FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Poli lidera projeto para desenvolver um ultrassom com tecnologia 100% nacional, tão bom e mais barato que os importados, para ser usado pelo Sistema Único de Saúde.

O professor do Departamento de Mecatrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), Julio Cezar Adamowski, iniciou sua carreira na engenharia, em 1981, construindo aparelhos de ultrassom para diagnósticos médicos por imagem. De lá para cá, ele se tornou referência em pesquisas com ultrassom, liderando projetos em setores tão distintos – indústria petrolífera, de mineração, tecelagem – quanto suas aplicações – inspeção de oleodutos, medição de rochas e processo de corte de tecidos.

Quase trinta anos depois, Adamowski, que coordena o Laboratório de Ultra-Som da Poli, está retornando ao ponto de partida de sua carreira. Só que desta vez para um desafio maior: desenvolver um ultrassom com tecnologia 100% nacional, tão bom e mais barato que os importados, para ser usado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Fabricado no Brasil na década de 80, a produção nacional do ultrassom foi paralisada nos anos 90 com a entrada de indústrias eletroeletrônicas multinacionais no País, que passaram a dominar o mercado. O problema é que apesar de serem mais avançados os modelos importados têm um custo alto, o que dificulta sua compra pelo SUS.

Por isso, em 2009, o Ministério da Saúde encomendou aos integrantes da Rede Sul-Americana de Técnicas de Ultra-som, formada pelo Laboratório da Poli, o desenvolvimento de uma máquina com tecnologia nacional e desempenho similar aos modelos importados. “A ideia não é abrir uma concorrência com as empresas que já fabricam o instrumento no País”, explica Adamowski. “O objetivo é desenvolver a tecnologia e, no futuro, qualificar algumas empresas brasileiras para que elas forneçam a máquina para o SUS”, conta o professor.

Centro de referência – O Laboratório de Ultra-Som da Poli deverá se tornar em um centro de referência nacional na fabricação de transdutor – o principal componente de uma máquina de ultrassom. O transdutor gera e recebe ondas sonoras, que são interpretadas e traduzidas por imagens através de recursos de computação gráfica. Para iniciar a produção do dispositivo no País, será construído até o final de 2010 um novo laboratório nas dependências da Poli, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT).

A maior parte dos equipamentos necessários à fabricação dos transdutores já foi adquirida. É que desde 1994, por meio de convênios com o Laboratório, a Petrobras vem investindo em diversos projetos. Recentemente, a empresa investiu R$ 11 milhões no Laboratório para desenvolver novos materiais para exploração de bacias de óleo e gás, utilizando um processo denominado sinterização por spark plasma. Isso demandou a compra de um sofisticado equipamento que, de acordo com Adamoviski, também poderá ser utilizado para desenvolver alguns componentes dos transdutores, como os elementos piezo-elétricos.

Com um formato similar ao de um confete, os piezo-elétricos são os principais artefatos de um transdutor. Ao receberem uma corrente elétrica, eles vibram e geram uma onda sonora, o ultrassom, que é medida e transformada em imagens. “Eles são baratos e representam o menor custo na fabricação de um transdutor, que, em contrapartida, tem um altíssimo valor agregado”, esclarece Adamowski. Um piezo-elétrico, segundo ele, custa US$ 5, enquanto um transdutor pode chegar a R$ 500,00.
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Reunindo pesquisadores de alto nível, que formam um dos poucos grupos atuantes na área de ultrassom, o Laboratório de Ultra-Som da Poli é equiparado aos melhores do mundo. Além de pesquisas aplicadas nas áreas médica e petrolífera, outros projetos realizados pelo Laboratório incluem os setores de mineração, tecelagem e caracterização de materiais.

Na caracterização de materiais, por exemplo, o ultrassom é usado para medição de propriedades de líquidos. A técnica, desenvolvida de modo pioneiro pelo Laboratório, é referência internacional. “Nós somos citados como as principais fontes de pesquisa nessa linha no mundo”, conta o professor Adamowski.

Alguns dos estudos desenvolvidos pela Poli nessa linha possibilitam medir a densidade e viscosidade de líquidos e caracterizar emulsões. “São projetos que despertaram o interesse de empresas de vários segmentos em função de suas aplicações diversas, tais como detecção de adulteração na gasolina, medição de teor de gordura do leite ou a porcentagem de água dissolvida em óleos”, finaliza. 

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