FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Prof. Dr. Tharcisio Damy de Souza Santos – 1962-1968

Exercício: 1962 a 1968

Nascido em Campinas a 10 de dezembro de 1912, seus estudos secundários foram feitos no tradicional Ginásio do Estado “Culto à Ciência”, daquela cidade, o mais antigo dentre os estabelecimentos de ensino secundário do Governo do Estado de São Paulo. Concluiu em 1930 seu curso de seis anos de duração, com diploma de bacharel em Ciências e Letras. Em 1931 ingressou na Escola Politécnica, no antigo Curso Preliminar e recebeu em dezembro de 1936 o diploma de Engenheiro Civil.

Aluno da Escola, participou como quase todos seus colegas da Revolução Constitucionalista de 1932. Voluntário do Batalhão “Fernão Dias” foi chamado a servir nos serviços de guerra da Escola Politécnica, subordinado à Força Pública do Estado, nas atividades de fabricação de material bélico. Quase todos os professores da escola participaram ativamente dessas atividades, abrangendo também o trabalho no anterior laboratório de ensaios de materiais, na ocasião dirigido por Adriano Marchini que sofreu grave acidente na fabricação de granadas.

Participou também desse grupo de voluntários seu irmão, Marcello Damy de Souza Santos, que, em 1933, ingressou na Escola Politécnica e que em 1935, quando cursava o 3º ano do Curso de Engenheiros Eletricistas, transferiu-se para a recém criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, núcleo da Universidade de São Paulo, fundada a 25 de janeiro de 1934. Marcello diplomou-se em 1936 no curso de física. Fez brilhante carreira, passando depois pelas Universidades de Cambrige na Inglaterra e de Chicago. Na Faculdade, tornou-se Professor Catedrático em 1954 e mais recentemente, Professor Emérito da Universidade de São Paulo (Instituto de física) depois de ter sido professor da Universidade de Campinas e da Universidade Católica de São Paulo. Suas pesquisas sobre radiação cósmica levaram-no depois para o setor da energia nuclear. Sua carreira brilhante foi marcada pela sua contribuição na fundação do Instituto de Energia Atômica, hoje denominado Instituto de Pesquisas Enerféticas e Nucleares, e na Comissão Nacional de Energia Nuclear, da qual foi presidente.

Tharcisio em 1935, quando cursava o penúltimo ano da Politécnica, foi escolhido pelos seus colegas para seguir como ouvinte, cursos na Ecole Nationale des Ponts et Chaussées, em Paris, com bolsa da “Fundação Clineu Braga de Magalhães”, de alunos da escola, em homenagem a aquele aluno da escola que cursava o 3º ano, e morto em combate em agosto de 1932, na frente do rio das Almas, ao sul de Itapetininga. Esse estágio foi de grande proveito, visitando laboratórios e seguindo os cursos de engenharia de estruturas e que eram contemporâneos dos grandes desenvolvimentos em concreto armado pretensionado de Freyssinet e seus colaboradores.

Regressando e cursando o 6º ano (3º do curso de Engenheiros Civis), foi logo convidado pelos Professores Ary Torres e Telemaco Van Langendonck para ser assistente-aluno da seção de verificação de estruturas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Em fins de 1936 foram desenvolvidas novas atividades, voltadas para o desenvolvimento para o estabelecimento de um núcleo de Geologia e Patrografia, orientadas pelo Professor Luis Flores de Moraes Rego, de quem tinha sido aluno em 1934.

Dentre as lembranças da turma, rememora um de seus colegas mais estimados, Lucas Nogueira Garcez, que poucos anos depois conquistou a Cátedra de Hidráulica e Saneamento. Realizou carreira das mais brilhantes, sendo o formador do notável grupo de professores, na Escola e na Faculdade de Higiene, e Governador do Estado. Foi realizador do grande plano de construção de usinas hidroelétricas, e que depois se consolidou na constituição da Companhia de Centrais Hidroelétricas do Estado, CESP, incluindo as usinas do sistema do Rio Pardo, e em seguida as grandes usinas de Urubupungá e de Ilha Solteira, no rio Paraná, marcando uma época na história da engenhara nacional.

Voltando à lembrança dos grandes vultos da Escola Politécnica e que foram seus professores, recordou, dentre outros, os de Luiz Cintra do Prado, de Eduardo Ribeiro Costa, de Luiz Flores de Moraes Rego, de Oscar Machado de Almeida, de Mario Whately, de Gaspar Ricardo, de Carlos Alberto Vanzolini, e de Ary Torres e Adriano Marchini, no Instituto de Pesquisa Tecnológica, e igualmente Carlos Gomes de Souza Shalders, no Preliminar, um dos fundadores da Escola com Antonio Francisco de Paulo Souza, em 1894. (Santos, Maria Cecília Loschiavo dos – Entrevista com o professor Tharcisio Damy de Souza Santos, 1982).

