FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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2020-21 SUGAR Network Map

Alunos da Poli-USP desenvolvem projetos internacionais de inovação

Em disciplina oferecida na Graduação, estudantes desenvolvem protótipos e participam de rede internacional

A Escola Politécnica (Poli) da USP, como parte da universidade, tem como dois de seus pilares o ensino e a pesquisa. Para fomentar a excelência nestas duas áreas, a Escola promove várias atividades, entre elas a internacionalização. Por meio da recepção de estudantes intercambistas, promoção de acordos de Duplo-Diploma e convênios internacionais, a Poli permite que seus alunos tenham contato com outras culturas e formas de pensar, além de o preparem para um mercado de trabalho globalizado. A promoção da inovação também é central na Escola, a qual incentiva seus alunos e profissionais a desenvolverem projetos tecnológicos, com o intuito de criar soluções para a melhorar a sociedade.

Com o objetivo de unir e fomentar a internacionalização e a inovação entre os estudantes, o Departamento de Engenharia de Produção da Poli oferece a disciplina “Projeto Aplicado de Inovação”, coordenada pelo professor Eduardo Zancul. Essa disciplina é optativa livre, e aberta para toda a USP. Para cursá-la o aluno precisa ter concluído anteriormente a disciplina optativa “Desenvolvimento Integrado de Produtos” ou uma disciplina análoga de projeto de inovação em âmbito nacional. A partir da performance na disciplina de “Desenvolvimento Integrado de Produtos”, o professor seleciona os alunos que participarão do “Projeto Aplicado de Inovação”.

Os alunos reforçaram que a disciplina é aberta a toda USP e que alunos de fora da engenheira seriam uma grande contribuição, pois trariam uma visão diferente e novas habilidades. Além disso, pontuaram a importância da dedicação e comprometimento de quem deseja cursar a disciplina. “As pessoas precisam pensar antes de se inscrever do quanto você vai de fato conseguir se dedicar, porque existe uma cobrança grande”, expõe Almir Ribeiro, aluno da Poli que cursou a disciplina.

Início do projeto – A ideia para a disciplina “Projeto Aplicado de Inovação” começou a surgir em 2011, quando o professor Zancul visitou a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. “Lá, eu conheci a disciplina Design Innovation, que fazia projetos reais de engenharia conforme demandas de empresas”, conta o docente. Esta disciplina envolve a cooperação internacional, desta forma, na época, alunos de Stanford trabalhavam nos projetos junto com estudantes de outras universidades pelo mundo. “A gente gostou muito dessa proposta e conversamos com eles para a Poli participar”, acrescenta Zancul.

A partir deste período, outras universidades que participavam dos projetos constituíram uma rede de cooperação para projetos de inovação independente da universidade americana. Essa rede foi chamada de rede internacional SUGAR Network, e atualmente é composta por 25 universidades pelo mundo. Em 2013, a Poli entrou em contato com a rede e passou a fazer parte dessa rede internacional, comenta o professor.

A disciplina “Projeto Aplicado de Inovação” também faz parte de projetos do Programa “Product Development Project” (PDP), gerido pela Universidade de Aalto, na Finlândia. Esse programa funciona de forma semelhante a Rede SUGAR, os alunos finlandeses, junto com os estudantes de instituições no exterior, realizam projetos para empresas reais. “Todos os projetos têm uma equipe que é parte da Finlândia e parte de uma outra universidade parceira”, conta Pedro.

Como funciona a disciplina – Após cursar a disciplina “Desenvolvimento Integrado de Produtos”, o professor Zancul forma grupos com base nas características e habilidades dos alunos, e encaminha os estudantes para os projetos em específico, que são criados a partir de demandas de empresas reais, parceiras da rede de instituições de ensino. Os alunos devem manter contato e submeter seus avanços no desenvolvimento da solução a profissionais das empresas. A partir das demandas, as universidades selecionam os projetos e suas instituições parceiras, e as equipes multidisciplinares e internacionais são criadas.

