FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

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Metodologia possibilita que os tomadores de decisão não deixem nada escapar na etapa de definição dos objetivos, o que resulta em ações mais rápidas e eficazes.

Em cenários de catástrofes, como enchentes, secas e terremotos, os modelos matemáticos são vitais na logística de socorro às vítimas. Na prática, porém, o que ocorre é que esses modelos nem sempre atendem aos objetivos dos tomadores de decisão uma vez que foram criados para cenários de catástrofes específicos. Tal distorção pode atrasar ou até comprometer o êxito de uma operação. Esta foi a conclusão de uma pesquisa feita pela engenheira civil Luísa Brandão Cavalcanti, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que agora propõe uma nova metodologia para atender melhor os objetivos de cada operação.

A pesquisadora analisou 25 casos de logística humanitária relatados em artigos científicos. “Constatei que há uma incompatibilidade entre os critérios de desempenho adotados nos modelos publicados e os objetivos perseguidos pelos tomadores de decisão na prática”, aponta ela. Além disso, ela percebeu que alguns modelos priorizavam custo em uma etapa que deveria ser focada na agilidade do atendimento às vítimas. “Para quem está à frente da operação, o custo só é prioritário depois que o atendimento às vítimas está bem controlado”, pondera.

Essa constatação fez com que a pesquisadora checasse os dados com alguém que vivenciou este problema na prática: um ex-oficial militar brasileiro, que trabalhou na operação de socorro às vítimas do terremoto do Haiti, em 2010. Com a ajuda desse ex-oficial e orientada pelo professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Poli, André Bergsten Mendes, ela passou então a desenhar uma metodologia que possibilitasse traçar uma estratégia com base nos objetivos da operação, de forma mais rápida e eficaz, e que pudesse ser aplicada em qualquer tipo de desastre.

A proposta de Luísa contempla estratégias em diversas esferas: como fazer a composição de carga (se um kit, um único tipo de carga por vez etc.); como escolher os destinos (se vai entregar toda a carga para as pessoas que estão perto primeiro, e depois para os que estão mais longe por exemplo); como serão alocados os veículos de transporte (por comboio, veículos isolados etc).

“Um tomador de decisão precisa definir se vai focar na rapidez, no tipo de carga, nas condições dos lugares que precisam do atendimento, se decidirá por destino, por fator político, que é algo comum nos casos em há grupos potencialmente violentos e que, se não tiverem suas demandas satisfeitas, podem até comprometer o êxito da operação”, exemplifica. “Então, essa metodologia não permite que ele deixe algo importante escapar do planejamento”, acrescenta.

A metodologia também leva em consideração aspectos políticos na disputa por recursos. Na maioria das grandes tragédias, várias organizações se envolvem no atendimento às vítimas, então é preciso ter uma organização coordenadora –nesses casos, quem assume o papel é o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). “As organizações competem entre si por financiamento, e isso tem consequências no trabalho em campo do atendimento às vítimas”, conta.

“Criar estratégias é algo que pode ser feito antes de um desastre, mas é um erro usar modelos matemáticos prontos, porque podem não ser condizentes com os objetivos da operação. Se não forem bem delimitados os objetivos, o modelo vai indicar soluções que não vão funcionar”, destaca. A expectativa de Luísa é que essa nova estratégia possa lastrear um modelo matemático ‘universal’, que seja transformado em um software de livre acesso. “Com estratégias mais acertadas poderemos socorrer mais rápido as vítimas e salvar mais vidas”, conclui.

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