FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Essa é uma das conclusões de um debate promovido pela Poli-USP sobre o sistema de cotas, que reuniu representantes de diversas instituições que já adotaram o sistema. 

Ontem (27/3), na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), em São Paulo, um debate sobre o sistema de cotas que apresentou experiências de diversas instituições na área confirmou o que vem sendo divulgado pontualmente: os alunos que entram por cotas nas universidades públicas têm notas similares às dos demais estudantes, e tampouco apresentam uma taxa de evasão significativa. Tendem também a ter um desempenho melhor que os demais ao longo do curso. No entanto, o apoio financeiro, entre outras medidas que facilitem a adaptação deles, é fundamental para garantir o êxito dos programas. 

Isso ficou claro na apresentação da professora Maria Angélica Pedra Minhoto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), instituição que reúne indicadores bastante completos para acompanhar a evolução das políticas afirmativas. “Nossos indicadores mostram a relevância dos programas de apoio financeiros aos alunos mais vulneráveis”, destacou ela, que integra a Comissão para Estudo do Perfil dos Estudantes de Graduação da instituição, responsável pela pesquisa.

O estudo da Unifesp, sobre o sistema de cotas e a trajetória escolar desses estudantes dos seus seis campi – Baixada Santista, Diadema, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos e São Paulo, também incluiu um índice de vulnerabilidade sociocultural. De acordo com esse índice, dos 2.809 ingressantes pelo sistema de cotas na graduação da Unifesp 65% possuem renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo.

Segundo ela, a evasão dos cotistas, apesar de ser similar aos dos demais, estaria mais relacionada ao fato deles precisarem de emprego, em especial entre os alunos do período vespertino. Como recomendações, além do apoio financeiro, ela apontou a necessidade de estimular a integração dos cotistas logo no começo do curso, pois a tendência é que se evadam nos primeiros anos. Planejar um currículo que permita a eles se ambientar ao curso, mas que coloque desafios permanentemente aos estudantes; manter o comprometimento com o crescimento intelectual dos alunos; e promover a valorização da carreira escolhida por eles, ressaltando as possibilidades de inserção no mercado de trabalho, apontou ela.

Mais dados confirmam – Na Unifesp, segundo os dados apresentados no evento, a performance dos cotistas e não cotistas é similar. O mesmo ocorre na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Universidade de Brasília (UnB), segundo o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) e do Insper, Naércio Menezes Filho, que estuda o assunto. E também na Universidade Federal do ABC (UFABC), conforme apresentação do professor José Aquiles Baesso Grimoni, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação da Poli.

Na UFMG, por exemplo, a nota média dos alunos sem cota no ENEM 2011 foi de 733,8; já entre os alunos cotistas ficou em 723. Na UnB, uma avaliação relativa aos graduandos do segundo semestre de 2004 a 2013 mostra uma diferença pouco significativa na evasão, com variação entre os cursos. De 30.623 alunos sem cotas e 6.273 com cotas, a taxa de desligamento foi de 28,2% e de 28,9%, respectivamente. Menezes Filho faz coro à Minhoto, da Unifesp: as instituições que oferecem cotas precisam ter políticas de auxílio financeiro para os estudantes de baixa renda.

“Há um pensamento de que as cotas rompem com a política da meritocracia e que isso levaria a universidade à decadência, mas os dados apresentados não estão nos mostrando isso, pelo contrário”, afirmou o professor Mauro Zilbovicius da Poli-USP, que coordena uma comissão na instituição para planejar e acompanhar a evolução da adoção da política de cotas na instituição. O debate faz parte das atividades dessa comissão.

Confira no canal da Poli no Youtube a íntegra do debate.

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