FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Conheça José Roberto Simões Moreira, novo professor titular da Poli-USP

Carreira Acadêmica

José Roberto Simões Moreira: Graduado (1983) e Mestre (1989) em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da USP, Doutor em Engenharia Mecânica pela Rensselaer Polytechnic Institute (1994). Pós-Doutorado em Engenharia Mecânica na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e Livre-Docente pela USP. Atualmente é Professor Titular da Escola Politécnica da USP e professor dos programas de pós-graduação em Engenharia Mecânica da EPUSP e de Energia do IEE-USP, consultor ad hoc de orgãos de fomento à pesquisa, foi secretário de comitê técnico da Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM). Tem experiência na área de Engenharia Térmica, atuando principalmente nos seguintes temas: mudança de fase líquido-vapor, uso e processamento de gás combustível, refrigeração por absorção, tubos de vórtices, energia solar, combustíveis solares, ciclos de absorção de calor e sistemas alternativos de transformação da energia. Tem atuado como revisor técnico de vários congressos, simpósios e revistas científicas nacionais e internacionais.

Já ministrou cursos de Termodinâmica, Transferência de Calor, Escoamento Compressível, Transitórios em Sistemas Termofluidos e Sistemas de Cogeração, Refrigeração, Fundamentos de Engenharia Solar, Fundamentos de Energias Renováveis e Uso da Energia e Máquinas e Processos de Conversão de Energia. Coordenou cursos de especialização e extensão (1) Refrigeração e Ar Condicionado, Cogeração e Refrigeração com Uso de Gás Natural, (2) Termelétricas, bem como vários cursos do PROMINP. Atualmente coordena um curso de especialização da USP intitulado Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética, desde 2011, em sua vigésima segunda edição. Tem participado de projetos de pesquisa de agências de fomento à pesquisa e diversas empresas. Possui três patentes. É autor de mais de 120 artigos técnico-científicos, além de ser autor de livros e capítulos: (1) Fundamentos e Aplicações da Psicometria – 2a ed. (2019) com o coautor A. Hernandez-Neto ; (2) autor de um capítulo do livro Thermal Power Plant Performance Analysis – coord. G. F. M. Souza (2012); (3) autor e coordenador do livro Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética – GEN -LTC – 2a. ed (2021) e (4) autor do livro Fundamentos de Transferência de Calor na Engenharia  – GEN-LTC (2022 – no prelo) com o coautor Eli W. Zavaleta-Aguilar. Já orientou cerca de 30 mestres e doutores, além de cerca de 50 trabalhos de conclusão de curso de graduação e diversas monografias de cursos de especialização e de extensão, bem como trabalhos de iniciação científica, totalizando um número superior a 100 trabalhos. Possui mais de 120 publicações, incluindo periódicos técnico-científicos nacionais e internacionais.

 

Foi membro do comitê de implantação do curso de Engenharia Nuclear na Escola Politécnica, o que resultou também na opção do bloco de Energia Nuclear. Atualmente, coordena o bloco de disciplinas optativas obrigatórias da EPUSP chamado de Energias Renováveis, E-Ren, um dos mais concorridos entre os alunos de toda a Poli, em parceria com o departamento de Energia e Automação Elétricas. Em órgãos de fora da universidade, entre outras atividades de organização de cursos e eventos e técnico-científicos, destaca-se que em 2001 organizou o comitê de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento da ABCM – Associação Brasileira de Eng. e Ciências Mecânicas, tendo sido o primeiro secretário do referido comitê e sendo membro desse comitê em gestões seguintes.  Em 2018 organizou a São Paulo School of Advanced Science on Renewable Energies, evento internacional patrocinado pela FAPESP com a presença de dezenas de alunos do mundo inteiro. Também participa ou participou de vários comitês organizadores de eventos, bem como, tem regularmente dado entrevistas a órgãos de imprensa falada e escrita sobre vários assuntos da sua área de atuação, mormente sobre Energias Renováveis.Finalmente, coordena o laboratório e grupo de pesquisa da EPUSP de nome SISEA – Lab. de Sistemas Energéticos Alternativos e Renováveis.

