FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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 Aumento da oferta de gás natural oriundo dos campos de petróleo do pré-sal transforma o combustível na ‘bola da vez’; cientistas estudam novos usos e tecnologias inovadoras para sua utilização

“O gás natural é estratégico para o Estado de São Paulo e um energético fundamental para o futuro”. A afirmação é do subsecretário de Petróleo e Gás do Estado, Ubirajara Sampaio de Campos, que esteve presente no I Workshop do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural (“Research Centre for Gas Innovation” – RCGI), na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), nos dias 27 e 28 de julho. O evento reuniu coordenadores e pesquisadores dos 28 projetos de pesquisa do RCGI, um centro de excelência apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Grupo BG-Shell, que tem o objetivo de pesquisar inovações em gás natural, hidrogênio e formas de mitigar emissões de CO2. O centro tem o patrocínio no âmbito das modalidades CEPID (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) e PITE (Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica) da FAPESP.  

Durante o encontro, os cientistas responsáveis pelos projetos expuseram os resultados preliminares dos primeiros seis meses de suas pesquisas para um púbico formado por professores, pesquisadores e representantes da BG-Shell e do poder público paulista. “São Paulo é o maior consumidor de gás natural do Brasil e tem a rede de distribuição mais desenvolvida do País. Atualmente, o gás representa cerca de 20% da nossa matriz energética e a perspectiva de ter uma oferta crescente em um futuro próximo garante que comecemos a nos preparar para a utilização mais eficiente desse combustível, principalmente do produzido offshore. Entendemos que o RCGI tem um papel muito importante nesse processo”, completou o subsecretário de Petróleo e Gás.

O Brasil tem a segunda maior reserva de gás natural da América Latina (500 bilhões de metros cúbicos de reservas provadas[1]), perdendo apenas para a Venezuela. Nos últimos seis anos, o aumento da participação do gás natural na matriz energética brasileira foi de 30%. Entretanto, hoje, boa parte do gás natural produzida no País é reinjetada no subsolo, inclusive a oriunda do pré-sal, calculada em 6,3 bilhões de m³ em 2014. Neste mesmo ano, 5,1% da produção total brasileira foi queimada ou perdida, e 18,0%, reinjetada. Em comparação a 2013, o volume de queimas e perdas cresceu 24,3%, e o de reinjeção aumentou 47,8%.

Para o professor Julio Meneghini, diretor acadêmico do RCGI, a importância crescente do gás na matriz energética brasileira e a abundância da oferta (sobretudo após o início da exploração dos campos do pré-sal) tornam o momento propício para a pesquisa e o desenvolvimento de inovação em exploração, armazenamento, transporte e usos finais do gás natural, e uma equipe multidisciplinar faz toda a diferença nessa abordagem.

“Eventos como este evidenciam o approach multidisciplinar da equipe, essencial para o compartilhamento de novos conhecimentos e o fomento da inovação. Em nossos 28 projetos temos engenheiros – mecânicos, navais, de produção, químicos, civis, elétricos, entre outros–, além de advogados, economistas, geógrafos, biólogos, experts em energia, físicos e químicos.  É um time de fato multidisciplinar que está se debruçando sobre diversos aspectos da exploração, dos usos e do aproveitamento do gás natural em nosso País.”

Meneghini abriu o encontro afirmando que é necessário organizar a estrutura de pensamento para produzir conhecimento, mas que somente isso não basta. “Para geração de novos produtos temos de ir além da organização do conhecimento: é preciso usar a intuição e criar um ambiente favorável para que tenhamos insights.” Alexandre Breda, José Alfredo Ferrari Jr. e Pauline Boeira do Grupo BG-Shell, elencaram alguns dos fatores que podem garantir o sucesso do RCGI. “O alinhamento com a estratégia de negócios da empresa, a construção de bussines cases robustos e a avaliação do binômio prêmio x risco para os envolvidos são fundamentais. A definição dos dados e resultados de valor que serão entregues no curto prazo também é um fator de êxito, assim como o estabelecimento de parcerias estratégicas e a aproximação com empresas afins”, destacaram.

A tarde do dia 27 e todo o dia 28 foram dedicados às apresentações dos representantes dos projetos. Entre os temas pesquisados pelo RCGI estão a produção de polímeros de alto valor agregado por meio de bactérias a partir do metano presente no gás, a otimização topológica de diversos dispositivos para evitar o vazamento de metano, a melhora de processos de combustão que envolvem gás natural, desenvolvimento de novas tecnologias para a separação do metano e gás carbônico, inovações nos processos de produção de gás de síntese, o desenvolvimento de uma célula a combustível que funcione com gás natural, o mapeamento do potencial de uso do gás nas residências da cidade de São Paulo, o estudo de novos usos para o gás natural na indústria, o uso do biometano e do biogás para aumentar a oferta de gás natural no Estado de São Paulo, o desenvolvimento de catalisadores mais eficientes para produzir metanol a partir do gás natural, a criação de um repositório jurídico brasileiro e paulista de gás natural, entre outros. Além disso, está sendo criado um laboratório referência de diagnóstico avançado de combustão na América Latina.

“Neste primeiro workshop, como os projetos são ainda muito recentes, temos resultados iniciais. Mas, conforme o tempo for passando, esperamos apresentar resultados mais avançados nos próximos workshops”, afirmou Meneghini. De acordo com ele, outros workshops deverão acontecer a cada seis meses, sempre em julho e dezembro.

 
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