FORMANDO ENGENHEIROS E LÍDERES

Cumprimentamos as autoridades que compõem a mesa desta sessão solene:

O Excelentíssimo Pró-Reitor Adjunto de Inovação da USP, 

Prof Raul Gonzalez Lima.

O Excelentíssimo Diretor da Escola Politécnica da USP, 

Prof. Reinaldo Giudici. 

O Excelentíssimo Vice-Diretor da Escola Politécnica da USP, 

Prof. Silvio Ikuyo Nabeta.

Na pessoa do Prof. Miguel Buelta, decano desta casa, cumprimentamos os colegas docentes da Escola Politécnica da USP e demais membros da Congregação. 

Na pessoa da Sra. Enaége Dalan Sant’Ana, cumprimentamos os servidores técnico-administrativos desta Escola. 

Na pessoa da Profa. Liedi Légi Bariani Bernucci, primeira mulher a dirigir nossa Escola, cumprimentamos, com carinho, aqueles que foram nossos mentores e orientadores nesta casa.

 Cumprimentamos nossos queridos alunos. 

Na presença materna da Sra Maria da Conceição Martha de Souza, e dos netinhos Fabio e Laura, cumprimentamos nossos amados amigos e familiares que nos prestigiam nesta noite. 

A todos aqui presentes e aos que assistem à distância, boa noite.

Com orgulho, representamos a turma de 19 titulares que é recebida pela Congregação nesta sessão solene. Para nós, é um dia de celebração; um dia de compartilhar orgulho, alegria e responsabilidade. Somos docentes comprometidos com a missão e a visão da nossa Escola e, assim, entendemos que nossas vocações, habilidades e experiências irão contribuir para a condução da maior Escola de Engenharia do país. 

O grande número e a pluralidade de habilitações, gênero e gerações certamente destacam esta turma de titulares. Contudo, não é difícil identificar elementos comuns que gostaríamos de ressaltar neste momento solene. 

O primeiro é a nossa convicção de que o desenvolvimento tecnológico e o crescimento econômico têm papel fundamental na qualidade de vida da sociedade. Os desafios para  a atual geração de engenheiros e engenheiras não são poucos nem pequenos. Ao mesmo tempo em que temos a compreensão de que apenas a tecnologia não é suficiente para resolver todos os problemas da humanidade, concordamos que fazer bom uso da tecnologia que desenvolvemos, certamente, ajudará a superar alguns desses desafios. 

O engenheiro é peça fundamental neste empreendimento. O engenheiro é, por natureza e excelência, o agente da transformação tecnológica. Citando o distinto engenheiro e professor Theodore von Kármán, “O cientista estuda o mundo como ele é. O engenheiro cria o mundo que nunca existiu”. “Criar o novo” é o que nos qualifica. O aspecto criativo, o conhecimento técnico e a atuação ética estão na essência do engenheiro e devem permear tudo o que fazemos e a maneira como ensinamos. 

Seja respondendo às grandes questões da engenharia frente a sociedade, seja inovando as práticas da educação para a nova geração de jovens que receberemos. O engenheiro deve, por respeito à sua vocação, “criar o novo”.

Obviamente, não basta criar qualquer novidade tecnológica. É preciso definir direção e sentido. O engenheiro deve ser agente da tecnologia para o bem comum. Enquanto suas habilidades e especialidades se definem internamente, seu papel se justifica externamente. O engenheiro transforma o mundo natural para um fim útil. Ele deve ser, essencialmente, altruísta, dando função, valor e sentido a algo que ainda não existia. 

Neste sentido, o engenheiro se aproxima do artífice. Imagine um escultor que recebe um bloco de mármore. A rocha bruta tem valor de rocha. Mas o escultor esculpe com cuidado o que já foi concebido em sua mente. Há propósito em cada entalhe. Ao terminar o trabalho, a rocha bruta toma forma de escultura. Sua ação transformadora atribuiu à rocha valor e sentido que antes ela não tinha. Como tirando o véu das potencialidades da rocha natural, algo novo e de valor foi criado. 

De modo semelhante, o engenheiro transforma o mundo natural, desvelando sentido que antes somente existia em potencial. A obra pode ser finalmente apreciada: é útil e agradável; tem valor e cumpre sua função. 

Essa é a essência do engenheiro que precisamos resgatar. Não apenas nesta Escola, mas, de forma ampla, na percepção que a sociedade tem da engenharia. O reconhecimento do papel transformador do engenheiro se inicia dentro da Escola. Habita na maneira como praticamos e ensinamos, mas se espalha portas afora até chegar no coração dos futuros engenheiros e engenheiras que assumirão seu papel criador na sociedade a partir das nossas salas de aula e laboratórios.

O Brasil precisa de engenheiros e engenheiras criativos tanto quanto precisa criar seu futuro. 

Mas qual tem sido nosso papel na formação dos engenheiros que almejamos? Ou, em outras palavras, há uma característica distintiva desta Escola Politécnica impressa nos milhares de jovens que passam por aqui todos os anos? 

Não basta sermos excelentes instrutores no ferramental técnico. A principal Escola de Engenharia do país tem a responsabilidade de produzir sementes que frutifiquem na sociedade, tornando-a melhor e menos desigual. Enquanto a função e a utilidade da Engenharia se diluem em várias esferas da sociedade, nós devemos zelar pela identidade que diferencia o Engenheiro Politécnico da Universidade de São Paulo. 

