FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Antes e depois da pandemia: Como as ferramentas do Ensino à Distância podem beneficiar o ensino universitário

O isolamento social imposto pela pandemia provocou mudanças estruturais em diversas áreas, que precisaram se adaptar para manter o funcionamento durante a quarentena. A Universidade de São Paulo, por exemplo, optou pela continuidade das aulas, remotamente, desde o dia 17 de março. Neste contexto, as metodologias de Ensino à Distância (EaD) receberam grande destaque, uma vez que esta foi a alternativa disponível para que as aulas continuassem quando o isolamento social se tornou imprescindível. 

 

Considerando a importância do EaD para além da pandemia, a Escola Politécnica (Poli) da USP vai oferecer um curso de aperfeiçoamento didático aos seus professores, para abordar os novos métodos e recursos que a tecnologia digital traz para os processos de aprendizagem. Mas será que a aula presencial e aula online são muito diferentes? Que adaptações são necessárias? 

Desmistificando o EaD

O professor da Escola Politécnica (Poli) da USP, Bruno Albertini, responsável pela coordenação acadêmica do curso de Educação on-line para professores, explica que o Ensino à Distância é caracterizado pela desconexão entre professor e aluno, ou seja, o aprendiz e o tutor não estão no mesmo espaço físico, e podem estar juntos ao mesmo tempo ou não. Além disso, é importante pontuar que Ensino à Distância não é sinônimo de aula online – esta é, inclusive, uma ferramenta do primeiro. 

 

A aula presencial cobre diferentes perfis de aprendizagem – que são a forma como cada aluno aprende -, o que nem sempre se aplica ao digital. Assim, é possível gravar uma aula presencial e disponibilizá-la online, mas o resultado pode não ser o esperado, prejudicando o aprendizado. “Definitivamente não é uma simples transposição de mídia, e adiciono que EaD não é uma metodologia, mas um conjunto de metodologias. As adaptações são necessárias e na maioria dos casos obrigatórias”, explica Albertini. 

 

Uma das grandes vantagens do EaD é a variedade de recursos disponíveis. Enquanto na sala de aula tradicional o professor normalmente limita-se ao quadro ou a apresentação, no ambiente online as possibilidades são inúmeras, tanto em relação à mídias quanto ao nível de interação. Dois outros pontos positivos que podem ser observados neste sistema de ensino são a disponibilidade e o ritmo: no ambiente virtual, é possível rever o conteúdo gravado, ou buscar outras formas que apresentem o mesmo conteúdo, facilitando o aprendizado, além de permitir que docente e estudante estejam na aula em momentos diferentes. 

Tecnologia em sala de aula: a união do EaD com o Presencial

As ferramentas do Ensino à Distância podem contribuir de várias formas com a educação presencial. Um exemplo disso é o uso do celular em classe, de forma a dinamizar a aula. O professor Bruno Albertini conta que a educação no geral tem recebido bem tais ferramentas adaptadas, e a sua adoção costuma aumentar o engajamento dos alunos. 

 

A mudança de perspectivas na forma de pensar as aulas, concentrando-a nos alunos ou no conteúdo, é outro conceito que tem grande influência do EaD. “É muito difícil educar em massa (com um grande número de estudantes em sala) dando atenção individual aos alunos, mas o foco tem mudado na sala de aula presencial em grande parte devido a EaD e aos recursos de ensino online. Esta mudança diz respeito ao professor deixar de atuar como fonte de conhecimento central, e passando a agir como mediador, ajudando o aluno a obter, refletir e aplicar o conhecimento”, completa. Um dos conceitos envolvidos nessa lógica que deve se estabelecer pós-pandemia é o de sala de aula invertida, no qual o aluno é exposto ao conteúdo antes da aula, e depois se encontra com o professor para aplicar e aprofundar o conhecimento.

Sala de aula invertida

O conceito  de sala de aula invertida (do inglês, flipped classroom) propõe uma inversão no foco das aulas do professor para o aluno. No modelo de sala de aula tradicional, o professor explica o assunto, exemplifica por meio de exercícios em sala, e depois o aluno vai para casa com tarefas para realizar sozinho. Já no modelo de aula invertida, o aluno é exposto ao conteúdo antes do encontro com o docente e a turma. No momento da aula, o aluno encontra-se com o professor para aplicar o conhecimento adquirido, aprofundá-lo se necessário, e exemplificar. O professor passa a ter um papel mais de curador de conteúdo, e depois como um tutor para o estudo.

