FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Iniciativa é parte de uma rede nacional de pesquisas sobre nanotoxicologia ocupacional e ambiental e está focada na saúde e segurança do trabalhador

Pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) desenvolveram a Plataforma HSEnano, um portal que trata de saúde, segurança e risco ocupacional envolvendo a nanotecnologia. Com foco na segurança do trabalho, a plataforma traz pesquisas, vídeos, documentos oficiais e uma lista das principais entidades que estudam ou tratam da regulamentação sobre o tema em todo o mundo. Em 2016, a plataforma deverá ganhar uma nova ferramenta: um sistema de gestão que poderá ser utilizado por qualquer pessoa, de forma gratuita, e que auxiliará na tomada de decisões quanto aos riscos envolvendo a manipulação de materiais nanoestruturados.

Acessada pelo endereço http://www.hsenano.com/pt/ (versão em Português) e http://www.hsenano.com/en/ (em Inglês), a iniciativa faz parte de uma rede nacional de pesquisa sobre nanotoxicologia ocupacional e ambiental. “Dentro da rede, a Poli trabalha em parceria direta com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundacentro na pesquisa sobre modelos de tomada de decisão, desenvolvendo metodologias para que seja possível fazer análises de risco mais consistentes com as características dos nanomateriais”, conta Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva, professor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli e coordenador da plataforma.

Materiais nanoestruturados são muito finos e possuem alta área específica – medida que estabelece uma relação entre a quantidade de superfície de um dado material e sua própria massa. Quanto menor a partícula, maior a área em relação à massa do material, e mais reatividade o material vai apresentar. “Com isso, temos mais chance do organismo vivo interagir com aquela partícula nanométrica, o que muda a questão de toxicidade, a interação biológica, como a célula vai fazer o mecanismo de fagocitose etc”, explica.

Nanotoxicologia é algo relativamente recente, daí a produção científica sobre as questões relacionadas ao impacto e riscos dos materiais nanoestruturados estarem em fase inicial, abarcando um período relativamente curto de tempo. Os nanotubos de carbono, por exemplo, foram descobertos em 1991, e as primeiras questões sobre sua toxicidade e seus riscos surgiram em meados da década de 2000.

Enquanto a ciência trabalha para produzir elementos mais conclusivos sobre a segurança e os riscos da nanotecnologia, os pesquisadores usam o princípio da cautela. Com o passar dos anos, os relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, foram trazendo novas avaliações sobre os riscos dos nanotubos de carbono e em seus mais recentes posicionamentos definiu que eles são potencialmente cancerígenos. “Note que potencialmente não quer dizer que é cancerígeno. Temos muitas pesquisas usando nanotecnologia para justamente combater essa doença”, aponta.

“De qualquer forma, ainda temos grandes desafios nesse campo. Apenas um tipo de nanotubo foi estudado para chegar à recomendação da OMS. Você pode engenheirar a nanopartícula, ou seja, escolher a forma, o tamanho e a composição química que quiser”, alerta. Cada nanopartícula terá comportamentos diferentes, dependendo da aplicação. Uma mesma nanopartícula usada para embalagens de alimento e em um dispositivo eletrônico, por exemplo, vai interagir e se comportar de forma diferente em relação ao meio. “Não podemos tratar as coisas de forma generalizada em nanotecnologia, e isso torna as análises muito complexas”, completa.

Diante de um cenário incerto, os cientistas se movimentam para garantir a segurança. Esse é o propósito da Plataforma HSEnano. “Nosso site é, primeiro, um repositório, mas vamos expandir para que se transforme num sistema de gestão de saúde, segurança e meio ambiente”, conta. Os planos são que, em 2016, a Plataforma contenha ferramentas para o público fazer a gestão no que se refere à segurança e saúde. Os pesquisadores coordenados por Lenz e Silva estão acessando os sites na Internet que tratem do assunto para propor uma ferramenta aprimorada, igualmente bilíngue.

“Estamos estudando e desenvolvendo modelos para ajudar as pessoas a tomarem decisões mais coerentes com o risco associado a cada tipo de material com os qual elas trabalham”, explica. Atualmente, os públicos que estariam mais expostos a eventuais riscos seriam os próprios pesquisadores e trabalhadores de indústrias que utilizam a nanotecnologia e manipulam diretamente materiais nanoestruturados, como os que trabalham na fabricação de tintas e verniz e telas de tablets, computadores e celulares, por exemplo. “A Plataforma vai ajudar as pessoas a entenderem o risco em cada fase e tomar a atitude correta, adotando as proteções adequadas”, diz.

Atualmente, a Plataforma HSEnano disponibiliza documentos e informações de diversas fontes e formatos, compondo mais de mil links sobre saúde, segurança e análise de risco ocupacional. É possível acessar papers (todos são de consulta aberta), vídeos feitos no Brasil e no exterior, relatórios de entidades, agenda de eventos nacionais e internacionais, e um documento para download que explica o que é o sistema de gestão e apoio à tomada de decisão que está sendo desenvolvido, dando como exemplo o nanocarbono. Há mecanismos de busca por palavra-chave e por país, dependendo da categoria acessada.

A HSENANO conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT-Nanomateriais de Carbono), Poli-USP, e do Laboratório de Nanociências Ambientais e da Saúde da Brown University, dos Estados Unidos.

 

Acadêmica Agência de Comunicação

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