FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Especialistas debatem aspectos estruturais do racismo em evento

Debate organizado pela Poli-USP e Universidade Zumbi dos Palmares traz discussão sobre a relação entre racismo e educação, tecnologia, justiça e saúde

A Universidade Zumbi dos Palmares e a Escola Politécnica (Poli) da USP promovem, no próximo dia 21 de março, às 20h, o evento Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. Com palestras gratuitas de diversas personalidades da área de educação, tecnologia, justiça e saúde pública, o evento será completamente online. As inscrições podem ser feitas no link.

O dia 21 de março foi definido pela ONU como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, em referência ao massacre de 69 civis, além de mais de 186 feridos na cidade de Sheperville, Africa do Sul, pelas forças do apartheid. O evento marcou o recrudescimento da revolta mundial contra este sistema, e a data marca ainda a postura que a discriminação como um problema social (assim como a discriminação racial, de gênero, opção sexual, nacionalidade, e todos os tipos). “No caso da discriminação racial há também uma herança cultural de centenas de anos de escravidão direcionada especificamente contra os negros (a escravidão em geral é uma chaga que acompanha o próprio desenvolvimento da humanidade)”, detalha o professor da Poli, José Reinaldo Silva.

O evento pretende colocar em discussão os diferentes aspectos e facetas da discriminação: racismo e educação, racismo e tecnologia, racismo e justiça, e racismo e saúde. “Coloca assim em foco aspectos estruturais do racismo, que transcendem manifestações individuais – que obviamente também precisam ser coibidos”, explica o docente.

Link para o evento: https://www.poli.usp.br/evento/dia-internacional-de-luta-contra-a-discriminacao-racial-21-03

Programa do evento: https://www.poli.usp.br/wp-content/uploads/2022/03/Evento-21-de-março.pdf

Como definido pela ONU o racismo (bem como toda forma discriminação) é um problema social, não um problema dos negros. Basta lembrar que a discriminação de gênero, que afeta diretamente as mulheres, mudou de foco com a segunda guerra mundial pela necessidade das mulheres como força de trabalho no esforço de guerra. Ainda assim, não foi eliminada até hoje apesar dos avanços, e convivemos com uma taxa absurda de feminicídio. Assim como não basta coibir as agressões às mulheres, e sim melhorar a estrutura toda, desde as leis que protegem e coibem as agressões, a discriminação nos processos seletivos, no acesso a postos chaves, à ciëncia e tecnologia, é preciso uma discussão generalizada e estrutural sobre o racismo de forma estrutural. Os temas escolhidos são justamente os pilares da vida em sociedade: educação, tecnologia, justiça e saúde. A produção de riqueza está inserida em todos eles. O evento marca a discussão estrutural baseada nos pilares já descritos, mas avança também para o relacionamento entre eles, dado que na sociedade, educação, tecnologia, justiça e saúde não aparecem sozinhos, e sim integrados juntamente com a produção de recursos. Com isso, fica bastante claro o aspecto social e o impacto do racismo como fator de atraso e restrição da força social (mesmo em período de "não-guerra"). O que se coloca - e está no background dessa discussão - é o posicionamento da sociedade não só como arranjo existencial somente mas como estrutura de preservação da espécie, sem o que, ficará difícil enfrentar os problemas que temos hoje, desde os epidemiológicos até os políticos e geopolíticos. Aliás o racismo fica bem próximo da narrativa dos "laços étnicos" entre povos, justificando guerras e invasões, que acreditávamos ter deixado para trás.
José Reinaldo Silva
Professor da Poli-USP
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