FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Grupo de pesquisa da Poli-USP vai atuar em pesquisa com parceiros para ajudar governo no combate a fraudes que envolvem a tecnologia 4.0

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e o grupo Gestão em Automação em TI (Gaesi), do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), apresentaram nesta quarta-feira (21/02), em evento realizado na USP, em São Paulo, o Laboratório de Simulação, Antifraude e Compliance, facility que atuará em pesquisa aplicada, focada na necessidade de aumentar a eficiência e lidar com os desafios impostos pelo uso das chamadas tecnologias 4.0.

A iniciativa foi detalhada na cerimônia de lançamento do livro “Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil”. Escrito por mais de 50 autores de diversas áreas do conhecimento, instituições e empresas, o livro discute as tecnologias 4.0 e os potenciais impactos da sua adoção no Brasil.

O laboratório foi apresentado pelo presidente do Inmetro, Carlos Augusto de Azevedo, e pelo coordenador do Gaesi e professor da Poli-USP, Eduardo Mario Dias. Conta com a parceria da Faculdade de Medicina da USP, por intermédio do Hospital das Clínicas (HC), e do Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem). “O pessoal de carreira do Inmetro tem grande conhecimento sobre fraude. Com as parcerias e formação do Laboratório, estamos trabalhando no sentido de transformar esse conhecimento tácito, que vem da prática de anos, em algo organizado, científico”, afirmou Azevedo. “A sociedade brasileira precisa da inteligência das universidades para resolver um problema gravíssimo. Hoje a fraude também se tornou 4.0 e precisamos do aporte da ciência para combatê-la”, disse Azevedo.

A título de exemplo, ele citou que a Secretaria Estadual da Fazenda paulista estima uma perda da ordem de R$ 2 bilhões com as fraudes envolvendo combustíveis no Estado de São Paulo. Hoje, as alterações não são apenas na qualidade – como a mistura de água na gasolina. Utilizando apenas um celular, os fraudadores conseguem alterar uma programação irregular da bomba de combustível, que permite a cobrança de um preço acima do que foi inserido pela bomba no tanque dos veículos. Assim, enganam os consumidores e a fiscalização.

Segundo o professor da Poli, Eduardo Mário Dias, que coordena o Gaesi, a atuação do Laboratório será por projeto. “Trata-se de uma iniciativa multidisciplinar, que vai envolver as diversas áreas do conhecimento científico. As equipes de pesquisas serão estruturadas de acordo com o problema ou desafio a ser enfrentado”, explicou. Dessa forma, não há um orçamento ou uma sede física única do Laboratório, pois serão aproveitadas as estruturas e competências já existentes no Gaesi e nos demais parceiros.

Um exemplo do tipo de projeto que vai ser tocado pelo laboratório é um sistema que utiliza inteligência artificial e irá monitorar a rede de inspeção veicular do Inmetro. Este sistema permitirá ao instituto acompanhar as inspeções em tempo real, por imagem. “São 500 postos, cada um tem de duas a dez linhas de inspeção”, contou. As inspeções são registradas e armazenadas hoje, por meio de fotos. O objetivo, segundo Azevedo, é fazer o controle desse processo em tempo real.

O sistema que está sendo desenvolvido pelo Gaesi vai comparar imagens. Primeiro, haverá as imagens de uma inspeção padrão. Com o sistema do Gaesi, o Inmetro poderá comparar a imagem padrão com as inspeções que são realizadas nos postos, enquanto elas acontecem. Qualquer desvio significativo da inspeção realizada em relação a inspeção padrão é detectada.

“Se na inspeção padrão um fiscal leva cerca de 30 minutos, mas uma inspeção real demorou 15 minutos, é óbvio que houve problema”, exemplificou ele, para explicar o tipo de fraude que poderá ser detectada. Será possível até interromper a inspeção na hora em que ela estiver sendo feita. Hoje, esses postos de inspeção são fiscalizados pelo Inmetro uma vez ao ano. “Quando tivermos esse sistema, ao invés de ter uma auditoria anual, acompanharemos tudo em tempo real”, diz. Ele citou um caso de um fiscal que fez foto de um mesmo caminhão em três posições diversas e disse que eram três veículos diferentes. “Com um sistema assim, isso não vão mais acontecer, estaremos vendo todos online”, acrescentou.

Livro referência sobre a Quarta Revolução Industrial – A necessidade de unir o conhecimento acadêmico com a expertise do Inmetro para lidar com a complexidade trazida pela tecnologia 4.0 foi consequência direta das questões levantadas pelos pesquisadores e profissionais que escreveram o livro “Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil”, lançado nesta quarta-feira. Sob coordenação do professor Eduardo Mario Dias e dos pesquisadores Elcio Brito, Maria Lídia Dias e Sergio Luiz Pereira, todos membros do Gaesi, o livro traz um panorama geral sobre o tema, discutindo seus impactos sociais e econômicos, e a necessidade de investimentos em inovação e educação para que o Brasil não se torne mero importador/usuário das plataformas digitais que estão transformando a sociedade.

O lançamento foi marcado pela realização de painéis de apresentação e discussão sobre o tema abordado pelo livro. Participaram do evento os representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), João Emílio Gonçalves, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Bruno Soares, da empresa de consultoria Accenture, Constantino Seixas Filho, e da empresa Quantum4, Octavio de Barros.

Soares, da ABDI, contou que o governo deve lançar no próximo mês uma agenda com medidas focadas no desenvolvimento da indústria 4.0. Mas a opinião unânime dos especialistas é de que o Brasil já está atrasado no que se refere à Quarta Revolução Industrial, que tem como base as tecnologias revolucionárias como inteligência artificial, biologia sintética e a internet das coisas, as chamadas tecnologias 4.0. Os participantes também ressaltaram o papel fundamental dessas tecnologias para o País aumentar sua produtividade, fator que tem pesado contra a competitividade do Brasil.

O esforço e articulação para o trabalho conjunto entre os setores público e privado, a ampliação dos investimentos e esforços em inovação, o aprimoramento do sistema educacional brasileiro desde a base e as políticas e programas para requalificar trabalhadores que perderão seus postos de trabalho por se tornarem obsoletos, em razão dos avanços tecnológicos, foram quesitos citados como fundamentais para a inserção competitiva do Brasil na Quarta Revolução Industrial. 

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