particular, utilizou esse fundo para a “informatização interna do controle de obras”. Enquanto chefe do Departamento de Engenharia de Construção Civil, procurou oferecer maior respaldo aos laboratórios e dinamizou a estrutura da pós-graduação ao condicionar um “pouco mais de conhecimento científico”.(NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Dela e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Francisco Romeu Landi, 2003).

Em 1989, deu início aos cargos de direção na Escola – foi vice-diretor do professor Décio Leal de Zagottis e, entre 1990 e 1994, esteve à testa da direção. Neste último intervalo de tempo, voltou-se às comemorações do centenário da Politécnica de São Paulo, aproveitando o ensejo para abrir um espaço de debate e reflexão sobre o perfil do engenheiro que iriam formar para o século XXI. Assim, paulatinamente foi criando respaldos que consubstanciavam o avanço científico – é o caso , por exemplo, da reforma curricular, elencada sob o enfoque de cidadania e de uma perspectiva sistêmica. Ademais, o auxílio financeiro da Secretaria da Ciência e Tecnologia lançou as bases que propiciaram aos docentes viagens ao exterior no intuito de observar os métodos de ensino e as tecnologias de ponta, produzidas em 80 das melhores universidades do mundo.

Esse trabalho resultou na elaboração de um projeto que, após dez anos de debate, foi finalizado com os propósitos do Engenheiro do Ano 2000. Desta forma, elucida o professor Landi, “a cultura entendida como comportamento social, é aspecto fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade (…). O que realmente nos interessa numa sociedade é a capacidade pragmática de erigir os desafios externos” (LANDI, Francisco Romeu. “Carta ao diretor da Poli” IN: Revista Politécnica, 1992).

Ás vésperas do dito centenário, em um dos encontros de discussão pairou a idéia de que o chamado “ciclo básico” foi “mal-estruturado” e que a Reforma de 1970 trouxera em seu bojo tão somente o privilegiamento de áreas como Física e Matemática. Na linha desse pensamento, acrescenta o mestre que “a pesquisa tecnológica deve preceder a pesquisa científica. Está provado que os países ricos conseguem fazer mais pesquisa científica do que os países pobres. (…) Os países ficaram ricos primeiro e depois receberam prêmios Nobel. Sinto no Brasil uma inversão, quando os recursos da chamada pesquisa científica são maiores que as da pesquisa aplicada” – logo, sob essa concepção, a Engenharia estava imbricada em Tecnologia, enquanto a Matemática e a Física encaixavam-se no âmbito científico. (“Entrevista do professor Francisco Romeu Landi na Escola Politécnica” IN: Folha de São Paulo, 1993).

E é justamente baseado nesse pressuposto, que o dito projeto incidiu na reestruturação da grade curricular. Não obstante ter resultados diversos nos diferentes departamentos, a questão é que o curso de engenharia passou a ter, no primeiro ano, uma estrutura única, comum a todos os discentes, qual seja, a formação sólida em áreas como Química, Matemática, Eletricidade, Física e Termodinâmica – o que acarreta maior aptidão dos estudantes frente às correntes modificações tecnológicas e as demandas de um mundo globalizado. Assim, no segundo ano letivo, já amadurecidos e familiarizados ao conteúdo, os alunos podiam optar com mais segurança pelo veio a ser seguido na carreira: Química, Civil, Mecânica ou Elétrica.

Fazendo um balanço dos 100 anos de existência da instituição, Landi ressalta que a Escola “tem conseguido ao longo de todos estes anos manter-se alinhada com o que há mais avançado no campo da tecnologia”, assim como procura manter abertas aos seus alunos as fronteiras de entrada para as empresas mais modernas e qualificadas. Por outro lado, vem a somar a esses cuidados o empenho em mapear e documentar a tradição enovelada à história da Politécnica. Nesse sentido, quando do centenário cerca de dez publicações foram lançadas e a Revista Politécnica deixou de ter a marca única do Grêmio, passando para os contornos da Escola como um todo. (LANDI, Francisco Romeu “Carta do Diretor” IN: Revista Politécnica, 1993).

Na busca contínua pelo ensino de excelência, atualmente, o professor Landi integra o projeto Poli 2015, cujo ideário central é alcançar consenso em questões específicas como, “qual é a estrutura curricular o curso de engenharia ?”, “qual a estrutura administrativa ?”, em conjunto não só com a comunidade acadêmica, mas também com outros engenheiros, tecnólogos e empresários. Para que se tenha idéia de sua dimensão, ao redor de 110 pessoas já debateram sobre os temas em um encontro que teve por lugar Campos do Jordão (SP).

O papel de docente, por sua vez, configura-se para ele como “um ópio, é um atrativo que algumas pessoas tem, porque se sentem bem em estar contribuindo socialmente. (…)” e, em realidade, acaba por tornar-se um contato profícuo com o “entusiasmo de jovens que estão se abrindo para o mundo, (…) onde o ser humano descobre a auto crítica e a crítica da sociedade”. (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Dela e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Francisco Romeu Landi, 2003).

Dado o conhecimento ser “igualmente interessante em qualquer espaço”, o professor Landi aprecia leituras, por exemplo, nos campos de Medicina e Direito. Além do que, de acordo com seu ideário, Administração e Economia possuem em suas matérias um certo elo de aproximação com a engenharia. (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Dela e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Francisco Romeu Landi, 2003).

“Dizer que a engenharia é uma ciência exata, para mim, é um absurdo”, pois ela contempla o contato com o indivíduo e o serviço à sociedade. Portanto, mesmo que em alguns ramos de elétrica, como aqueles dedicados a chips e softwares, “o ser humano já não apareça de forma tão presente”, a engenharia é em si um “braço executivo do sistema produtivo” e quando utilizada sua técnica inadequadamente, pode vir a prejudicar o meio ambiente – o que cai em relação direta com a sociedade que o cerca. A Engenharia de Produção, por sua vez, “lida com a gestão, (…) com a organização (…) que cria uma organização onde as pessoas se situam cada uma numa posição(…)”, logo o engenheiro necessita ter uma visão abrangente do processo produtivo e, por conseguinte, dos agentes ali inseridos. (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Dela e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Francisco Romeu Landi, 2003).

Em detrimento das crises econômicas sucedidas no Brasil ao longo dos anos, o mestre cria uma perspectiva otimista ao afirmar que “a engenharia civil tem um enorme espaço pela frente, se levarmos em conta o déficit habitacional. Há a necessidade de construção de ruas, avenidas, comunicações, drenagem, de esgotos, de se criar estradas ligando comunidades. A própria conquista da Amazônia, a conquista do oeste brasileiro se fará sem dúvida com o engenheiro civil.” (“Entrevista do professor Francisco Romeu Landi na Escola Politécnica” IN: Folha de São Paulo, 1993).

Francisco Romeu Landi, a despeito de já encontrar-se aposentado, foi extremamente atuante na carreira acadêmica. Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ademais de seus esforços no dito projeto Poli 2015, é o coordenador das festividades dos 110 anos da Escola Politécnica.

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