FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Depois da cadeira de rodas controlada por celular e do joystick labial para pessoas com tetraplegia, pesquisadores trabalham em sistema de automação residencial para pessoas com deficiência, apresentado no TOM 2015

O mundo todo está atento para as possibilidades que a interatividade – a relação entre o ser humano e o computador – abre para as novas gerações. Mas pesquisadores do Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas da USP (CITI-USP) estão indo mais longe e investigando como a interatividade pode melhorar a vida das pessoas com deficiências.

De acordo com Roseli de Deus Lopes, professora da Escola Politécnica da USP e vice-coordenadora do CITI-USP, a preocupação surgiu quando a equipe participou do Programa Um Computador por Aluno (PROUCA), lançado em 2010 pelo governo federal.

“O PROUCA, do MEC, tinha como objetivo ser um projeto educacional utilizando tecnologia para a inclusão digital. Cada aluno e cada professor das escolas envolvidas receberam um laptop educacional. Mas muitas crianças atendidas nas escolas brasileiras são crianças com alguma deficiência e que têm necessidades especiais que ainda não foram contempladas pelos laptops educacionais e softwares distribuídos. Então começamos com uma proposta aprovada em edital do CNPq para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias assistivas para o PROUCA”, relembra, salientando que a ideia inicial era tentar identificar que tipo de necessidades especiais estavam presentes em escolas do PROUCA e o que existia de tecnologia disponível para pessoas com deficiência nessas escolas.

Paralelamente, Roseli orientava alguns trabalhos de doutorado na Escola Politécnica, incluindo o do engenheiro Marcelo Archanjo, que desenvolveu um joystick labial para controle de cadeira de rodas e diversos outros aparelhos. “Pessoas com tetraplegia têm muita dificuldade de interagir. Existem algumas ferramentas que permitem que a pessoa controle um joystick com o queixo, movendo o pescoço. Mas para que ela mova o pescoço de maneira uniforme, tem de estar com o tronco fixo. E se ela está numa cadeira em movimento, fica mais difícil de controlar. Mas eu me perguntei: será que ela não poderia usar os lábios? Então fui pesquisar se o lábio tinha riqueza de movimentos suficiente para controlar um joystick. E descobri que tinha.”

Archanjo montou um headset com um joystick na altura do lábio, e descobriu que o lábio consegue fazer 62% daquilo que conseguimos fazer com o polegar, controlando um mesmo dispositivo (joystick). “Faz sentido porque, no nosso cérebro, a região que controla os músculos faciais, no córtex motor, é tão grande quanto a que controla nossas mãos”, salienta.

O protótipo do joystick labial gerou patente, por meio da Agência USP de Inovação. “O que notei é que o controle de queixo dificulta a autonomia, porque fica preso na cadeira de rodas. O joystick labial é um headset, que é portátil. Se o sujeito sai da cadeira e vai para a cama, a ferramenta vai junto. Você abre um universo para a pessoa.”

Autonomia pela tecnologia – Archanjo também foi responsável pelo projeto de cadeira de rodas controlada por celular, desenvolvido para o TOM 2014, um evento internacional de tecnologias para pessoas com deficiência “Nossa ideia foi: vamos usar o poder do celular para controlar a cadeira de rodas. E tinha de ser algo fácil de reproduzir: o controle do celular funciona como se fosse o joystick da cadeira”, diz Archanjo.

O projeto controle pelo celular é aberto. Na internet, está disponível a orientação sobre como reproduzir o mecanismo, hardware e software (do app para o celular até o software criado para a caixa de controle que fica no braço da cadeira, e que pode ser colocada em qualquer cadeira motorizada). “Qualquer pessoa que queira adaptar a cadeira a uma certa deficiência, como por exemplo, comandá-la por voz, pode modificar esta app e adaptar o sistema”, afirma Archanjo. Ele diz que nos casos de distrofia, em que a pessoa vai perdendo a força dos membros, tecnologias como o touch são interfaces interessantes. “Às vezes, a pessoa ainda consegue mexer um dedo e esta interface já é o que ela precisa.”

O controle via celular permite, inclusive, que o cadeirante traga a cadeira para perto de si, caso esteja longe dela. “É uma aplicação na qual nós nem pensamos no momento em que fizemos o protótipo. Quem nos abriu a mente para esses usos diversos foram as pessoas com deficiência que testaram a cadeira no TOM 2014”, admite Archanjo.

Roseli lembra que, mais do que desenvolver as tecnologias, é preciso capacitar as empresas brasileiras para que coloquem os dispositivos no mercado. “Um exemplo, é a parceria que temos com a Seat Mobile do Brasil para fazer com que algumas das tecnologias que estamos desenvolvendo cheguem ao mercado. Um dos grandes desafios é conseguir escala para que os produtos possam chegar a quem precisa a preços acessíveis. Neste sentido, buscamos desenvolver soluções tecnológicas que possam ser aplicadas em diferentes produtos, assistivos e não assistivos”, diz a professora que também participa como pesquisadora colaboradora num projeto pioneiro de soluções e processos para aprimorar o acesso e a utilização do transporte aéreo por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, coordenado pelo  professor Eduardo de Senzi Zancul.

Este ano, os pesquisadores do CITI-USP levaram para o TOM 2015 (que aconteceu de 7 a 9 de novembro) uma solução tecnológica para automação residencial especialmente útil para pessoas com mobilidade reduzida. Trata-se de usar um celular ou tablet para permitir que se possa realizar tarefas como acender/apagar a luz, ligar/desligar um eletrodoméstico, etc. “Juntamos circuitos de baixo custo: módulos wifi, relés, interruptores e splugs. A pessoa, com o celular usando o WiFi, pode ligar e desligar as luzes e também acionar aparelhos como ventiladores, por exemplo. Basta que se conecte um dos módulos desenvolvidos entre a tomada e o aparelho que se deseja acionar”, explica Archanjo.

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