Ora, esta identidade não deve ser reduzida à quantidade de conteúdo técnico ou à dificuldade dos nossos exames. Um bom engenheiro requer dedicação, mas não se reduz, apenas, ao trabalho árduo. De fato, o engenheiro politécnico deve saber manejar bem as flechas que produz. Mas, antes do tiro certeiro, precisa identificar o alvo e estar convicto do motivo do disparo. O engenheiro politécnico precisa aprender e exercitar a reflexão crítica sobre a tecnologia que desenvolve. Não basta saber avaliar viabilidade técnica e econômica, o Politécnico deve ponderar o fim útil da tecnologia que cria, bem como o impacto que ela gera. 

Defendemos que a Escola de Engenharia seja o ambiente propício para esta formação. Construímos sobre a tradição e os fundamentos que sustentaram nossa Escola até aqui, mas olhamos para a modernidade e para o futuro. A universidade do amanhã é, ao mesmo tempo, um ambiente e uma comunidade. Como ambiente, deve ser o palco adequado para que as diversas cosmovisões da experiência humana se articulem de maneira respeitosa e produtiva[3] . Neste movimento, a Escola de Engenharia é mais que apenas a soma de suas áreas técnicas. Como comunidade, a universidade reúne pessoas das mais variadas histórias e habilidades para um esforço conjunto de preservar e gerar conhecimento para o bem comum.  

Nas ondas de desenvolvimento que vêm e vão em nosso país, cremos estar passando por um momento oportuno: uma boa maré de pesquisas e inovação. Precisamos navegá-la bem, fazendo bom uso dos ventos de recursos que sopram de várias direções. E, ao mesmo tempo, precisamos cuidar das nossas velas: do financiamento, do bom uso dos orçamentos, dos nossos fundos patrimoniais, e do bom relacionamento com as empresas privadas e públicas, para que estes bons ventos nos levem adiante rumo ao desconhecido.

Carregamos a credencial da Universidade de São Paulo, a principal universidade do nosso país. Carregamos a responsabilidade de formar os melhores engenheiros que vão construir nosso futuro. Portanto, nosso compromisso é para que esta Escola mantenha seu papel e voz ativa na sociedade. A Poli não é apenas espectadora, mas um agente ativo para a construção de uma nação.

Pela primeira vez em sua história, a Escola Politécnica abriu vagas em áreas que considera estratégicas para a engenharia brasileira. Essas vagas somaram-se a outras que seguiram o também importante trâmite usual de assegurar equilíbrio entre os departamentos. Ao seguir este procedimento, a Escola reconhece e indica para a sociedade quais as áreas técnicas que necessitam ser desenvolvidas ou fortalecidas na nossa Universidade, sem descuidar de importantes aspectos institucionais. Neste mesmo espírito, temos convicção de que, com nossa experiência e motivação, iremos contribuir como líderes, pesquisadores, professores e, sobretudo, engenheiros, para a manutenção do grau de excelência dessa Escola. 

Há, também, novos desafios humanos que se impõem ao nosso tempo. Dentre os mais relevantes para a nossa atuação, estão a mudança do perfil dos alunos, as novas maneiras de nos relacionarmos após a pandemia, e o hiato geracional na compreensão da mente dos jovens de hoje. Diante deles, somos todos tutores com a missão de desenvolver o potencial dos nossos alunos. A Escola deve resgatar essa essência do engenheiro em nossos ingressantes. Deve exaltar a qualidade dos nossos alunos, os que estão aqui e os que ainda virão, e não duvidar que sejam verdadeiros agentes transformadores. 

Ao mesmo tempo, a nossa Escola precisa abrir os ouvidos para a sociedade. E a sociedade, em suas mais variadas esferas, precisa ouvir a nossa voz. Não por orgulho ou pretensa modéstia, mas porque devemos desenvolver bem o papel social que a universidade nos credencia. Em um tempo em que as instituições têm perdido força e credibilidade, precisamos encontrar uma estratégia para recuperar a voz ativa nas políticas públicas que busquem o bem-comum. Estamos prontos para identificar os desafios e as vocações do nosso tempo e trabalhar para que nossa engenharia seja protagonista onde necessário, aqui e no mundo. 

A engenharia não é um fim em si mesma. Ela não existe para ser servida, mas serve à sociedade produzindo tecnologia para o seu progresso e manutenção . A engenharia tem um fim útil, rende frutos. O engenheiro politécnico que queremos tem domínio das ferramentas técnicas, mas também é tutorado, aqui na Escola, no desenvolvimento de virtudes. Dentro de nossas especialidades estamos prontos para dar nossa contribuição a este tronco do florescimento humano.

Somos 15 homens e 4 mulheres – que representam um aumento expressivo na Escola, mas ainda abaixo da média da USP na representação feminina – cada um com as ferramentas apropriadas ao desenvolvimento de suas atividades. Estamos prontos para cooperar com os demais colegas nesta condução e a somar esforços no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão da universidade. Prontos para fortalecer a identidade e a unidade orgânica desta casa. Mas reconhecemos, em uníssono, que fomos chamados como professores titulares para zelar pela essência, para dar direção e sentido a uma Escola de engenheiros que servem além da técnica. Como escultores, este é o sentido que queremos desvelar.

Agradecemos à Escola Politécnica e à Universidade de São Paulo pela confiança em nós depositada. Esperamos trazer ânimo renovado e frescor de ideias para esta Congregação. 

Agradecemos aos nossos colegas pelo companheirismo e mutualidade. “Onde não há conselho, fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito.” 

Agradecemos aos nossos alunos por caminharem conosco nesta jornada. Esperamos servir de inspiração em suas vidas para além da sala de aula, assim como nos lembramos de nossos professores do passado. 

E por fim, especialmente por serem mais importantes, agradecemos às nossas famílias pelo amor e suporte na carreira profissional. Nossos pais, nossos companheiros e nossos filhos compartilham do orgulho e da responsabilidade que hoje sentimos. Seu também é o sonho aqui realizado.

Obrigado