FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Realizar seus sonhos, viver um tempo no exterior e de quebra encontrar o amor de sua vida. Parece até a sinopse de um filme hollywoodiano, ou uma propaganda em vídeo de dia dos namorados, não é mesmo? Mas, afinal de contas, quem nunca quis viver em um sonho digno de um longa ou de uma história ficcional?

Se para muitos isso só acontece no cinema, para Henrique Dantas, ex-aluno da Escola Politécnica (Poli) da USP, esta é a história da sua vida. Mas, voltemos aos créditos iniciais desta história digna da sétima arte.

Henrique sempre gostou de estudar novos idiomas, conhecer outras culturas e sonhava poder morar em outros países. Quando ingressou no curso de Engenharia Naval da Poli, seu sonho começou a se tornar realidade. Logo nos primeiros meses estudando na USP, Henrique ingressou no time de Rugby da unidade. Em um dos treinos, uma conversa mudou o rumo da sua vida. Ele conheceu um veterano que tinha acabado de voltar do intercâmbio na Itália. Eles começaram a conversar, e o veterano o explicou como foi sua experiência, dentro de um programa chamado duplo diploma, e como Henrique poderia fazer sua aplicação para essa modalidade de intercâmbio. Um acaso de sorte ou uma coincidência do destino esse encontro. “A gente coincidiu de ir no mesmo treino e depois eu nunca mais o vi, e nem sei como ele se chama”, relembra Dantas.

Acaso ou não, foi esse diálogo que deu o pontapé inicial no projeto de Henrique e ele passou a se planejar para a aplicação e o intercâmbio.

Henrique em Pisa. [Imagem: Arquivo Pessoal]

“Eu fiz a Poli inteira pensando que eu precisava manter a média alta, não podia pegar dependências e precisava fazer todo um esforço para chegar lá no terceiro ano e aplicar”, conta o politécnico.

No meio do seu terceiro ano, o Duplo Diploma começou a ganhar vida, quando ele fez sua aplicação. Henrique sonhava com apenas um país, a Itália. Para ele, não era sua primeira opção, era a única. Na época, em 2010, a Poli havia convênio para Duplo Diploma com apenas duas faculdades italianas, a Politecnico di Milano e a Politecnico di Torino. 

Henrique optou por se candidatar para a faculdade de Turim. Contudo, como um bom roteiro de filme, um empecilho surgiu. Na época, a Politécnica de Turim mudou suas regras do Duplo Diploma e proibiu que os alunos estrangeiros pudessem cursar uma engenharia diferente da que estudavam em seu país de origem. Dantas cursava Engenharia Naval e, assim, somente poderia realizar o Duplo Diploma no mesmo curso de graduação. Todavia, a Politécnica de Turim não possui graduação em Engenharia Naval. No período, Henrique não sabia disso e realizou sua inscrição normalmente para o curso em Torino. Assim, a sua candidatura  era inválida.

Entretanto, em uma facilitação no roteiro, ou melhor dizendo, em uma coincidência do destino, a aplicação de Dantas foi aceita. Na época, o professor Fernando Josepetti Fonseca, vice-presidente da Comissão de Relações Internacionais da Poli e docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli, viu que a aplicação de Henrique seria invalidada. Por isso, ele decidiu mudar a faculdade para a Politecnico di Milano, que permitia que os alunos pudessem cursar o Duplo Diploma em uma engenheria diferente da que estudavam em sua universidade de origem, assim, o aluno poderia participar da primeira fase do processo seletivo, na qual avaliam currículo, histórico de notas e cartas de recomendação.

Henrique e os outros Politécnicos que fizeram o Duplo Diploma em Milão. [Imagem: Arquivo Pessoal]
Henrique e os outros Politécnicos que fizeram o Duplo Diploma em Milão. [Imagem: Arquivo Pessoal]

 Quando ele entrou na sala da entrevista, localizada no prédio da administração da Poli, o professor Fernando falou que ele não deveria estar ali. “Como assim? Foi um erro? Eu não fui chamado? Não passei na entrevista?”. O docente explicou a situação e perguntou se o discente gostaria de continuar com a aplicação para Milão. “Eu quero continuar. Pode considerar o application para o Duplo Diploma em Milão mesmo”. Eles realizaram a entrevista, e Henrique foi aprovado.

