FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Prof. Dr. Francisco João Humberto Maffei – 1953-1962

FranciscoJoaoHumbertoMaffeiExercício: 1953 a 1962

Do enlace entre Francisco Maffei e Victoria Piffo Maffei, nascia na cidade de São Paulo em março de 1899, Francisco Humberto Maffei. Dedicado estudante, adentrou a Escola Politécnica de São Paulo, titulando-se no ano de 1920 em Engenharia Química.

Na esteira de sua formatura, já em 1921 foi contemplado com bolsa de estudos oferecida pelo Ministério da Agricultura, o que lhe possibilitou seguir rumo aos Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos aperfeiçoando-se em tecnologia bioquímica e de alimentos, ali assistindo a diversas disciplinas que, sem dúvida, contribuíram para aumentar seu arsenal de conhecimento. Assim, de retorno ao Brasil, as ofertas de emprego surgiram – Maffei assumiu o cargo de diretor do laboratório de química e da secção de sub-produtos industriais do Frigorífico Wilson do Brasil.

Na Escola Politécnica de São Paulo, galgou paulatinamente uma sólida carreira. Em 1925, tornou-se preparador do laboratório de físico-química, eletro-química e bio-química. De 1928 a 1933 saltava à designação de professor substituto e depois adjunto de físico-química e bio-química. No ano de 1945 foi nomeado catedrático, lecionando até 1964, quando se aposentou.

Da mesma forma, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas trilhou caminho de esforços, publicando mais de quarenta trabalhos acerca dos experimentos realizados no âmbito de físico-química, química analítica e tecnologia química. Em 1934, com a criação do Instituto, foi o idealizador da Divisão de Química e seu primeiro diretor. Logo, sua influência acadêmica pairava não somente sob os assistentes de então, Ivo Jordam e Fausto Walter de Lima, como sob outros docentes do próprio curso de engenharia química e variados profissionais do IPT. “Pode-se dizer que os professores Francisco João Humberto Maffei, Theodureto Ignácio H. de Arruda Souto e Renato Fonseca Ribeiro e seus assistentes implantaram definitivamente a pesquisa sistemática em Engenharia Química a partir de fins da década de 40.” (Artigo do professor Giovanni Brunello, Poli-memória, 1993).

Assim como destacado membro em meio ao corpo técnico do IPT, no ano de 1958 foi designado para assumir o cargo de superintendente do Instituto, função essa de responsabilidade e prestígio na medida em que era selecionada pelo governador dentre um rol de três nomes indicados pelo Conselho, por sua vez, composto de quatro representantes da Congregação da Politécnica, dois pertencentes à Federação das Indústrias e dois integrantes do Instituto de Engenharia. Em relatório do mesmo ano, o professor agradeceu a iniciativa do Estado em fomentar a criação e incentivar o desenvolvimento de instituições de pesquisa. No entanto, pontos passíveis de sua crítica foram os fatores do Estado como único provedor de recursos e as recorrentes interferências de ordem político-partidária que eram imputadas ao Instituto. Assim, denotando o perfil ético característico das elucubrações dos membros da Escola Politécnica de São Paulo, afirmava que “o trabalho honesto e sério é o melhor antídoto para a intromissão da política na vida das instituições”. Ademais, seu compromisso girava em torno da propagação qualitativa e quantitativa das pesquisas de tal maneira que em seguimento aos seus trabalhos na instituição, tomou parte da Junta de Planejamento e Controle de Pesquisas. “Vida de laboratório, permite criar, produzir algo lhe enobrece o espírito e beneficia a coletividade.” (Relatório do IPT, 1958).

Nesse sentido, desde 1952 já colaborava com o Conselho Nacional de Pesquisas, então sob a presidência do Almirante Alvaro Alberto e constituída pelos também professores Luiz Cintra do Prado, Olímpio da Fonseca, Cesare Mansueto Giulio Lattes (César Lattes) e Hervásio de Carvalho. Dentre as empreitadas que aí empreeendeu está a viagem aos Estados Unidos, onde, em contato com a US Atomic Energy Commission, deu início à cooperação entre Brasil e Estados Unidos no âmbito de assuntos relacionados à energia nuclear. Decorridos dois anos ainda representou o Conselho, ao lado de Cintra do Prado e Renato Fonseca Ribeiro, no primeiro simpósio sobre energia atômica do American Institute of Chemical Engineers, realizado na cidade de Ann Arbor.

Na Escola Politécnica de São Paulo, Maffei constituía-se em um dos principais baluartes de inovações. Nessa saga, inaugurou o primeiro Centro de Microscopia Eletrônica que abriu suas portas com a doação de um microscópio pela prefeitura da capital paulistana. Assim, em conjunto com Homero Barbosa e Cintra do Prado responsabilizou-se pela implantação e orientação dos trabalhos que ali passaram a tomar lugar.