O início das atividades em geologia no IPT, em fins de 1936, deveu-se à orientação e decisão dos grande professor que foi Luiz Flores de Moraes Rego. O grande surto de expansão de São Paulo já fazia prever para breve a necessidade de substituição dos predegulhos, existentes nas formações quaternárias ao longo dos vales dos rios Tietê e Pinheiros, em obras de concreto armado, por pedra britada das rochas graníticas da Serra da Cantareira, pela sua localização em face dos sistemas de transporte, incluindo a antiga Estrada de Ferro Cantareira, que fora construída para permitir a construção da série de barragens para o abastecimento de água à cidade.

Esses estudos contaram com a participação de jovens assistentes alunos da Escola Politécnica, e que depois se tornaram expoentes nos ramos de engenharia civil a que desde então se dedicaram, de Ernesto Pichler, de Fernando Flavio Marques de Almeida e de Milton Vargas, professor catedrático mais tarde que deram excepcional brilho às escolas de pesquisas que formaram. A monografia “Contribuição para o estudo dos granitos da Serra da Cantareira”, de Luiz Flores de Moraes Rego e Tharcisio Damy de Souza Santos Boletim n.º 18, 162 p. 1938 descreve a geologia dessa área da cidade de São Paulo e as propriedades tecnológicas dos granitos estudados. Outro trabalho de destaque foi o estudo da gênese, geologia e caracterização tecnológica das rochas com amianto crisotila, de Bom Jesus de Poções, Baía, descoberta poucos anos antes pelos esforços pioneiros do Professor Hypolito Gustavo Pujol Junior, antes Professor Catedrático, continuador do professor Paula Souza, e fundador do antigo Gabinete de Resistência dos Materiais da Escola. esse mineral, que ocorre nas fraturas das rochas ultrabasicas, possui propriedades que permitem a fabricação de fibrocimento, setor que tomou grande desenvolvimento no brasil, principalmente depois da descoberta e exploração da grande mina de Canabrava Goiás. Desse trabalho resultaram assim importantes empresas industriais, sendo o Brasil um dos principais produtores e exportadores desse mineral beneficiado, utilizado também em muitos outros setores da indústria.

Uma outra área iria ser aberta em seguida na IPT, e da qual, em curto espaço de tempo, trouxe apoio importante para o estabelecimento no domínio da engenharia metalúrgica.

Pela visão e capacidade de organização de Moraes Rego e de Eduardo Ribeiro Costa, fundou a Escola Politécnica o curso de engenheiros de minas e metalurgistas, com seis anos de duração de estudos, preenchendo um lacuna que já se fazia sentir, com o agravamento da situação mundial. Com a deflagração da guerra em 1º de outubro de 1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha, era previsível que toda a economia de desenvolvimento do país seriam gravemente afetados. Dentre muitas urgentes necessidades, a inexistência de produção de chumbo, essencial para a fabricação das baterias de caminhões e automóveis, foi motivado de importante iniciativa do Governo do Estado, através da Secretária da Agricultura, sob a direção do Engenheiro Mariano de Oliveira Wendell, com a colaboração de Moraes Rego Ribeiro Costa e Aníbal Alves Bastos, ao incumbir e contratar com o IPT, na ocasião dirigido por Adriano Marchini, o estudo, a construção e a operação deu uma usina experimental para o aproveitamento dos minérios de chumbo do vale do Rio Ribeira de Iguape, no extremo sudeste do Estado e áreas vizinhas no Paraná.

Tharcisio foi incumbido de acompanhar ensaios de beneficiamento de partidas de minérios de mais importantes jazidas da região, a serem realizados em laboratórios especializados nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo reunir dados para o projeto e construção de unidade que pudesse realizar aqueles objetivos.

Entre outubro de 38 e abril de 1939, estagiou em diversos laboratórios de firmas especializadas em tratamento de minérios e visitou todas as usinas de metalurgia e refino de chumbo, bem como as principais empresas especializadas na fabricação dos equipamentos necessários para toda essa sequencia de operações.

Com o valioso apoio do Dr. Adriano Marchini e colaboração direta e entusiástica de Fernando Jorge Larrabure e Francisco Maffei, ambos do IPT, e de Catulo Branco, da Inspetoria de Serviços Públicos da Secretária de Viação do Estado, na cinceoção e realização da pequena usina hidroelétrica do salto do rio Palmital, nas imediações de Apiaí e da estrada Apiaí-Iporanga, logo pode ser organizado o projeto e a construção da Usina Experimental contratada pelo Governo do Estado com o IPT.

Em fins de setembro de 1939 foram feitas todas encomendas de equipamentos. Rapidamente foram construídas todas as instalações necessárias, recebidos e transportados pela Sorocabana até Itapetininga, e transportados em caminhões até Apiaí e feita a montagem dos equipamentos.

A experiência ganha na montagem e em seguida principalmente na operação das unidades metalúrgicas e nas de beneficiamento dos minérios complexos por flotação deletiva, foram de grande valia para poder abordar, em seguida, os difíceis problemas do refino de chumbo bruto e do tratamento ulterior das crostas de desargentação. O emprego de carvão vegetal de alto teor de matéria volatil constituiu uma importante e decisiva etapa vencida no forno water jacket.

