FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Prof. Dr. Antonio Carlos Cardoso – 1950-1953

Exercício: 1941 – Mar/Jul e 1950 a 1953

Da união entre Manoel Cardoso de Almeida e Silva e Anna Claudina Cardoso, nasceu em fevereiro de 1889, na cidade do Rio de Janeiro, Antonio Carlos Cardoso. Formou-se, no ano de 1918, como engenheiro eletricista pela Escola Politécnica de São Paulo e, segundo relatos da época, obteve o título “depois de um curso brilhante. Na Escola ainda perdura entre os muitos alunnos que foram seus contemporaneos a fama de estudante intelligente e applicado que elle justamente gosava entre os seus collegas, e de que são attestados eloquentes as numerosas notas e valiosos estudos que escreveu (…)”. (Revista Politécnica, 1919).

Diversas etapas tiveram lugar em sua caminhada como estudante. No entanto, uma em especial, é reveladora de todo o seu apreço pela instituição. Por ocasião de ser orador do Grêmio e da comemoração do 13º aniversário desse, proferiu as seguintes palavras: “E é com o coração enaltecido por esses nobres sentimentos, com caráter fortalecido pela disciplina que aqui observamos, e com a mente enriquecida pelo saber que aqui adquirimos, que trabalharemos com amor e afim, unidas as almas pelo mesmo ideal de engrandecimentos pátrio”. (Revista Politécnica, 1917).

No alvorecer da carreira, sua trajetória foi imbuída de atividades em engenharia propriamente. Foi engenheiro da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, onde realizou obras tanto nos contornos de sua especialidade, como nas áreas de concreto armado, água e esgoto, etc. Viajou para os Estados Unidos, ali trabalhando para a General Eletric Company. De volta ao país, empreendeu trabalhos na Casa Byington e “devido a sua capacidade, o sr. Sydney Cooper, diretor da eletrificação de estradas da Westinghouse, convidou-o para voltar aos Estados Unidos, a fim de assistir a construção das locomotivas encomendadas pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro”. (Revista Politécnica, 1919). O que, já denota, aliás, destaque nos quadros profissionais desde o início.

Assim, pela destreza de seu mister, decorrido cinco anos (1922) entrou para o corpo docente da Escola como professor substituto de Física Experimental. Versado no âmbito de eletricidade, no início da década de 1930 foi convidado a compor a comissão estadual da secretaria de aviação que representou o Estado de São Paulo na Conferência Mundial de Energia, realizada em Berlim, na Alemanha. Com o desenrolar da vida acadêmica, no ano de 1936, foi nomeado catedrático de Eletrotécnica – parte 3. Ademais, para além dos conhecimentos em elétrica, o professor semeou saberes em outros campos da engenharia, como a mecânica e a construção civil.

Enquanto docente, Cardoso desempenhou seu trabalho com absoluta dedicação e “aos seus profundos conhecimentos, sobresaem os seus dotes moraes. Rectidão de caracter, modestia, bondade, fineza de perfeito cavalheiro eis, entre outras, as armas com que arrebata a estima d’aquelles com que trata”. (Revista Politécnica, 1922)

Lecionando, também não deixava de voltar-se à concepção de projetos. Em 1926, o professor foi incumbido de elaborar um estudo para a eletrificação da Estrada de Ferro Sorocabana. A importância desse feito residia não somente na implementação de inovações tecnológicas cruciais ao crescimento e desenvolvimento de São Paulo, mas na concreta possibilidade de casar o conhecimento produzido em núcleos universitários e as aplicações práticas de tais saberes na vida cotidiana.

O projeto da Estrada de Ferro Sorocabana inseria-se em um contexto de recuperação da mesma que, colocada à sorte das empresas privadas, passava a sofrer enorme deteriorização. Em 1920, voltando a ser patrimônio do Estado, esforços foram delineados no sentido de sua restauração e modernização. E foi sob essa conjuntura, que o então diretor da via férrea, Arlindo Luz, contratou ao politécnico Carlos Cardoso, o qual, por sua vez, com o intuito de elaborar uma profícua proposta para a eletrificação de alguns trechos da ferrovia, seguiu rumo aos Estados Unidos e à Europa, ali coletando os materiais e as informações necessárias à execução de tal tarefa.

