FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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No Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial, dia 21 de março, das 20h às 22h, a Escola Politécnica (Poli) da USP e a Universidade Zumbi dos Palmares realizaram um ciclo de palestras com diversas personalidades da área de educação, tecnologia, justiça e saúde pública para debater sobre aspectos do racismo estrutural. O evento contou com a participação do diretor da Poli, professor Reinaldo Giudici; do reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, professor José Vicente; do doutor pela Poli, professor Marcio Roberto da Silva Oliveira; do diretor do Instituto Turing, Ronaldo Mota; da doutoranda da USP, professora Merlin de Souza; e do professor da Poli, José Reinaldo Silva.

O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, professor José Vicente, iniciou o evento relatando como foi definido o Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial pela ONU. A data é uma referência ao massacre de 69 civis, além de mais de 186 feridos, que aconteceu em 21 de março de 1960, na cidade de Shaperville, Africa do Sul, pelas forças do apartheid. Segundo o docente, o levante foi iniciado pelos moradores mais simples de Shaperville que se rebelaram contra o apartheid e “a norma desse Estado Legal estruturada em cima de um pensamento filosófico e histórico e de uma cultura que pretendia distiguir as pessoas pela sua capacidade de compreensão e de conhecimento que tivesse subordinada a uma dimensão de raça, de cor de pele e origem”. 

O professor acrescentou que o regime não tentava só distinguir, mas também restringir as pessoas dentro de uma território, por meio de uma divisa que só uma parte da população poderia atravessar. “O território se definia como um parâmetro para dizer até onde ia a cidadania de qualquer um dos cidadãos sul-africanos da época e quanto custaria a ousadia de tentar sobrepor aquela risca de giz que estava colocado como limite que, ao final, separava as pessoas”. Esse limite era algo artificial que pretendia estruturar como algo natural um sistema que estava estruturado em cima da opressão e do sentido de determinação pela força o direito e uma liberdade que se almejava.

De acordo com o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, o movimento de Shaperville foi importante para a África do Sul, visto que ele incentivou que outros levantes ocorressem. Além de que com a voz forte de Nelson Mandela, Shaperville se juntou com o esforço pela liberdade do povo sul-africano.

O docente finalizou sua palestra falando que o sonho de todos que lutaram contra as diversas formas de violência e discriminação racial devem ser exemplo para que o Brasil seja o país de todos os brasileiros. Além disso, ele disse que sem combater o racismo e a discriminação não será possível atingir os anseios do conhecimento e da educação.

Na sequência, o diretor da Poli, professor Reinaldo Giudicci, abordou a importância de debater sobre a discriminação racial dentro dos espaços acadêmicos. Ele tratou da implantação de políticas de cotas na USP, que está começando a mostrar resultados. Porém, segundo o diretor, apenas implementar as cotas não é a solução de todos os problemas, caso não se combata o racismo e a discriminação. Ele terminou agradecendo a todos que contribuíram com a realização do evento.

Palestra Racismo e Saúde

A professora Merllin de Souza, doutoranda da USP e co-fundadora do Núcleo Ayé, primeiro coletivo negro da FMUSP, apresentou a palestra Racismo e Saúde. Na exposição, a docente explanou as lutas e as conquistas do Movimento Negro em prol da sua saúde e as condições materiais e sociais de vida da população afrodescente brasileira. Ela também explicou as diferenças entre a desigualdade e a iniquidade. Enquanto a desigualdade é mensurável, baseada nas diferenças entre situações socioeconômicas, a iniquidade são diferenças, que além de evitáveis, são também injustas, e podem ser comparadas e avaliadas. Ela citou como exemplo a diferença no acesso a serviços de uma cidade. A iniquidade é algo presente na saúde brasileira, visto que as pessoas negras costumam ter menos acesso a saúde e sofrem com a discriminação durante o atendimento médico. A doutoranda finalizou parafraseando Angela Davis, filósofa, professora e ativista antirracista estadunidense. “Não basta não ser racista, precisa ser antirrascita, e pra já!”.

Palestra Racismo e Tecnologia

O professor Marcio Roberto da Silva Oliveira, doutor pela Poli, realizou a palestra “Racismo e Tecnologia”, na qual abordou sobre como barrar o racismo tecnológico e o combate ao racismo como arma de guerra. Em relação ao racismo tecnológico, muitas ferramentas tecnológicas, como os algoritmos, são enviesados e apresentam comandos racistas, como sistemas biométricos que têm dificuldade de identificar pessoas negras. Para combater o racismo tecnológico é preciso combater e denunciar o viés algorítmico, o racismo digital e o racismo estrutural, e incentivar a diversidade e a representatividade para melhorar a tecnologia e o ambiente das empresas desse setor.

 

Segundo o docente, muitas vezes, o combate ao racismo costuma ser utilizado na internet para intimidar oponentes, promover as culturas do cancelamento e da “lacração”, mobilizar grupos e como apelo a pautas morais e costumes. Essa situação é conhecida como woke ou identitarismo. Esses problemas também ocorrem dentro das Universidades, como a inclusão com segregação, a inclusão subalterna e a inclusão por assimilação. O professor também analisou a eficiência dos processos de inclusão e ausência de igualdade de oportunidades na seleção na Poli.

Palestra Racismo e Educação

O coordenador do Instituto Turing, Ronaldo Mota, presidiu a palestra “Racismo e Educação”, na qual falou que a educação é a chave para um futuro melhor. De acordo com o coordenador, a educação não é sinônimo da igualdade, pois a educação celebra que cada pessoa é única, porém a educação busca um mundo mais homogêneo de oportunidades para todos.

Mota também abordou que a educação se transformou ao longo do tempo, porque, no século passado, as pessoas eram consideradas bons profissionais, quando dominavam um seguimento do conhecimento. Já atualmente, é almejado um conhecimento sobre áreas específicas, porém, também o aprendizado e o autoconhecimento sobre si mesma e suas formas de aprender.

Ele explicou que o individuo negro ser incentivado a aprender e a ter conhecimento e consciência sobre a sua própria negritude pode ser um elemento muito positivo, visto que, a partir do momento que ele é estimulado a ter essa persepção, ele passa a entender quem ele é e se enxergue como um negro educando e como alguém que vai se estimular constatemente para consciências progressistas sobre como ele aprende.

Considerações finais

Após as palestras, foi aberto um espaço para o público enviar suas dúvidas e perguntas para os palestrantes. As perguntas e as respostas envolveram temas como educação, saúde, ciências, justiça, democracia, desracialização e letramento. Na sequência, os participantes do evento proferiram as suas considerações finais sobre o tema, nas quais abordaram suas esperanças para o futuro e agradeceram a realização do evento.

 

Assista ao evento na íntegra.

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