Entrevista

Ensino

Entrevistador: Qual a sua visão sobre o ensino em engenharia? Como utiliza sua
experiência, tanto na área de pesquisa como no contato com instituições
internacionais, para enriquecer a forma de ensino da Poli e contribuir para a
formação dos politécnicos?

Professor: O ensino da engenharia no país se mostra como um contínuo desafio devido ao exponencial crescimento do conhecimento e de novas técnicas e tecnologias que se apresentam rotineiramente não só no âmbito da engenharia em si, como também no ensino e nos meios de transmissão do conhecimento. Evidentemente, o conhecimento básico sempre se fará necessário, pois é preciso que o engenheiro tenha forte formação nas ciências básicas e fundamentais da Engenharia. Sou favorável a que a Poli passe a admitir os alunos ingressantes sem ainda especificar a modalidade e dar uma forte formação de, pelo menos, um ano de formação básica para que, a partir de então, os alunos possam optar por suas carreiras. Essa é uma experiência antiga da Poli que poderia se repetir. Acho, também, que poderia se ter uma maior flexibilização entre as modalidades, uma vez que a área de engenharia é muito dinâmica. A título de exemplo, cito a área de energias renováveis em que venho atuando desde 2010. Além dos conhecimentos fundamentais, são necessários conhecimentos de Enga. térmica, elétrica, automação, química, ambiental, materiais, civil e produção, além de noções de economia e investimentos, empreendedorismo, regulação do setor e jurídico. 

A Poli tem tido relativo sucesso na sua empreitada no cenário internacional em que nossos alunos têm a oportunidade de cursar parte do seu curso de engenharia em instituições estrangeiras, bem como também tem recebido alunos do exterior. Creio que esse tem sido um programa de sucesso e deve continuar. Essa internacionalização é salutar para nossos alunos e colocam a Poli em patamares de nível internacional com as melhores instituições mundiais. No nível de pesquisa, a Poli também é bem sucedida, haja visto os inúmeros acordos com instituições e grupos de pesquisas internacionais.

Pesquisa

Entrevistado: O senhor possui uma longa carreira e contribuições na pesquisa científica, quais considera suas principais contribuições para a sociedade brasileira e para comunidade científica? Como professora titular da Poli, qual sua visão e planos para as atividades de pesquisa?

Professor: Creio que nosso grupo tem tido diversas contribuições para a sociedade. No nível de pesquisa temos formado recursos humanos de elevado nível que hoje se tornaram multiplicadores do conhecimento em várias instituições acadêmicas, de pesquisa e do setor produtivo ao se tornarem docentes, pesquisadores e profissionais dessas instituições. O laboratório SISEA tem uma forte atuação no conhecimento de engenharia aplicado com a transferência de conhecimento nas áreas de cogeração, energia solar, refrigeração e ar condicionado e técnicas passivas de separação de gases com a presença de CO2.Não obstante, ainda vejo que há uma necessidade de mudança cultural-científica no país para que possamos interagir mais fortemente com o setor produtivo a fim de que a universidade possa de forma institucional contribuir mais ativamente para que o país possa avançar na inserção da economia mundial com soluções tecnológicas. Creio que o Brasil precisa manter sua base de fornecimento de commodities para o mundo, mas também precisa se lançar como uma base de desenvolvimento tecnológico, inclusive agregando valor às exportações. A universidade desempenha um papel essencial para alavancar o país em direção a esse novo cenário.

Como Professor Titular creio que se abre mais uma porta de oportunidades para liderar pesquisas na área de energias renováveis. Pretendo continuar a manter esforços nesse sentido de formação de RH em todos os níveis da graduação ao pós-doutoramento, passando pela extensão. Também, darei prosseguimento em pesquisas na área de energia solar concentrada, separação supersônica de gases e refrigeração não convencional. Paralelamente, tenho procurado sair dos muros da universidade por meio de palestras técnicas, entrevistas, publicação de  livros e publicações para o grande público.