Entretanto, seus estudos apontaram para uma problemática. As linhas a serem inicialmente eletrificadas compreendiam partes, por exemplo, entre São Paulo e Santo Amaro, que haviam sido construídas recentemente e não ofereciam, assim, adequadas condições para a sua postação. Além do que, ainda estavam envolvidas dificuldades financeiras referentes às verbas direcionadas à obra e a viabilidade do fornecimento de energia elétrica – o que de fato só veio a ocorrer no final da década de 1930, com a construção da hidrelétrica Itupararanga, na região de Sorocaba. Assim, o imbricamento de todos esses fatores, obstou a implementação das melhorias que acabaram por serem levadas à cabo depois de anos.

Entremeado às atividades da Escola, engajou-se nas questões de defesa da pátria, participando, junto a outros colegas, ativamente no movimento paulista de 1932. A Politécnica, conforme elucidado nas histórias de vida de outros diretores, marcara forte presença nos acontecimentos desse período. Já a Revolução por si, ademais de fomentar possibilidades na direção de alguns avanços tecnológicos, mobilizou diversas camadas sociais, seja de elite ou do operariado em prol da resistência paulista frente aos “desmandos” do governo federal cunhado, então, por Getúlio Vargas. Logo, o professor Cardoso integrou ao corpo popular do Estado, que, a despeito de ter diferentes reivindicações, constituiu um grupo que resistiu por quase três meses às tropas federais.

Da mesma forma deteve-se aos cargos administrativos na Universidade de São Paulo. No Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), foi membro do conselho de administração na vaga do professor Henrique Jorge Guedes. E por duas vezes tomou à frente na direção da Escola, a primeira por quatro meses – março a junho de 1941 – dado que pediu exoneração do cargo para integrar, junto ao governo federal, a comissão de elaboração de projetos acerca da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Já na segunda gestão, o mestre Cardoso, nomeado pelo governador Adhemar Pereira de Barros, permaneceu no cargo por três anos (1950 a 1953). E, nesse mesmo intervalo de tempo, foi ainda vice-reitor ao lado do médico Ernesto de Moraes Leme, reitor em exercício.

Durante a sua última gestão, dentre os empreendimentos estabelecidos, esteve a construção no Laboratório de Hidráulica da Politécnica e do primeiro modelo para a Usina do Limoeiro (Armando Salles de Oliveira), no Rio Pardo, sob coordenação do professor Carlito Flávio Pimenta.

Como pode-se perceber, um suscedânio de variadas atuações preenchia o currículo do professor. Além das realizações já explicitadas, em meio das quais figura a Usina Siderúrgica Nacional – considerada um dos tripés que alavancaram a industrialização no país pela produção de aço –, em 1946 integrou, mais uma vez a serviço do governo federal, a comissão de técnicos responsáveis pelo estudo da localização onde seria instalada a nova capital brasileira. Comandou, ainda, a diretoria do Serviço de Defesa Passiva Anti-aérea do Estado e foi presidente do Conselho Estadual de Energia Elétrica – um anexo ao departamento de águas e energia elétrica-, nomeado em 1952 pelo, na época, ex-governador e professor politécnico Lucas Nogueira Garcez. Ao lado deste último e de Rubens Guedes Jordão, decorridos seis anos, foi também designado para examinar as propostas engendradas à concorrência pública para a escolha e aquisição de equipamentos elétricos para a Usina de Jurimirim, às margens do Paranapanema.

Antonio Carlos Cardoso, em 1960, contando com 71 anos de idade, foi condecorado pela rainha Elizabeth II da Inglaterra com o título de Officer of the Most Excellent Order of the British Empire. No ano seguinte, o mestre de tanto feitos para o desenvolvimento tecnológico nacional, jubilou-se recebendo em 1964 o título de Professor Emérito da Escola Politécnica de São Paulo.

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