As ferramentas digitais facilitam esse processo pois o conteúdo prévio pode ser disponibilizado online. O aluno pode assistir vídeos, ler material ou até mesmo interagir previamente com o conteúdo de maneira facilitada. O tempo em sala pode ser aproveitado para desenvolver não só o conteúdo, como também para a interação entre alunos e para o desenvolvimento de habilidades de mais alta ordem, como a criação baseada no conteúdo aprendido.

Implementação: desafios e adaptação ao Ensino à Distância

Para Albertini, o principal desafio na implantação do EaD e na sua conciliação com metodologias mais tradicionais é a adaptação dos professores, fator imprescindível para o sucesso do Ensino à Distância. Ao migrar para o meio digital, os métodos tradicionais não são tão eficientes quanto no ambiente presencial. O professor precisa se adaptar e aprender efetivamente a usar as ferramentas para atingir os objetivos de aprendizagem que almeja. “Como a maioria dos professores atuais não foram educados de forma digital, existe uma certa inércia a ser quebrada até que o professor se sinta confortável em planejar e executar um curso EaD”, completa o docente. 

 

Nesse cenário, o domínio do professor sobre o uso correto das ferramentas é um fator importante, pois a utilização incorreta pode levar ao efeito contrário: os alunos podem perder o interesse, aprender menos ou em menor profundidade o conteúdo. Assim, é necessário um treinamento voltado aos docentes, para que compreendam as ferramentas e a dinâmica do modelo de ensino. É nesse contexto em que se insere o curso oferecido pela Poli aos seus professores, preparando-os para esse novo momento do ensino superior. 

 

Em relação à educação universitária, é possível destacar alguns exemplos de contribuições do Ensino à Distância. Dentre eles estão inclusão social e financeira, uma vez que a metodologia possibilita que pessoas que não teriam acesso às aulas passem a ter. Embora o investimento inicial para implantar o curso seja maior, em termos de tempo e recursos financeiros,  depois de pronto o curso EaD possui uma manutenção mais fácil e barata. Além disso, a ferramenta permite que as aulas sejam oferecidas a um número maior de alunos com menor prejuízo.

Imagem: Freepik

Curso para professores

O curso Educação on-line para professores, oferecido pelo Programa de Educação Continuada (PECE) da Poli-USP, tem como objetivo tornar os professores aptos a exercerem suas funções explorando ao máximo o que oferecem os novos métodos e os novos recursos que a tecnologia digital traz para os processos de aprendizagem. Coordenado pelo professor Bruno Albertini e com aulas ministradas pelos professores Antônio Seabra e Edson Fregni, o curso terá 12 semanas e será ministrado à distância. Para outras informações sobre a atualização de docentes, acesse a página oficial.

Imagem: Freepik

A educação depois da quarentena

Com a implantação em grande escala de métodos de ensino online durante a pandemia, soluções para problemas já conhecidos do EaD estão sendo discutidas no meio acadêmico, uma vez que o número de interessados em resolvê-los aumentou. Desse modo, segundo Albertini, o avanço do sistema deve ser maior nos próximos anos devido a necessidade imposta pelo isolamento social.

 

Quando as aulas presenciais voltarem a ser a regra, elementos do Ensino à Distância tendem a permanecer. “Mesmo os professores que preferirem voltar ao modelo tradicional de aula, provavelmente ‘herdarão’ ferramentas de interatividade em suas aulas, e mudarão de um papel de concentrador de conteúdo para um papel de mediador do processo de aprendizagem”, acredita Bruno. 

 

“Certamente a EaD veio para ficar e com o crescimento imposto pelo isolamento social não vejo motivos para voltar atrás. A médio/longo prazo espero que muitos cursos sejam híbridos, com oferecimento parcialmente em EaD e parcialmente presencial. Cursos mais teóricos tendem a se beneficiar mais das tecnologias EaD já maduras e bem estabelecidas e mensuradas pela área de educação, enquanto cursos mais práticos devem ter uma componente presencial maior”, completa Albertini. 

 

Texto: Letícia Cangane, estagiária de jornalismo na Poli-USP.
Revisão: Amanda Rabelo e Rosana Simone.

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