FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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De TCC à patente: Conheça a história de um trabalho de conclusão de curso de aluno da Poli-USP que foi patenteada

Ex-estudante da Poli, junto com professores, cria um sistema de circulação de ar em ambiente fechado e conquista patente

‘’Como aluno, a gente não sabe muito que existe essa possibilidade de ter o seu projeto patenteado, parece uma coisa muito distante’’, comenta Mário Sérgio Saraiva Cabral, engenheiro formado pela Poli e estudante de medicina.  Desde o início de sua graduação em Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da USP, Mário viu a Universidade como um lugar de oportunidades. Foi assim que decidiu fazer Iniciação Científica logo no segundo ano do curso, o que foi o início para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, posteriormente, a consolidação de sua invenção. 

Em agosto de 2022, uma carta de patente referente à invenção realizada foi expedida pelo Ministério da Economia do Governo, que garante aos inventores o direito de propriedade em todo território nacional.  O estudante, os professores Paulo Kaminski e Renato Vizioli criaram um sistema de circulação de ar em ambiente fechado, trazendo mais uma patente à Escola. Atualmente, a Poli é a unidade da USP com mais patentes. 

 ‘’Naquela época [logo quando entrei], eu não tinha tanto essa visão de inovação e ela surgiu realmente com o professor Kaminski, fazendo iniciação científica”. Mário conta que, durante a IC, expandiu seus horizontes para além da engenharia brasileira apenas de reprodução, ou seja, que importa o que é produzido em outros países e inova pouco internamente. O professor Paulo Kaminski, do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli, tem ao todo quatro patentes, e foi peça chave na motivação do trabalho do aluno na época.

 

Após se graduar, o recém-formado percebeu que gostaria de aplicar os conhecimentos técnicos de engenharia na área de medicina e saúde. Hoje, Mário está prestes a se tornar médico e foi até tema de matéria do G1 ao ficar em primeiro lugar no vestibular da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Com a ousada decisão de transição de carreira, seu anseio é alinhar dois campos importantes: a Engenharia e a Medicina. 

Método diferenciado 

Para desenvolver o sistema de ar em ambiente fechado, os três inventores utilizaram a abordagem do Design Thinking, temática que faz parte do doutorado do professor Renato Vizioli, do Programa de Educação Continuada (PECE) da Poli-USP. O docente explica que o Design Thinking é um método que pode ser aplicado em qualquer área.  Surgiu inicialmente no Design e, ao longo do tempo, outros campos foram incorporando. Trata-se de uma abordagem que inicialmente tenta estudar, entender e definir o problema. Depois disso, busca-se gerar inúmeras soluções com caminhos criativos, e chegar na melhor solução para a problemática. 

O problema identificado por eles foi a circulação de ar em ambiente fechado, e o TCC do Mario realizou uma pesquisa com um grupo de pessoas para entender o que elas compreendiam por conforto térmico e de ar. A partir disso, foram levantadas diversas possíveis soluções, até chegar no modelo final apresentado e patenteado. A invenção funciona de forma contrária ao fenômeno de convecção térmica natural, ou seja, capta o ar mais frio da base de instalação, o solo, e redireciona para o topo, proporcionando um refrescamento. 

Os inventores agora pensam na possibilidade da patente ser vendida para a indústria, de forma que o produto seja replicável, o que requer um profundo estudo de mercado. 

 

Patentes e proteção à propriedade intelectual

De acordo com o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, a patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, concedido pelo Estado aos autores. 

 ‘’Com a patente impedimos a concorrência desleal, ou seja, que um terceiro use indevidamente a invenção por um preço muito inferior, justamente por não ter feito investimentos como o inventor”, pontua Maria Aparecida de Souza, chefe técnica do setor de Propriedade Intelectual da Agência USP de Inovação (AUSPIN). 

A AUSPIN é o núcleo de inovação tecnológica da Universidade de São Paulo responsável por gerir a política de inovação, a fim de promover a utilização do conhecimento produzido na USP em prol do desenvolvimento socioeconômico sustentável do País. A Agência oferece apoio aos docentes, alunos e funcionários, efetuando todos os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, softwares, dentre outras modalidades de propriedade intelectual. A patente de Mário e dos dois professores foi concretizada com o auxílio da AUSPIN, que trabalhou em cada etapa. 

A advogada que trabalha na Agência, Nataly Sales Robeldo, acrescenta que as invenções colocam o Brasil em um patamar de maior competitividade e atratividade no âmbito internacional. 

‘’Com as patentes, também há a possibilidade de gerar recursos para incentivar novas pesquisas dentro da Universidade, alimentando um ciclo de tecnologia e inovação’’, esclarece Maria Aparecida, ‘’além de ser uma forma de divulgar o trabalho de nossos pesquisadores’’. 

Para ter uma patente, a invenção precisa atender à Lei de Propriedade Industrial, em que os requisitos são de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.  A patente também traz a possibilidade dos inventores licenciarem para uma empresa produzir e vender no mercado.

A chefe técnica finaliza dizendo que não basta a USP ser uma das maiores depositoras de patentes no cenário nacional, é preciso pensar em como levar as novas tecnologias para a sociedade, de forma que a beneficie. 

 O professor Vizioli destaca a responsabilidade dos professores e da AUSPIN de disseminar a cultura de inovação na Universidade,‘’pois o que não falta são estudantes com capacidade de inovar’’.

Propriedades intelectuais da USP e da Poli em números – Dados obtidos da Agência de Inovação da USP (AUSPIN)

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