Henrique conseguiu passar para a segunda fase da seleção, a fase das entrevistas. “Fiquei super feliz. Eu nem sabia de tudo isso. Eu só fui chamado para a entrevista”, relata o engenheiro.

Era uma vez em Milão…

Em agosto de 2010, no meio do quarto ano de faculdade, Henrique foi para Itália realizar o seu Duplo Diploma. As aulas da graduação italiana começavam no final de setembro, mas os alunos estrangeiros recebiam um curso intensivo de italiano do mês anterior, até o começo das aulas. Essas aulas eram lecionadas em um campus fora de Milão, próximo ao Lago de Como, que fica no norte da Itália, a uma hora de Milão, já próximo à Suíça.

Em razão deste curso, Henrique marcou seu voo para chegar em Milão por volta das 22h do dia 30 de agosto, já que sua aula no Lago de Como começaria no dia 31 de agosto e, neste dia, os alunos seriam levados de trem até o campus do Lago. Assim, Dantas precisaria passar uma noite em Milão antes do curso.

Por isso, ele começou a procurar hotéis para se hospedar, contudo não encontrou vaga em nenhum lugar. “Depois que eu fiquei sabendo que Milão fecha em agosto, é uma coisa típica de Milão, que vira uma cidade fantasma, tudo fecha. Eu fiquei desesperado, até pensei em ficar na rua ou na estação de trem aquela noite”, relata o politécnico. Ele começou a tentar contatar pessoas de Milão por grupos no Facebook, pedindo informações de locais para ficar. Nas primeiras tentativas, ninguém respondeu, mas após insistir mais, uma resposta veio.

Como em um roteiro de filme, o par romântico do protagonista sempre aparece para ajudar em um momento crítico, e foi isso que aconteceu com Henrique.

Quem respondeu sua mensagem foi Elena, estudante da Politecnico di Milano na época. “Ela falou ‘olha, eu sou de Milão, e faço a Politecnico di Milano. Eu tô voltando para Milão no dia 30. Você pode ficar na nossa casa, se você quiser’”. Na época, eles não se conheciam, e Elena explicou que sua família era acostumada a receber estrangeiros e intercambistas. Assim, Henrique aceitou se hospedar na casa dela.

Henrique e a família de Elena. [Imagem: Arquivo Pessoal]
Henrique e a família de Elena. [Imagem: Arquivo Pessoal]

Após o início das aulas de engenharia no campus de Milão, Dantas e Elena sempre se encontravam e saíam para conversar. Neste primeiro ano do Duplo Diploma, ele costumava passar seu tempo com os outros intercambistas realizando passeios e atividades turísticas. “Obviamente a vida de intercambista é bem diferente da [vivida pelos] locais, a gente ia para vários lugares”, fala Henrique. Ele também conta que conheceu e fez amigos de vários países neste período, e que com isso teve a oportunidade de conhecer diversos locais durante visitas a seus amigos do Duplo Diploma. Além de ter aprendido muito sobre várias culturas e a trabalhar com pessoas que tinham vivências diferentes das dele.

Henrique e Elena em viagem ao Camboja. [Imagem: Arquivo Pessoal]
Henrique e Elena em viagem ao Camboja. [Imagem: Arquivo Pessoal]

Após o fim do primeiro ano letivo do Duplo Diploma, Henrique organizou um mochilão para o Sudeste Asiático. Ele, um amigo seu, Elena e a irmã dela passaram um mês das férias de verão visitando Camboja, Laos, Vietnã e China. E nesta viagem Henrique e Helena começaram a namorar.

No segundo ano, Dantas conviveu mais com os italianos e sua cultura do que com os intercambistas. “Foi diferente do primeiro ano, fiz muita coisa local dos italianos, aprendi muita coisa da cultura convivendo muito com eles, viajando para lugares que só eles iam”, conta ele.

