Escola Politécnica

Formando engenheiros e líderes

Pesquisadores brasileiros buscam ampliar presença internacional por meio de revistas científicas

Publicações brasileiras abrem espaço para publicações nacionais e internacionais e projetam visão da academia brasileira para o exterior

O trabalho cotidiano de um pesquisador envolve diversas etapas. Além de observar, formular hipóteses, realizar  experimentos e, por fim, chegar a novas informações e gerar conhecimento, cabe ao cientista comunicar suas descobertas, e as revistas científicas são o espaço onde isso acontece. “Os cientistas desenvolvem trabalhos de ciência e tecnologia, e precisam publicar esses trabalhos. A Ciência funciona assim”, explica o diretor da Poli e editor-chefe do Brazilian Journal of Chemical Engineering, Reinaldo Giudici. “Quando publicamos um artigo, recebemos uma chancela, porque os trabalhos, antes de serem publicados, são revisados por pares anonimamente. O editor da revista convida revisores para analisar o trabalho, voluntariamente, e os editores também checam a qualidade do trabalho, sugerem alterações ou correções e, quando o artigo for aceito, a pesquisa foi não só validada pelos pares, mas também incorporou sugestão de melhorias. Isso é parte do do trabalho de ciência, e alguém tem que fazer isso”.

Editor da Revista da Associação Brasileira de Engenharia Química desde 2008, Giudici argumenta que é papel de todos aqueles que publicam participar deste processo, e auxiliar na manutenção desses veículos. “É uma tarefa tanto dos editores – que trabalham diretamente com a Revista – como também dos revisores de trabalhos convidados. São os dois lados da moeda. Para publicar, também temos que auxiliar para que as publicações continuem funcionando”. Ele relata que o trabalho de revisor traz ao pesquisador uma maior interação com o conhecimento de sua área, o contato com outras ideias, além do aprendizado ao ler e fazer críticas aos artigos de colegas. Já o Editor ganha também em aprendizado, ao entrar em contato com um grande número de publicações. Além de dirigir a Escola Politécnica, lecionar e fazer pesquisa, Giudici avalia, anualmente, cerca de 800 artigos recebidos pela publicação que edita.

As revistas podem integrar grandes editoras, como a Springer Nature, e ter o suporte de organizações e associações, como é o caso da revista da Sociedade Brasileira de Automática, da Sociedade Brasileira de Química, da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional e da Revista Polytechnica, entre outras. Essas revistas têm alcance internacional e seguem os parâmetros estabelecidos pela Editora, além de ter um editor-chefe no local e outro editor internacional alocado na sede.

A Springer, inclusive, reeditou suas páginas associadas a revistas científicas que têm o suporte de associações e instituições, para mostrar claramente esta vinculação, exibindo a logomarca dessas organizações. “Esse fato é de grande importância na visibilidade e inserção da pesquisa feita no Brasil no cenário mundial. Algumas dessas revistas foram indexadas e outras estão a caminho, como é o caso da Polytechnica, com considerável esforço dos seus respectivos mentores”, explica o professor da Poli, José Reinaldo Silva. Criada em 2018, a publicação abre espaço para pesquisas multidisciplinares com foco nos grandes desafios da engenharia no século XXI. 

O financiamento dessas publicações é um assunto complexo, discutido neste artigo da Revista Piauí. “Hoje há um debate muito grande sobre como incentivar o open access, o acesso aberto, porque a ciência se faz divulgando e discutindo as ideias de uma maneira ampla. Isso gera uma crítica sobre como esse sistema se sustenta a longo prazo”, esclarece Giudici. 

A trajetória do Brazilian Journal of Chemical Engineering começou com sua publicação em uma base brasileira totalmente aberta, a Scielo, o que implicava a busca por recursos em agências de fomento, como a Fapesp ou o CNPq, para custear toda a produção da revista. O trabalho de produção, que envolvia desde a contratação da gráfica e dos diagramadores, era realizado por Giudici quando assumiu a revista, em 2008. Isto junto à tarefa de Editor, analisando o conteúdo dos artigos, os pareceres recebidos pelos revisores, e monitorando a decisão pela publicação dos artigos. Diante das dificuldades para levantar recursos, o modelo pareceu insustentável e a Associação decidiu transferir a edição para uma Editora comercial, a Springer.

O professor e ex-diretor da Poli, José Roberto Castilho Piqueira, relata que nas áreas mais científicas, de humanas e medicina, o Brasil tem um bom número de revistas indexadas internacionalmente. Ele detalha que um indexador de prestígio reflete a relevância de uma revista, como a Scopus e a Web of Science. Como um cientista experiente, faz um recorte entre as experiências de revistas científicas das quais conhece de maneira mais aprofundada e relata, a título de exemplo, a trajetória da criação da Revista da Sociedade Brasileira de Automática (SBA). “Começou nos anos 1980, pela generosidade dos professores Plínio Castrucci (USP) e Celso Bottura (Unicamp). Eles tinham a visão de que a automática seria uma coisa importante na engenharia, e que o Brasil podia ter uma sociedade brasileira de automática”. 

