FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Vanderley M. John ressalta que somente avanço nas tecnologias poderá solucionar os riscos da construção e manutenção de barragens de mineração

O rompimento da barragem 1 do complexo Córrego do Feijão, da mineradora Vale, ocorrido no dia 25 de janeiro, deixou o País consternado com o desastre ambiental e humano. Os caminhos para reduzir significativamente o risco de tragédias como esta aconteçam passa por um esforço de pesquisar, desenvolver e introduzir no mercado novas soluções tecnológicas que sejam mais seguras, segundo o professor da Escola Politécnica da USP, Vanderley M. John. “Só pesquisa e conhecimento não são suficientes: o investimento precisa prosseguir para transformar os resultados mais promissores em inovações ,o que só acontece quando estas novas tecnologias começam a ser empregadas no mercado de forma competitiva. Sem inovação não temos saída”, defende o docente, e ressalta o papel da universidade de ajudar as empresas brasileiras a fazerem inovação. “Estes acidentes podem acontecer mesmo quando se seguem boas práticas. Eles refletem os limites das tecnologias. As soluções sempre podem ser melhoradas para reduzir os riscos, e esta deve ser a postura da engenharia”.

Professor Vanderley Moacyr John. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O docente coordena, dentro da Poli-USP, uma unidade Embrapii (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) dedicada a realizar desenvolvimento de tecnologias inovadoras, sempre em colaboração com a indústria, aumentando as chances da inovação ocorrer. Entre seus projetos, a Embrapii Materiais para Construção Ecoeficiente tem um contrato com a Vale para desenvolver aplicações que sejam técnica e comercialmente viáveis, capazes de dar uma destinação econômica útil para uma parte dos resíduos dessas barragens, gerando mais riqueza e colaborando para reduzir os riscos.

Segundo  Vanderley John, nesta área existem diversas oportunidades de pesquisa com potencial de se tornarem inovação. Elas  incluem novas tecnologias de mineração, que gerem menos resíduos, aplicações comerciais dos rejeitos para outras finalidades, como a construção civil, e até mesmo técnicas inovadoras mais seguras para armazenar os rejeitos. Outra área envolve o desenvolvimento de soluções de monitoramento de barragens existentes e de inovações que as tornem mais seguras, protegendo a população e preservando os ecossistemas.

A principal dificuldade não é apenas desenvolver novas tecnologias, mas desenvolver soluções que sejam economicamente viáveis e mantenham a competitividade da mineração. “Entre a pesquisa de laboratório e a inovação há um grande processo. A existência de um estudo de laboratório cujo resultado mostra que algo pode funcionar não é suficiente. É  preciso um investimento em pesquisa e desenvolvimento para transformar este conceito em uma tecnologia viável em escala industrial, nas condições do mercado local e internacional. Para isto é preciso desenvolver processos industriais, analisar a escalabilidade da solução, o custo de produção e a competitividade do produto no mercado, o que depende de logística”.

O pesquisador conta que seu grupo tem identificado muitas possibilidades para o material das barragens, e o desafio é transformá-lo em produtos reais no mercado, pois isso exige resolver o processo industrial, otimização de custo e impacto ambiental. “Se o novo produto consumir muita energia, é possível tenha custo elevado frente a competição e colabore para o aumento da emissão dos gases do efeito estufa, por exemplo”.

O docente ressalta que não há soluções estabelecidas ou vigentes em que seja possível consumir as milhões de toneladas destes resíduos rapidamente. “É preciso construir essas soluções, e para isso é preciso muita pesquisa e desenvolvimento para gerar algumas que venham a se tornar inovações. A universidade não faz inovação sem um parceiro  privado que faça o investimento de desenvolvimento, coloque no mercado e depois opere o negócio”, detalha John. “Este aspecto está passando despercebido. O fato de um conceito ter sido provado no laboratório não significa, ainda, que o produto esteja pronto para o mercado. Há todo um caminho a se percorrer e ele é mais dispendioso que a pesquisa laboratorial. Se não construírem e operarem uma ou mais fábricas não vai acontecer a inovação”. No jargão, a tecnologia não ultrapassa o “vale da morte” da inovação. “A Embrapii, por meio de suas unidades, tem o papel de aumentar as chances das tecnologias superarem o vale da morte e chegarem no mercado”.

Embrapii na Escola Politécnica da USP –  A Poli-USP possui duas unidades EMBRAPII. A unidade Embrapii Materiais para Construção Ecoeficiente, e a unidade Embrapii de química verde, Tecnogreen, focada no desenvolvimento de processos e produtos verdes, visando maior eficiência energética, redução de utilização de matérias primas, redução de uso de compostos tóxicos, redução de impactos ambientais, tratamento de efluentes e resíduos sólidos urbanos e industriais, processo de reciclagem e criação de produtos verdes.

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