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Professora da Escola Politécnica tem trajetória reconhecida por Prêmio USP Mães Pesquisadoras

-Por Yasmin Araújo 

Reprodução/Researchgate

O prêmio USP Mães Pesquisadoras representa um passo histórico na trajetória da Universidade de São Paulo. Fruto da parceria entre a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), a condecoração reconhece o mérito do trabalho científico realizado pelas pesquisadoras da instituição, e a dedicação aos cuidados com a infância, esforço tradicionalmente invisibilizado pela sociedade. 

Em sua terceira edição, foram premiadas pesquisadoras das áreas das Ciências Exatas e Engenharias. Kamilla Vasconcelos Savasini, professora do Departamento de Engenharia de Transportes (PTR) da Escola Politécnica (Poli) da USP, foi um dos nomes que entraram para a lista de homenageadas. O evento de premiação foi realizado nesta sexta, 10 de maio, na Sala do Conselho Universitário da USP.

Atualmente, a  professora coordena o Laboratório de Tecnologia de Pavimentação (LTP) e conduz pesquisas na área de infraestrutura de transportes com enfoque em materiais para a pavimentação e sustentabilidade. A ciência produzida por Kamilla impacta diretamente o desenvolvimento econômico e social do País.  Hoje, o transporte rodoviário representa um dos fatores centrais no contexto da emissão de gases poluentes. Savasini estuda caminhos para amenizar os impactos causados ao meio-ambiente. “Grande parte das pesquisas que nós desenvolvemos no LTP são direcionadas a mitigar esses efeitos, e entender como as nossas pesquisas podem contribuir para isso”.

A premiação distingue as contribuições de Kamilla para a Universidade e para o País, à medida que valoriza o seu trabalho enquanto profissional de excelência e mãe. Savasini celebra o reconhecimento e fala sobre a necessidade da instituição de fomentar mais políticas e iniciativas de permanência para mães cientistas. “O reconhecimento desse esforço adicional que muitas mães precisam é muito importante, é  um impulso para outras mães, pesquisadoras e docentes. O nascimento de um filho traz  uma série de complexidades físicas e emocionais e uma carga de trabalho adicional em casa com o processo de amamentação e cuidados. Por isso, precisamos ter algo mais institucionalizado, um suporte para as mães neste estágio da carreira”.

O peso de um legado

Segundo o último levantamento realizado pela USP (2023), o corpo docente feminino da Universidade representa apenas 37,49% do total. Na Poli, os dados são ainda mais impressionantes: somente 13,77% dos docentes são mulheres.

Kamilla conta que ao longo de sua trajetória rumo a docência, ter referências femininas foi de grande importância. A professora Liedi Bernucci, ex-diretora da Poli (2018-2022) e primeira mulher a ocupar a colocação em mais de um século de existência da Escola de Engenharia, foi uma delas. “Na Poli, a professora mais marcante na minha trajetória foi e ainda é a professora Liedi. Ter mulheres em cargos de liderança é uma referência importante. Mesmo com as dificuldades enfrentadas por elas, eu tenho um espelho, um lugar onde quero chegar. As barreiras parecem menores quando eu visualizo isso”. 

Os incentivos também vinham de casa, a mãe de Kamilla, hoje professora universitária aposentada, trilhou um caminho na ciência na área da química. Ela relembra como os conselhos da mãe foram decisivos na hora de escolher qual caminho seguir. “O que marcou a minha entrada na área que eu estou hoje, atuando como pesquisadora e professora, foi uma iniciação científica realizada na Universidade Federal do Ceará. Houve um momento que eu estava fazendo estágio e IC ao mesmo tempo. E então minha mãe me perguntou: no seu futuro profissional, você se vê como seu professor ou como sua chefe? Nesse momento eu tomei a decisão”.  

Mães na Academia

No Brasil, o movimento Parent in Science (Pais na Ciência – em tradução livre) busca discutir os reflexos da maternidade na trajetória acadêmica de cientistas que conciliam as duas funções.

Criado por Fernanda Staniscuaski, professora do Departamento de Biologia Molecular e Biotecnologia da UFRGS, a iniciativa estende as discussões sobre a questão por meio da apuração de dados e da promoção de eventos como seminários e palestras. O movimento nasce após a bióloga se tornar mãe e ver muitas portas se fecharem na Academia, como ter pedidos de financiamento recusados.

Uma das questões centrais abordadas pelo movimento é a falta de suporte oferecido por parte das instituições universitárias brasileiras. As poucas políticas existentes no sentido de garantir a permanência de pais na ciência ainda representam um grande obstáculo para o grupo.

Essa temática é pontuada por Kamilla quando a pesquisadora aborda a falta de tempo como um dos desafios que se impõem com a maternidade. “Eu tive que priorizar onde eu iria colocar o meu tempo. Uma parte considerável é dedicada à minha família, ao meu filho, especificamente. Mães precisam de suporte institucional e familiar. Elas vão enfrentar dificuldades muito maiores para despontar na carreira se não tiverem esse suporte.

Leia também (Referências):

https://piaui.folha.uol.com.br/maternidade-ignorada-e-efeito-tesoura-atrasam-avanco-de-mulheres-na-ciencia/

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/12/ate-quando-pesquisadoras-maes-serao-desrespeitadas-no-brasil.shtml

https://www.parentinscience.com/

https://gamarevista.uol.com.br/semana/qual-o-futuro-da-ciencia/fernanda-staniscuaski-maternidade-desafio-ciencia-academia/

https://www.nature.com/articles/s41599-023-01722-x

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2023/12/11/por-que-maes-cientistas-precisam-de-incentivo-a-pesquisa

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