FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Réplica virtual, em D3, de uma obra em construção, o BIM será objeto de uma disciplina dos cursos de Engenharia Civil e Ambiental

A partir do próximo semestre, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) vai oferecer uma nova disciplina de graduação aos alunos de Engenharia Civil e Ambiental. Chamada de Introdução ao Projeto na Engenharia, a matéria tem como objetivo ensinar aos alunos e ajudar a divulgar no Brasil, o conceito de Building Information Modeling (BIM) ou Modelagem da Informação da Construção, como é oficialmente traduzido o termo no Brasil, cuja aplicação na prática é relativamente recente, mas que tem potencial para revolucionar o setor. Trata-se do uso de modelos em 3D, em computador, que representam todos os elementos de uma edificação, desde as fundações até o mobiliário, bem como as características dessas partes e o inter-relacionamento entre elas.

Como explica o professor Eduardo Toledo Santos, do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC), um dos responsáveis pela introdução do BIM no Brasil, embora o senso comum indique que blocos, areia e cimento são os principais insumos de uma obra, um olhar atento mostra que a informação, apesar de muitas vezes negligenciada, é componente essencial do projeto, do planejamento e para a própria execução da construção e de sua manutenção futura. “Tradicionalmente atrasada na aplicação da Tecnologia da Informação (TI) em relação a outros setores, a construção civil tem atualmente a oportunidade de, com o BIM, dar um salto para a modernidade”, diz. “Com isso, ela poderá se alinhar ao que há de mais adiantado em termos de TI para projeto, planejamento e controle em outros setores econômicos.”

Em palavras simples, com o BIM cria-se uma réplica virtual, em 3D, de qualquer obra em construção, com todos seus aspectos e componentes, como a geometria, paredes, janelas, escadas, instalações hidráulica, elétrica e de ar condicionado, vigas e colunas, por exemplo. “A construção virtual, ou o processo de modelagem da construção, é como um ensaio do que se pretende executar futuramente”, explica Toledo. “Por meio dela se pode detectar com antecedência problemas de projeto, situações de risco à segurança dos trabalhadores, erros no cronograma, problemas na logística do canteiro e deficiências de desempenho da edificação, por exemplo. Ao mesmo tempo, o BIM facilita o entendimento e correção dos problemas detectados.”

Segundo Toledo, o BIM significa uma mudança de paradigma, na medida em que a obra deixa de ser concebida e representada abstratamente por símbolos em duas dimensões e passa a utilizar ferramentas 3D, nas quais cada componente construtivo inserido no modelo se relaciona com os demais objetos e outras informações ligadas a componentes reais. “As limitações da representação 2D são amplas e conhecidas e são causa de inúmeras dificuldades e erros de projeto”, diz. “Com o BIM, as tradicionais pranchas de desenho (plantas, cortes, elevações e detalhes 2D) aparecem somente onde a documentação deve ficar no processo de projeto: no seu final.”

Há inúmeros outros benefícios do BIM para todos os agentes envolvidos numa obra, como arquitetos, projetistas, incorporadoras e construtoras. Entre esses benefícios pode-se citar a detecção precoce de interferências das instalações hidráulicas com uma viga, por exemplo. Há ainda a chamada quarta dimensão entre as vantagens. “É o monitoramento da construção, ou seja, a ligação do cronograma do empreendimento com a geometria disponível no modelo BIM, que torna possível confrontar visualmente os levantamentos do que já foi realizado na obra com a evolução prevista no cronograma”, explica Toledo. “O monitoramento do andamento da construção é facilitado, bem como o planejamento de ações preventivas e corretivas em caso de atrasos.”

Além da criação da nova disciplina, a Poli está desenvolvendo outras ações para popularizar o BIM no Brasil. Entre elas, estão a orientação de alunos de mestrado e doutorado no tema, nos programas de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Mestrado Profissional em Inovação na Construção Civil; organização de eventos; tradução do principal livro da área (BIM Handbook – “Manual de BIM”), lançado no ano passado; coordenação de comissão na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para criação de normas na área de BIM; consultoria a empresas do setor de construção; além de palestras e participação em organismos internacionais que tratam do assunto.

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