Os projetos internacionais têm duração de um ano acadêmico e seguem o calendário escolar do hemisfério norte, por isso são realizados de setembro a junho. Como envolvem alunos de diversos países, a maior parte das atividades sempre foi realizada na modalidade remota, e os politécnicos faziam até três viagens ao exterior ao longo de cada projeto. A primeira era no início das atividades, com o intuito de os membros se conhecerem e planejarem os trabalhos, a segunda era na metade do projeto e a última era para os estudantes participarem da exposição de todos os projetos. Com a pandemia, as viagens não puderam ser realizadas e os projetos foram feitos totalmente online.

Na edição de 2020-2021 da disciplina, a Poli contou com quatro equipes, sendo três em projetos da Rede SUGAR e uma no Programa Finlandês. Conheça os projetos internacionais desenvolvidos por alunos da Poli:

Projeto com a d.school Paris

Um dos projetos foi feito em parceria com a d.school Paris, que contou com a participação de quatro alunos da Poli, entre eles de Giulia Cardella, e três estudantes da França. O projeto foi destinado a empresa francesa de vidros Saint-Gobain.

“O nosso projeto acabou sendo um pouco diferente, porque a equipe da França tinha temas diferentes, mas a gente trabalhava junto com a mesma empresa, mas resolvendo problemas diferentes”, conta Giulia sobre a relação com o grupo francês no projeto. Mesmo não trabalhando exatamente no mesmo desafio, eles estavam em contato, pois precisavam realizar apresentações e outras atividades em conjunto.

A demanda da Saint-Gobain era que eles encontrassem uma solução para como a empresa poderia servir melhor seus clientes. “Então, a gente tinha que tentar quais eram os principais clientes e negócios, para quem prestavam serviço e eram fornecedores. Para a gente tentar entender onde poderíamos atacar o problema”, explica Giulia.

“Acho que foi bastante positivo, consegui entender como que um projeto funciona em uma empresa real”, fala ela sobre e experiência com a disciplina. Além disso, a experiência propiciou enriquecimento cultural, a partir do contato com a parte francesa da equipe e com os funcionários da empresa, e uma oportunidade para praticar o inglês.

Segundo Giulia, para participar dos projetos é “necessário ser uma pessoa dedicada e que queira ver o projeto crescer, porque há uma grande demanda de trabalho”. Também é importante que o estudante seja determinado, organizado e tenha espírito de liderança. Ser comunicativo e ter conhecimentos sobre softwares pode ajudar.

Projeto para o Instituto de Recursos Naturais da Finlândia

Por Adriano Antongiovanni, Bruna Signorelli e Pedro Pires

Os alunos participaram de um projeto do PDP para o Instituto de Recursos Naturais da Finlândia. O instituto possui várias iniciativas para auxiliar os agricultores e pescadores locais. Os politécnicos fizeram parte da equipe que buscava otimizar o processo de pesca, visto que na Finlândia os pescadores têm redes enormes que ficam espalhadas pela costa e têm que visitar essas redes para verificar se há peixes. 

“O problema é que há um gasto de combustível e de tempo muito grande para um pescador ir em várias redes, sendo que, em várias vezes, as redes estão vazias. Então, o nosso objetivo era exatamente criar um dispositivo que pudesse ser colocado dentro dessas redes para que fosse contado os peixes que estão entrando na rede, e o pescador soubesse qual o melhor momento de ir até a rede coletar os peixes”, acrescenta ele.

O Instituto deu abertura para que os estudantes pudessem desenvolver a solução da forma que preferirem. “Isso foi uma maneira muito legal da gente aplicar os conceitos que aprendemos”, comenta Pedro. Além disso, a experiência também propiciou que os politécnicos aprendessem a lidar com diferenças na forma de trabalhar e entrassem em contato com diversas culturas. “Essa experiência abriu muito a minha cabeça para que existe um mundo muito maior, muito mais misturado. Isso também de uma certa maneira ajuda muito na criatividade e a pensar de maneira mais aberta”, completa Pires.