Interrompidos em outubro de 1942 as atividades a cargo do IPT em consequencia da criação da Coordenação da Mobilização Econômica com a entrada do Brasil na guerra ao lado dos aliados, os trabalhos de refino de chumbo e prata foram retomadas em 1949 já nas novas instalações da Divisão de Metalurgia do IPT na Cidade Universitária, inauguradas a 9 de julho desse ano, as primeiras unidades a funcionar nesse então novo campus da Universidade de São Paulo. De todo esse extenso trabalho, resultaram 55 publicações do IPT, trabalhos em sua grande maioria apresentados em congressos de metalurgia, principalmente da Associação Brasileira de Metais.

Convidado pelo Professor Luiz Cintra do Prado, então Diretor da Escola, e indicado pela Congregação, em outubro de 1943 passou a reger a cátedra de Metalurgia dos Metais Não-Ferrosos pelos conhecimentos e estudos realizados de metalurgia de chumbo e cobre, na primeira turma formada em engenharia de mina e metalurgia.

Acumulando com a chefia da Divisão de Metalurgia do IPT, e depois como chefe da Divisão de Metalurgia Nuclear do IEA-Instituto de Energia Atômica após curso e estagio no International Institute of Nuclear Science and Engineering, do Argonne National Laboratory nos Estados Unidos, exerceu de 1943 até 1982, poucos dias antes de se aposentar no limite de idade, o ensino de metalurgia dos metais não-ferrosos, na nova estrutura do curso de engenheiros metalurgistas, então separado do de engenharia de minas.

No Instituto de Energia Atômica, inicialmente por contrato com o IPT, contou com crescente número de especialistas no campo da metalurgia e cerâmica de urânio, visando a fabricação de elementos combustíveis para reatores de pesquisas. Nesse Instituto, até fevereiro de 1977, contou com a colaboração de numerosos engenheiros metalurgias, em sua quase totalidade formada por assistentes-alunos da Escola Politécnica. Esse extensa atividade de pesquisa experimental ficou documentada por dezenas de publicações, contribuições em congressos de metalurgia aqui e no exterior; dessas, 34 são de sua autoria ou tiveram sua participação.

Na Escola Politécnica, ao mesmo tempo que desenvolvia o Departamento de Engenharia Metalúrgica, que teve sua sede inaugurada em 1967, foi Diretor em dois mandatos sucessivos, de 14 de abril de 1962 a 14 de abril de 1968. antes haviam sido transferidos para a Cidade Universitária os cursos fundamentais, nos edifícios inaugurados por seu ilustre antecessor, professor Francisco João Maffei, de saudosa memória, que teve três mandatos sucessivos, em cuja administração foram solidamente preparadas bases para o ulterior crescimento da Escola, com sua transferência para a Cidade Universitária.

Em 1954 obteve o título de livre Docente, em concurso de títulos e provas com a tese “Um processo para a dezincagem de chumbo desargetado Parkes”, 172 p e em 1957 conquistou a cátedra de Metalurgia dos Metais Não-Ferrosos, no concurso público, com a tese “Um processo para os tratamentos de crostas Parkes” com 82 pag. Esses dois trabalhos experimentais foram baseados nas suas pesquisas no IPT e iniciados em Apiaí, de novas soluções dessas questões e que permitiam obter muitas dentenas de toneladas de chumbo refinado 99,997 % de pureza e elevadas recuperações de parte eletrolítica.

Uma das principais atividades que teve de realizar como Diretor foi o estabelecimento do novo regulamento da Escola, decorrente da modificação do Estatuto da Universidade de São Paulo na gestão do Reitor Antonio Barros de Ulhoa Cintra, e que antecedeu o mandato do Reitor Luiz Antonio da Gama e Silva. Esse importante trabalho foi preparado diretamente pela Congregação . Foram necessárias ao todo 33 sessões, iniciadas em 20 de novembro de 1967 e concluídas afinal, depois do transito pelo Conselho Universitário e Conselho Estadual de Educação em dezembro de 1964, e promulgado pelo Reitor Gama e Silva (Portaria nº130) em 8 de janeiro de 1965.

Esse nova estrutura assegurou índices dos mais elevados no rendimento e nos níveis de ensino. A expansão da Escola e sua transferência para a Cidade Universitária, que vinha sendo cuidadosamente preparada nas gestões do professor Francisco João Maffei, e o elevado número de concursos públicos para o preenchimento das cátedras, por candidatos que tivessem, além de doutorado, o título de Livre-Docente, trouxe real progresso na Escola, a qual, paralelamente ampliou consideravelmente o número de vagas para atingir as marcas atuais.

Como Diretor, teve a satisfação de presidir a Sessão Solene da Congregação comemorativa do centenário do professor Carlos Gomes de Souza Shalders, que, com Paulo Souza, foi um dos fundadores da Escola e que foi seu professor em 1931 quando ingressou no Curso Preliminar (Nakata, Vera Luci M., Torre, Silvia Regina S.D, e Lima, Igor Renato M. – Entrevista com o Professor Tharcisio D. de Souza Santos, 2003).

Em 1983 recebeu, juntamente com o ilustre Professor Rubens Guedes Jordão, em sessão solene da Congregação, o título de Professor Emérito.

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