Disciplina idealizada por docentes da Escola Politécnica acolhe ingressantes com dificuldades em matemática elementar
Participaram da eletiva calouros de cursos de exatas da Universidade de São Paulo no primeiro semestre de 2024
A disciplina Fundamentos da Matemática Elementar, criada pela Comissão de Inclusão em Pertencimento e pela Comissão de Graduação da Escola Politécnica (Poli) da USP em parceria com a Pró-Reitoria de Graduação e a Comissão de Graduação do Instituto de Matemática e Estatística da USP, nasceu ante a uma situação recorrente na Poli: a dificuldade de adaptação e acolhimento de alunos ingressantes no ambiente acadêmico.
A Escola Politécnica é um dos principais centros de pesquisa na área de exatas do Brasil e tem uma célebre reputação em sua exigência de ensino. Por ano, a instituição recebe 870 novos alunos. Os calouros são apresentados a um conjunto de disciplinas basais, essenciais para a continuação dos cursos de engenharia.
Dentre elas estão cálculo I, Física I e Álgebra Linear. O primeiro contato com a Universidade é complexo, principalmente quando se tem de enfrentar disciplinas desafiadoras.
Por isso, a USP conta com as Comissões de Inclusão e Pertencimento (CIP), responsáveis por garantir a permanência dos estudantes e acolhê-los em suas primeiras etapas de adaptação.
A professora Anarosa Brandão, presidente da CIP da Poli e uma das idealizadoras da disciplina “Fundamentos da Matemática Elementar”, conta que o projeto surgiu como uma ação emergencial que tinha como principal intuito reduzir o número de reprovações nas matérias base.
Além disso, a professora acrescenta que a iniciativa consolidou-se a partir de um olhar humanizado sobre o grau de dificuldade dos anos iniciais da Poli. O acolhimento efetivo dos alunos na USP, em especial na Escola Politécnica, foi o fator priorizado na construção da disciplina.
“Fundamentos da Matemática Elementar” foi essencial para que os alunos pudessem continuar suas jornadas na graduação, como foi o caso de Heitor Novaes Ottoni, aluno ingressante no curso de engenharia química que fez a disciplina no primeiro semestre de 2024. Heitor contou que a disciplina deu uma base sólida de conteúdo e aprendizagem para que ele pudesse continuar no curso.“A disciplina mostra que a matemática não precisa ser mais complexa do que ela já é. Ela mostra meios coesos de explicar sobre um tema fundamental de forma clara e fácil”, pontua Heitor.
A disciplina em prática
“Fundamentos da Matemática Elementar” teve início em maio de 2024, e foi ministrada de forma híbrida para toda a comunidade de cursos de exatas da USP. Sua descrição oficial aponta que o intuito da disciplina é apresentar tópicos de matemática elementar e capacitar os alunos a interpretarem e resolverem problemas sob a ótica da matemática de nível superior nas disciplinas introdutórias de cálculo e álgebra linear.
Além das aulas expositivas, a disciplina contou com aproximadamente 26 monitores que instruíram grupos de alunos de forma presencial, 2 horas por semana. A estratégia visou garantir que os alunos matriculados na disciplina recebessem um auxílio próximo ao longo do curso.
A disciplina contou com um quórum de 534 matrículas, das quais 102 foram da Escola Politécnica. Para se inscrever, os únicos pré-requisitos eram que o aluno fosse ingressante em algum curso de exatas da Universidade de São Paulo.
Em uma primeira interação, foram mais de 640 inscritos para a eletiva, mas muitos eram alunos de anos avançados que reprovaram em disciplinas como cálculo e álgebra linear. Por isso, segundo a professora Anarosa, a disciplina será oferecida novamente no segundo semestre. Dessa vez, o público-alvo seria alunos de outros anos da graduação que, assim como os ingressantes, sentem dificuldades no conhecimento básico de matemática.
As pessoas que se matricularam na disciplina tiveram a possibilidade de trancar matérias bases do primeiro semestre. Dessa forma, o aluno não teria um aproveitamento negativo ou reprovação, e ainda teria créditos com a disciplina de Matemática elementar.
Os efeitos e resultados da disciplina ainda não foram totalmente apurados, já que os alunos farão a avaliação presencial final em agosto. Ainda assim, já é possível observar uma significativa mudança no perfil daqueles que cursaram a disciplina, segundo a professora Anarosa.
“Do ponto de vista de acolhimento, a disciplina foi muito positiva e bem sucedida. Os alunos perceberam que a Universidade olhou para eles”, finaliza a professora. Os professores envolvidos foram a professora Anarosa e Fernando Kurokawa da Poli, e Vinícius Morellli Cortes, do IME.