FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Noventa por cento de quase 5 mil municípios analisados terão perdas de polinizadores em 30 anos. Regiões Sul, Sudeste e Nordeste serão mais afetadas

No Brasil, 60% das culturas agrícolas dependem de polinizadores, em maior ou menor grau. Mas um artigo assinado por biólogos, agrônomos e engenheiros mostra que o aquecimento global e as mudanças no clima podem afetar a ocorrência de polinizadores naturais. O artigo será publicado na revista PLOS ONE nesta quarta (9/8), e nele foram avaliados 95 polinizadores de 13 culturas agrícolas dependentes de polinização no País. Descobriu-se que quase 90% dos 4.975 municípios analisados enfrentarão perda de espécies polinizadoras nos próximos 30 anos. No Brasil, a probabilidade de ocorrência de polinizadores poderá ter uma queda de 13% até 2050, segundo o estudo.

Escrito por um time multidisciplinar encabeçado pela bióloga e pós doc pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Tereza Cristina Giannini, o artigo Projected climate change threatens pollinators and crop production in Brazil aponta que a região Sudeste será a mais impactada, ao passo que na região Norte há possibilidade de um leve aumento da ocorrência de determinados polinizadores. Entretanto, como afirma Tereza, que hoje é pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, as perdas serão maiores que os ganhos.

“Para as culturas agrícolas e os polinizadores que estudamos, esse foi o resultado. Mas isso não significa que esse resultado seja sempre válido para todas as espécies. Os cenários climáticos são baseados em projeções do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) que utilizam vários critérios, inclusive de caráter socioeconômico como desmatamento, uso de combustível fóssil, desigualdade de distribuição na renda… Então, o que se tem discutido é que, especialmente o oeste da região Norte, ainda bem protegido por mata nativa, talvez sofra um impacto menor das mudanças de clima, diferentemente das áreas do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Mas, no geral, o que se vê é que, apesar das tendências levemente positivas no Norte, as perdas são maiores que os ganhos.”

As culturas agrícolas estudados foram acerola, urucum e maracujá (categorizados como culturas agrícolas em que a polinização é essencial); abacate, goiaba, girassol e tomate (muito dependentes da polinização); coco, café e algodão (modestamente dependentes); feijão, tangerina e caqui (pouco dependentes). A dependência se deve à morfologia da flor: há flores que não precisam de polinizador animal (o vento, por exemplo, já resolve). Outras precisam que o polinizador carregue o grão de pólen de uma flor para outra, garantindo, assim, a polinização.

“É importante ressaltar as seguintes descobertas: primeiro, as perdas maiores afetam municípios com baixo PIB, o que pode impactar ainda mais os níveis de pobreza dessas regiões; e segundo, ao mesmo tempo (e em menor grau), elas afetam também um grupo de municípios muito rico, com valores de PIB muito altos que podem ser potencialmente reduzidos pelas perdas de polinizadores.”

O grupo usou a Modelagem de Distribuição de Espécies (MDE), técnica que determina áreas potenciais de ocorrência de espécies e projeta sua distribuição futura. Para estimar a ocorrência e localização de cada espécie polinizadora, foram usados os bancos de dados do Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA) e do Global Biodiversity Information Facility (GBIF).

“A modelagem de distribuição de espécies já tem sido usada há alguns anos. O ineditismo nesse trabalho foi a abordagem de cruzar a estimativa dos polinizadores do país, com foco nos municípios, com o impacto que isso tem na produção agrícola, município por município”, resume o professor Antonio Mauro Saraiva, do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação da Poli-USP.

Supervisor de Tereza no pós doc, ele afirma que o enfoque do trabalho ultrapassa o de um mero exercício científico. “Não se trata de entender apenas como as mudanças climáticas afetarão os polinizadores, mas como elas poderão impactar diretamente as culturas polinizadas e a produção agrícola, e os efeitos econômicos disso – algo que tem uma importância social grande. Esses resultados podem ser apresentados para tomadores de decisão e produtores e a metodologia tem potencial para tornar-se uma ferramenta de políticas públicas.”

Segundo ele, a grande novidade é que a abordagem mostra, município por município, onde é possível haver problemas de déficit de produção agrícola em função de polinizadores. Para Tereza, a pergunta mais importante agora é: que espécies vão se adaptar?

“De modo geral, achamos que a adaptação provavelmente vai acontecer com espécies que toleram amplas faixas de temperatura e precipitação. Mas isso é muito difícil de medir. Podemos mensurar a tolerância de um polinizador à mudança de calor, por exemplo. Mas como medir essa mesma tolerância se a mudança demorar dez anos para acontecer?”

Entre as espécies estudadas pelo grupo, Tereza aponta como relevantes as abelhas sem ferrão do gênero Melipona e a Tetragonisca angustula (chamada de jataí); as espécies do gênero Bombus e Xylocopa (as mamangavas); e as abelhas do gênero Centris (abelhas de óleo).

O artigo é assinado ainda por William França Costa (também pós doc na Poli), Guaraci Duran Cordeiro, Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, Jacobus Biesmeijer (da Holanda) e Lucas Alejandro Garibaldi (da Argentina), além do professor Antonio Mauro Saraiva.

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