Desta forma, com o nome sempre envolto na atmosfera de incremento e desenvolvimento tecnológico do país, o docente dedicava-se com afinco em ampliar áreas de pesquisa – veja-se, por exemplo, a criação de centros como o acima mencionado – e propiciar aos estudantes da Escola sólida formação. O professor Ruy Aguiar da Silva Leme rememora situações peculiares, mas que demonstram toda a iniciativa do mestre: “No ano de 1954, eu procurei o professor Maffei, então diretor da Escola, para pedir verba para publicar uma revista de Estatística. Ele me respondeu que eu me preocupava muito com a Estatística, e que a parte mais importante para o Brasil eram as Organizações Administrativas. Eu fiquei com aquilo na cabeça.

No ano de 1956, voltei a procurá-lo, propondo a criação do curso de Engenharia de Produção e o convênio com o Ponto IV. Foi um ato corajoso dele, aceitar esta proposta, principalmente, partindo de um moço de 31 anos de idade, que era minha idade na época.

A primeira turma desse curso foi formado em 1957”. (SANTOS, Maria Cristina Loschiavo dos. Entrevista com o professor Ruy Aguiar da Silva Leme, 1982).

Em relação ao seu desempenho em sala de aula, o então aluno Giovanni Brunello comenta que ele fora “bom professor, ensinou muito bem físico-química, citava muito os métodos para a obtenção de dados de laboratórios, e mostrava como obter ou achar dados para projetos.

Citava dados que tinha obtido e como os obteve. Para mim, foi muito útil para aprender uma metodologia; era uma aula bastante dinâmica.” (SANTOS, Maria Cristina Loschiavo dos. Entrevista com o professor Giovanni Brunello, 1982). Com essas atitudes, Maffei cativava os estudantes e despertava vocações à pesquisa.

Tamanha era a sua iniciativa, que foi vice-diretor, comandando a Escola ao lado do professor Antônio Carlos Cardoso e durante os anos de 1953 e 1962, acabou por tornar-se diretor.

O período de sua gestão também acompanhou a transferência de alguns cursos da Politécnica para as instalações do campus universitário do Butantã. Observador do espaço físico destinado à Escola de engenharia, propulsionou contundentes críticas ao perceber que os prédios, demasiado pequenos, não comportavam adequadamente o número de alunos inscritos.

De suas mãos, quando esteve à frente da direção, surgiu e foi elaborado o curso de Engenharia Naval. Além do que, Maffei foi grande incentivador da criação do Departamento de Química que, instituído em 1955, já começava a dar frutos. Com o aval dado, o professor Fonseca incumbiu-se da publicação semestral do Boletim do Departamento de Química que, em 1963, passou a denominar-se Boletim de Engenharia Química da EPUSP, refletindo a consolidação auferida.

Nos registros de um debate sobre temas universitários ocorrido em agosto de 1961, o professor deixou inscritos seus ideários acerca do papel e importância da engenharia na construção do mundo contemporâneo: “A cosmonave que acaba de captar a admiração do mundo pelo seu extraordinário feito é conseqüência do desenvolvimento científico e da aplicação dessa ciência e da resultante tecnologia … problemas menos complexos que dizem respeito ao bem estar do paiz exigem também um desenvolvimento tecnológico fundamentados em conhecimentos científicos e é das nossas escolas e faculdades e dos nossos laboratórios que deverá sair esse contingente de conhecimentos (…) Cuidemos da formação de homens dotados de sólidos conhecimentos em primeiro lugar, porque só assim contribuiremos para o progresso científico e tecnológico de que o paiz necessita.”

Trilhando a jornada acadêmica, foi nomeado pelo então governador do Estado vice-reitor da Universidade de São Paulo, cargo que desempenhou entre 1959 e 1962. Da mesma forma, todas essas incumbências não o impediam de integrar ativamente a uma série de organizações, como: Academia Brasileira de Ciências; American Chemical Society; American Eletrochemical Society; American Institute of Chemical Engeneers; Associação Brasileira de Química; Sociedade de Farmácia e Química de São Paulo; Associação Brasileira de Metais e a Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência. O que ressalta, aliás, não só o mérito de seus trabalhos, mas o fator de estar inteirado dos preceitos mais atuais da área.

Na Escola Politécnica, propagava todo o conhecimento acumulado por anos e, nas palavras do professor Tharcísio Damy de Souza Santos,“com sua vocação de formador e orientador de grupos de pesquisa, nesta Escola, foi dos que mais propugnaram e realizaram pelos cursos de doutoramento, pelo desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, para as suas teses e para os concursos de docência livre. Por isto, foram seus discípulos e foram por ele orientados pessoalmente os primeiros doutores em Engenharia química nesta Escola.” (Artigo do professor Giovanni Brunello, Poli Memória, 1993).

Francisco João Humberto Maffei tinha, assim, o perfil de um homem empreendedor e incansável na busca pelo desenvolvimento de pesquisas no país. Tanto, que foi homenageado pela FAPESP por seus inúmeros contributos ao âmbito tecnológico do Estado de São Paulo, assim como recebeu a honraria de Professor Emérito da Escola Politécnica em 1965. Trabalhou por anos a fio, veio a falecer em 1968.

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