FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Ganhadora do Prêmio Brasil de Engenharia, a pesquisa propõe

um novo modelo que mistura Kanban com sustentabilidade.

Algumas empresas nacionais afirmam que fazem o reaproveitamento de seus resíduos industriais, mas quase sempre isso é feito informalmente, sem uma política definida ou metodologia. Por essa razão, não se sabe com precisão o volume de resíduos gerados no processo produtivo, quanto disso pode ser reaproveitado e qual a economia que essa prática proporciona. A sistematização das informações sobre os resíduos, através da utilização do conceito de Kanban, é a proposta do trabalho “Eco-Kanban: Sistematização no Reaproveitamento dos Resíduos Industriais”, ganhador do Prêmio Brasil de Engenharia 2011 (categoria Resíduos Sólidos – Doutorado), cujos premiados foram divulgados em janeiro.

A autora é Miroslava Hamzagic, doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) e professora de graduação e pós-graduação da Universidade de Taubaté. O prêmio é um dos mais importantes do País e tem por objetivo estimular o pensamento científico e a inovação na produção tecnológica nacional.

Segundo a professora Miroslava, praticamente todos os esforços da indústria em termos de gestão e logística estão voltados somente para a produção, e muito pouco para o reaproveitamento dos resíduos, que muitas vezes se tornam um grande problema para a empresa e também ao meio ambiente. “O meu trabalho, que foi a minha tese de doutorado na Poli, mostra que, quando a informação da quantidade e da frequência de geração do resíduo é sistematizada, ou seja, é disponibilizada pela empresa de forma repetitiva e contínua, sendo parte integrante de todo o sistema de informação, outras empresas da cadeia produtiva não só reaproveitam este resíduo, como também providenciam adequadamente os recursos necessários para a realização deste fluxo de reaproveitamento. Isso traz enormes ganhos para a indústria, tanto econômicos, quanto de imagem, já que a empresa estará ajudando a preservar o meio ambiente”, afirma Miroslava.

 Foram cinco anos de pesquisas, que tiveram início em 2005. Doze empresas foram contatadas, mas apenas quatro concordaram em participar do trabalho, fornecendo as informações necessárias e testando a metodologia proposta. “Um grande obstáculo foi a crise financeira mundial em 2008/09, pois algumas companhias que haviam concordado em participar do estudo desistiram, já que houve demissões, cortes de custos e projetos cancelados”, diz Miroslava. As quatro empresas participantes estão localizadas no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, e fabricam, respectivamente, vidros planos, veículos, turbinas/reatores/motores e blend para fornos de cimento.

Depois de definidas as empresas participantes do estudo, o passo seguinte foi analisar o processo produtivo de cada uma e como era feito o reaproveitamento dos resíduos sólidos. Verificou-se que, naquela época, havia pouca iniciativa em reaproveitamento dos resíduos industriais. Algumas empresas, embora desejassem uma redução de custos no descarte desses resíduos, que iam para aterros sanitários, pouco se fazia a respeito. “As empresas, principalmente montadoras e fabricantes de autopeças, ainda não vislumbravam os ganhos que poderiam ter com esta prática. A logística reversa ainda era vista somente como a devolução de vasilhame, embalagens ou produtos acabados defeituosos”, comenta a pesquisadora.

Ela explica que o trabalho utilizou um conceito já sedimentado no meio industrial, como forma de facilitar o entendimento e a prática do modelo de reaproveitamento de resíduos: o Kanban. O modelo procura incentivar a reciclagem do resíduo produtivo, através da mensagem automática de “start” de uma nova produção que ele fornece. Por esse motivo o nome Eco-Kanban.

Como conclusão do trabalho, Miroslava afirma que em todas as quatro empresas que participaram do estudo os resultados foram positivos com a aplicação do Eco-Kanban. Em alguns casos, houve significativos ganhos financeiros com a diminuição no custo de matérias-primas, liberação de espaços nas áreas dos almoxarifados e diminuição da quantidade de resíduos dentro da empresa. “A sistematização da informação é fundamental para o planejamento do reaproveitamento do resíduo, pois quando a sua geração for inevitável, sua disposição precisará de todos os tipos de recursos para que a reciclagem seja feita adequadamente”, afirma a pesquisadora.

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