Projeto para a Nestlé

Por Almir Ribeiro, Lorena Fernandez e Pedro Santos

Os estudantes da Poli, Almir Ribeiro, Lorena Fernandez e Pedro Santos, participaram de um projeto, junto a Hasso Plattner Institute da Alemanha, para a Nestlé. “Nosso foco era justamente o compartilhamento de conhecimento para evitar o trabalho duplo”, conta Pedro sobre a demanda da Nestlé. Devido ao grande tamanho da empresa, muitas vezes, dois grupos de funcionários estavam trabalhando em projetos semelhantes, mas um não sabia da existência do outro, o que impossibilitava que ambos pudessem trocar informações e trabalhar juntos. Para evitar o trabalho duplo, os alunos criaram uma plataforma de colaboração. “É uma plataforma de recomendação de projetos e de artigos”, acrescenta Lorena. 

Projeto com a faculdade de Trinity em Dublin

Por Diôgo Lopes, Gabriel Rodrigues e Natalia Akemi

A disciplina da Poli também realizou um projeto com a faculdade de Trinity, situada em Dublin, na Irlanda. O projeto era uma demanda da empresa Fazenda Cubo, uma fazendo urbana que produz utilizando o método hidropônico, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Os alunos Diôgo Lopes, Gabriel Rodrigues e Natalia Akemi

são os integrantes brasileiros desse projeto. O projeto teve como objetivo explorar formas de uma fazenda urbana se conectar com seus clientes por meio da proximidade das pessoas com o ato de comprar seus alimentos.

Na maioria dos projetos da disciplina, as empresas estão localizadas no exterior, e como a Fazenda Cubo era brasileira, os alunos da Poli puderam realizar um trabalho mais próximo, incluindo visitas. “A gente teve muito mais contato para conhecer o local, para falar com os clientes e com isso ir desenvolvendo as possíveis soluções”, conta Diôgo.

Além de o projeto contar com alunos da Poli e irlandeses, ocorriam reuniões com todos os participantes da rede, estudantes de outros países. Dessa forma, os alunos aprenderam a como lidar e se adaptar com o fuso horário, as rotinas e os calendários acadêmicos diferentes. Como a Irlanda é um país anglófono, Diôgo percebeu que, por mais que sua equipe falasse inglês muito bem, “quem domina a língua domina geralmente as reuniões”. Por isso, ele reforça a importância de investir no aperfeiçoamento do idioma. Ele também notou que os estudantes estrangeiros, mesmo sendo engenheiros, possuíam habilidades em outras áreas, como design e comunicação, o que auxiliou no projeto.

“Eu acho que realmente vivia um fluxo de trabalho de uma empresa que tivesse tocando um projeto com início, meio e fim. Então, essa confiança de trabalhar em um projeto internacional e entregar um bom resultado foi algo muito valioso”, conta Diôgo.

“Não é um projeto de problema de livro que você vai resolver, então, não tem resposta pronta. Isso é interessante, porque, geralmente na graduação de engenharia, existe uma resposta já definida que vamos ter que chegar. Para esse problema [proposto pelo projeto] não tem resposta, a resposta vai ser o que você juntar de subsídio para poder propor, testar e ver se realmente é possível”, explica o politécnico sobre o diferencial da disciplina.

Como participar da disciplina

Para cursar a disciplina “Projetos Aplicados de Inovação”, no período de matrícula do primeiro semestre, os alunos devem se matricular na optativa livre “Desenvolvimento Integrado de Produtos”, que é aberta a todos os alunos da USP. Durante o semestre dessa matéria, os professores envolvidos selecionarão os(as) estudantes interessados(as) que farão parte dos projetos.

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