Nesse período, ele trabalhou bastante como voluntário em uma ONG, na qual Elena também trabalhava, que atendia crianças de Milão. “É uma coisa que não tinha nenhum intercambista fazendo”, acrescenta Henrique.

Em uma passagem digna da sétima arte, na metade do segundo ano do Duplo Diploma de Dantas, Elena foi aprovada no programa de Duplo Diploma na Poli e passaria os dois próximos anos no Brasil. “Pensei: perfeito. A gente tava pensando que a gente tá super curtindo aqui, só que a gente vai ter que se separar quando eu voltar para o Brasil, vai dar fazer a distância. Só que aí ela foi aceita na Poli”, relata o engenheiro. Para intensificar ainda mais o tom cinematográfico da cena, Elena havia realizado sua aplicação para o Duplo Diploma em três países, Brasil, Argentina e China, antes de conhecer Henrique.

Em fevereiro de 2012, Elena veio para o Brasil realizar seu Duplo Diploma na Poli. Enquanto isso, Henrique permaneceu em Milão até o meio do ano, quando regressou para concluir seu último semestre da graduação na USP. “Então no meu último semestre, ela estava no Brasil e eu na Itália, a gente estava em países trocados. Nós dois tivemos experiências super ricas de duplo diploma”, acrescenta ele.

Hoje, Henrique trabalha como gerente de projetos para uma empresa internacional. Ele e Elena são casados e têm dois filhos. Atualmente, moram no Brasil, mas vão à Itália nas férias. Um final feliz nos moldes das comédias românticas hollywoodianas. 

A importância do Duplo Diploma

Henrique e seus colegas intercambistas. [Imagem: Arquivo Pessoal]
Henrique e seus colegas intercambistas. [Imagem: Arquivo Pessoal]

O intercâmbio além de ter sido muito importante para a vida pessoal de Henrique, também agregou em muito para sua vida profissional. “O fato de eu ter feito o Duplo Diploma sempre me colocou numa posição muito privilegiada nos recrutamentos, nas entrevistas, para poder passar em processos seletivos e receber ofertas muito boas”, relata o engenheiro.

“As expectativas foram superadas. Elas já eram altas, mas foram superadas”, comenta Henrique sobre sua experiência de intercâmbio. “O duplo diploma, por serem dois anos, ele proporciona coisas que o intercâmbio curto, às vezes, não tem”.

Isso propiciou que Dantas tivesse duas vivências no Duplo Diploma. Em um ano ele conviveu mais com intercambistas e turistas e, no outro ano, viveu a realidade local.

Esse intercâmbio também é importante para o dia-a-dia profissional de Henrique, já que no cotidiano de seu trabalho, ele precisa se relacionar com pessoas de diferentes países e locais, e a experiência internacional o ensinou a trabalhar em equipe e com pessoas que falam outra língua, têm outra vivência e um modo de pensar diferente do seu. Além de que em seu período na Itália, ele aprendeu a se adaptar e ser flexível, características que são essenciais para sobreviver no mercado de trabalho. “Você sabe se adaptar e tirar o melhor proveito de cada situação, não fazer tudo sempre igual”, explica o politécnico.

“Acho que é muito difícil um duplo diploma ser ruim na verdade, o meu foi muito particular, mas todos os meus amigos viveram um intercâmbio diferente e todos amaram.”

As diferenças entre a Poli e a Politecnico di Milano

Henrique e Helena perceberam que a Politecnico di Milano tem um ensino muito mais teórico, eles ensinam até como foi deduzido o que é ensinado. Assim, em Milão, eles preparam mais os alunos para serem acadêmicos.

“A Poli tem uma teoria suficientemente robusta que é ensinada para ser aplicada na prática”, afirma Henrique. Ele também apontou que a escola de engenharia brasileira prepara os alunos para o mercado de trabalho e para serem empreendedores, o que ele acredita ser em muito creditado por projetos desenvolvidos desde o primeiro semestre. “São coisas que trazem a teoria para a prática tão bem que eu senti falta no ensino acadêmica de Milão”, finaliza Henrique.

Henrique e Elena na formatura. [Imagem: Arquivo Pessoal]
Henrique e Elena na formatura. [Imagem: Arquivo Pessoal]
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