FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Evento da Poli-USP aponta as vulnerabilidades dos escritórios
de projetos e a importância de melhores práticas de gestão.

Se a tendência da economia se mantiver em crescimento, os escritórios brasileiros de arquitetura terão que vencer vários desafios para não perder terreno e poder competir em pé de igualdade com os escritórios estrangeiros. A gestão de projetos será mais do que nunca necessária para garantir a competitividade das empresas de projeto. Essa foi uma das conclusões de uma mesa-redonda que reuniu arquitetos renomados na última sexta-feira (30/11), em São Paulo, durante o evento “Soluções 5 – Programa para desenvolvimento gerencial das empresas de projeto”, que foi realizado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

A mesa-redonda, que abordou a questão da gestão de projetos em tempos de crescimento, contou com a participação dos arquitetos Henrique Cambiaghi, Paulo Segall, Rodrigo Marcondes Ferraz, Eduardo Nardelli, além do organizador do evento, o prof. Silvio Melhado, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli, que atuou como moderador do debate.

A tendência do mercado, segundo Nardelli, que é presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura – AsBEA, é haver uma demanda maior de projetos que priorizem a qualidade, visto que a concorrência dos escritórios estrangeiros tende a aumentar com a estabilização da economia brasileira. Para Cambiaghi a indústria da construção tende a seguir o mesmo caminho que a indústria automotiva brasileira. “Há 20 anos, nossos carros eram chamados de carroça; com a abertura do mercado, a tecnologia dos veículos nacionais foi sendo pouco a pouco equalizada com os importados”, ressaltou. O arquiteto Ferraz citou como exemplo o caso de grupos de hotelaria que, ao construírem no Brasil, estão exigindo um patamar de qualidade dos projetos e dos materiais utilizados similar ao que estão acostumados a ter lá fora.

Para fazer frente a isso, um dos pontos enfatizados pelos palestrantes é a necessidade de os escritórios se prepararem para atender às normas de desempenho e as exigências em sustentabilidade – uma tendência inexorável. “As construções estão cada vez mais sofisticadas em termos de desempenho”, ressaltou Nardelli. O arquiteto, completou Segall, tem que ser hoje um profundo conhecedor de normas técnicas. “O Procel Edifica, hoje uma norma de uso voluntário, pode a qualquer momento se tornar obrigatório”, alertou. Além das normas de desempenho, Cambiaghi ressaltou a importância de estar a par das leis. “Se algo escapa do projeto, o prejuízo financeiro e de imagem pode ser grande.”

Outro aspecto abordado pelos palestrantes foi relativo à atualização tecnológica. “Boa parte dos escritórios ainda usa o AutoCAD para mimetizar o processo de trabalho que era feito na prancheta; são poucos os que usufruem desta ferramenta plenamente”, disse Nadelli. “Precisamos sair da representação de ideias e adotar a construção virtual do edifício”, enfatizou. “Não dá para colocar estagiários pilotando softwares; isso tem que acabar”, acrescentou.

A necessidade de melhorar a gestão dos escritórios, de um modo geral, foi um consenso no debate.  Foi-se o tempo em que o arquiteto ficava esperando o telefone tocar com um pedido de um novo contrato. Hoje, as empresas precisam ser pró-ativas, ter clareza dos segmentos do mercado que querem atuar e quais estratégias usarão para se destacar neles. O lado artista do arquiteto tem que ser mesclado com o espírito empreendedor. “O contratante quer conversar com um arquiteto que saiba formatar um projeto comercialmente viável”, lembrou Nardelli.

Melhores práticas – O prof. Silvio Melhado, que desde 2006 trabalha com empresas voluntárias para discutir e implantar modelos mais eficientes de gestão, indicou antes do debate os pontos que ele considera mais vulneráveis nos escritórios de projeto. “É fundamental eliminar falhas no controle de documentos, no controle da comunicação, na análise crítica, na coordenação dos projetos e na gestão empresarial”, disse. “É público e notórios casos de construtoras que concretaram uma obra usando a versão errada do projeto”, exemplificou. Para mudar essa realidade, a Poli criou um programa de desenvolvimento gerencial para as empresas de projeto.

“Procuramos mostrar a importância da capacitação tecnológica e gerencial, da necessidade da educação continuada e da consolidação de referenciais técnicos no escopo dos projetos”, ressaltou.  É um modelo de gestão, que se seguido pelos escritórios, possibilita às empresas crescerem com mais vigor, nos tempos bons da economia, ou sentirem menos a recessão, quando a economia não vai tão bem. Até porque, mesmo com a economia estabilizada e o aumento da demanda de projetos, o risco e a responsabilidade das empresas cresceram na mesma medida. Gastos com assessoria jurídica e seguro de projetos já começam a figurar nos custos dos escritórios.

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