Outra contribuição para o desenvolvimento da revista da Associação foi realizada pelo professores Luiz Antônio Aguirre (UFMG), José Raimundo de Oliveira (Unicamp) e pelo professor José Reinaldo Silva, conta Piqueira, que, por volta de 2012, iniciaram um movimento para tornar a Revista da SBA, até então local e com um conteúdo qualificado, em uma publicação internacional. Após diversas reuniões e acordos com a Springer, a editora concordou em publicar a revista. 

Em um processo que seguiu a trajetória de um crescente número de citações e artigos, e com muito esforço e trabalho dos professores Aguirre, José Reinaldo e Ivan Nunes da Silva (EESC), a revista brasileira se transformou em uma revista internacional da Springer. “Hoje essa revista é indexada  na Web of Science com um fator de impacto maior que 1,5. Portanto, como uma revista internacional de alta qualidade”. O atual nome da Revista é Journal of Control, Automation and Electrical Systems. Todo este esforço, segundo Piqueira, levou a produção da comunidade científica brasileira da área de controle e de robótica para o mundo.

Sobre a Revista Polytechnica, editada hoje pelo professor da Poli, Emílio Carlos Nelli Silva, Piqueira ressalta que pode seguir o mesmo caminho. A Revista hoje é indexada pela Scopus, e precisa ter mais artigos e citações para também ingressar na Web of Science. “A revista Politécnica tem todas as possibilidades de decolar, dada a diversidade da comunidade da Poli”, analisa Piqueira.

O professor Emílio Carlos Nelli Silva explica que a ideia da Polytechnica é tratar de temas relevantes em engenharia, fundamentada em dados e resultados sólidos, como questões sobre energia verde, educação em engenharia ou saneamento básico, que são grandes desafios para a humanidade, dentro de um contexto de um problema relevante. “Como prover a eletrificação massiva em um país em desenvolvimento? Ou saneamento básico? São propostas de soluções para este tipo de desafio”.

Para a Edição da Revista, segundo Nelli Silva, os tópicos são muito interessantes e trazem consigo um desafio para abordar áreas muito diferentes da engenharia. “Precisamos de editores associados em diversas áreas por termos um grande escopo. Além disso, captar mais interessados em submeter artigos pode ser um desafio, uma vez que o escopo não é específico. Não é fácil encontrar pesquisadores que focam nesses problemas de forma mais ampla, mas há muitos se dedicando para estes temas relevantes. Nosso desafio é chegar até eles”.

O editor da Revista Polytechnica na Springer, Goldani, conta que a publicação está em uma jornada comum a muitas outras no período inicial, que é aumentar a submissão de artigos num contexto em que ainda não é indexada. Entre os desafios para alcançar a indexação, estão a publicação de pelo menos 20 artigos por ano, por dois anos. Neste sentido, os editores estão divulgando a proposta da revista em congressos científicos, e disseminando a proposta da revista. Entre os atrativos para a publicação de artigos, Goldani cita o fato de a revista ser de acesso aberto, o que pode gerar citações dos trabalhos.

“A proposta da ‘Polytechnica’ é única, é diferente. Isso é um outro fator que, agora, traz um pouco de dificuldade, mas eu tenho total confiança que ela irá decolar. Porque a proposta dos editores é não ser apenas uma revista de engenharia teórica, mas de trazer artigos que possam trazer desenvolvimento para a sociedade, no mundo todo, por ser uma revista internacional publicada em inglês”. O editor destaca, também, que o objetivo da publicação do journal não é apenas publicar um artigo de engenharia, os criadores pretendem que a pesquisa realizada pelo autor ou pelo grupo de autores traga alguma contribuição prática, que possa trazer desenvolvimento social por meio da engenharia. Com 20 anos de carreira acadêmica, Goldani finaliza destacando a importância da proposta da revista para a ciência. “Uma proposta extremamente desafiadora, mas essencial para a sociedade.

Sobre a Revista Polythecnica

Os trabalhos apresentados na publicação retratam pesquisas direcionadas aos desafios acadêmicos atuais e futuros, que demandam uma solução reunindo mais de um campo da Engenharia. 

Já foram temas da publicação, por exemplo, o relacionamento da Engenharia com a Medicina (vol 3, no. 1-2), e a exploração e uso do gás como alternativa intermediária na transição energética (vol. 2, no 1-2), além de temas ligados ao avanço dos sistemas de manufatura automatizada. 

Os números da revista são híbridos, isto é, a Revista não é inteiramente temática, mas tem cerca de metade dos seus artigos sobre um tema, e os demais sobre assuntos diversos, desde que seja na direção da inovação e dos grandes desafios que se colocam para a Engenharia, mesmo que apresentem pesquisas com resultados concretos mas ainda em andamento. O acesso à publicação é aberto, e pode ser feito por meio deste link. A página da Revista pode ser acessada aqui.