Extensão

Entrevistador: A Poli possui várias atividades e grupos de extensão, como atua neste pilar da USP? Como você vê a contribuição direta da Poli com a sociedade?

Professor: Creio que uma das maiores contribuições que tenho tido  na área de extensão é a de coordenar o curso de especialização intitulado “Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética” junto ao PECE. Esse curso é o esforço conjunto de diversos professores e profissionais da Poli, do IEE, associações de classe e do setor produtivo. Têm sido formados ou estão em vias de formação cerca de 400 profissionais desde a primeira edição do curso em 2011 – hoje na sua 22a edição. A qualidade do curso tem sido uma constante e o rigor característico da nossa Poli têm atraído cada vez profissionais que buscam formação, atualização e conhecimentos específicos para atuarem na área de energias renováveis. O curso tem recebido profissionais de diversas áreas, incluindo profissionais de meia idade que se reciclaram e redirecionaram suas carreiras para se tornarem empreendedores no crescente mercado de energia solar. Empresas prestadoras de serviços na área de renováveis também foram criadas por nossos alunos que vislumbraram a oportunidade de mercado e de trabalho. Alguns gerentes de grandes empreendimentos de energia solar, eólica, biomassa e cogeração foram alunos no nosso curso. Trata-se, portanto, de uma grande contribuição para a sociedade a formação de profissionais altamente qualificados que passaram aqui pelos bancos da Poli. São contribuições intangíveis que podem não mostrar toda sua relevância em uma análise apenas superficial.

Visão de Liderança

Entrevistador: Como o senhor enxerga a “Universidade do Fulturo”? E como pretende contribuir para a Poli se tornar a Universidade que descreveu?

Professora: O futuro é sempre uma incógnita. Nesse sentido, a formação de profissionais deve ser ante-vista e estruturada com, pelo menos, 5 anos de antecedência, pois nosso aluno ingressante, só receberá sua formação completa passados os 5 anos na instituição. Eu creio que a “Universidade do Futuro” deverá incluir novas técnicas de ensino remoto e, eventualmente, auto-instrutivo. Porém, as aulas presenciais são e continuarão a ser relevantes para a formação qualificada e exitosa do aluno. As aulas presenciais permitem uma interação pessoal e de transferência de conhecimento que são a chave fundamental no processo de aprendizado. Creio que é importante inserir cada vez mais aulas de laboratório e práticas para reforçarem os conhecimentos fundamentais, para além da escrita de notas de aula, livros ou aulas expositivas teóricas apenas. O curso de engenharia deve ter estreita colaboração com o setor produtivo para dar apoio e suporte para resolver os problemas tecnológicos existentes a fim de contribuir com o desenvolvimento do país. Assim, deve-se buscar uma sinergia entre os diversos setores. Pesquisa de qualidade com foco em problemas reais devem sempre ser estimuladas.  Pretendo continuar a atuar dessa forma e reforçar essa visão de formação.

Entrevistador: Gostaria de acrescentar algo que não pontuamos na entrevista?

Professor: Quero expressar minha gratidão à instituição Escola Politécnica. Um sonho de um jovem de infância pobre e difícil que se realizou quando ingressei como aluno de graduação nesta respeitável instituição em 1979. Instituição que honra a todos os paulistas e ao país com seu secular ensino de engenharia de excelência. A entrada no corpo docente em 1986 e, agora, ao me tornar professor titular em 2019 resultam em uma coroação de realizações junto à nossa querida Poli. Agradeço ao Prof. Carlos Chien-Ching Tu, amigo e incentivador bem na fase inicial da minha carreira no final da década de 1980. Agradeço também à vários colegas que me marcaram no curso da minha carreira: profs. José  M. S. Jabardo (orientador mestrado), Marcos de Mattos Pimenta, Edison Gonçalves, Joseph Shepherd (orientador doutorado – Caltech), para citar alguns poucos. Agradeço também à minha querida esposa Maria e às minhas filhas Clarissa e Débora, sempre presentes e apoiadoras do  nosso trabalho. Finalmente, agradeço a Deus por me dar forças e motivação para continuar com nosso trabalho.

 
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